V. Francesca
Pensei que passar a manhã na casa dos meus pais seria boa ideia mas acabou por se mostrar precisamente o contrário. Pelos vistos a vergonha que passaram quando a cidade soube que eu tinha engravidado na adolescência é maior do que o amor que deviam sentir por mim. Já senti o que é ter uma vida, uma parte de nós a crescer dentro de mim e sei que não há sentimento maior que o amor que sentimos pelos nossos filhos. Pensei que com o tempo os meus pais acabariam por aceitar e até esquecer, que me teriam apoiado mas afinal a ideia de me enviar para longe não era para meu bem mas sim para bem deles. Fingir que não tinha acontecido nada. E pelo que me fizeram entender hoje parece que também não facilitaram a vida ao Colin que apesar disso conseguiu ter a carreira que sempre sonhou.
Decido ignorar todas as mensagens que ele me envia até que uma me parece importante e decido ceder, embora queira voltar a vê-lo tenho de me manter afastada mas não sem antes resolver este mal-entendido de traição. Começo a pensar que fomos vítimas de algum esquema naquela altura e conhecendo o Colin como conheço, impulsivo como é nunca me iria confrontar com isso para não ferir ainda mais o seu orgulho, mas devia pelo menos ter confiado em mim.
Tento contactar a Gina mas ela hoje está a ignorar-me por algum motivo, não me atende nem responde a nenhuma chamada ou mensagem. Compro qualquer coisa para comer no caminho para o parque onde fiquei de encontrar o Colin e espero que desta vez ele esteja no sítio que combinamos.
E quando lá chego vejo que está, não me abandonou como há dez anos atrás. Mas para minha aflição ele não está sozinho, a cena que presencio faz-me recear estar acordada e espero estar a sonhar uma vez mais. Colin está a correr atrás de uma bola quando uma pequena de cabelos loiros encaracolados passa por ele conseguindo fintá-lo e tirar-lhe a bola dos pés, mas assim que aqueles pequenos olhos azuis pousam sobre mim eis que começa a correr na minha direção e salta para os meus braços. É o abraço mais apertado que sinto em dias, e quando olho para o azul que contrasta com o moreno do cabelo de Colin sei que desta vez não estou a sonhar. A minha filha está nos meus braços, na minha terra natal a jogar futebol com o homem que mudou a minha vida.
Quando pouso a Carolina no chão vejo que Colin se aproxima de nós e começo a entrar em pânico como se fosse adolescente outra vez.
- Vem mamã vou apresentar-te o meu amigo.
- Carolina como é que o conheces?
- Toda a gente o conhece mãe! E é lindo de morrer admite lá.
- CAROLINA!
Estou a repreendê-la quando ele pára junto de nós.
- Francesca o quê que se passa aqui?
- Tu conheces mãe?
- Bolas. Carolina quem veio contigo?
Em resposta à minha pergunta sinto uma mão nas costas e quando me viro vejo que se trata de Simão que me cumprimenta com um beijo na testa e consigo ver o desconforto de Colin pelo canto do olho, estou a tentar evitar olhar para ele a todo custo mas é inevitável.
- Claro, imagino que seja o Simão e esta seja a tua família feliz.
- Colin deixa-me explicar tudo.
A resposta dele é um aceno de mão e eu preciso falar com ele eu quero eu tenho de falar mas ele precisa assentar as ideias neste momento e não há nada que eu possa fazer ou dizer.
- Foi um prazer Carolina, quando quiseres voltamos a jogar. Até breve.
- Adeus Colin.
Quando vejo a minha filha dar um abraço impulsivo a Colin não consigo conter uma lágrima que surge no canto do meu olho e viro a cara para que ninguém se aperceba e rezo para que tenha sido a tempo.
Vai embora e ficamos os três, e eu continuo sem saber o que aconteceu no liceu e o que ele queria falar comigo agora.
- Vai lá Francesca eu entretenho a Carolina.
- O quê?
- Vai.
Ai o meu amigo que ainda agora chegou e já me está a salvar e provavelmente já percebeu a história toda e nem vou precisar explicar nada quando voltar.
- COLIN!
- Volta Francesca.
- ESPERA!
- O que foi?
- Tenho de falar contigo Colin!
- Falar comigo enquanto a tua linda família espera?
- Não é nada disso!
- Então é o quê? Diz-me! O Simão é aquele que estava com a tua filha e tendo em conta que é pai dela está tudo explicado. E a miúda deve ter o quê oito ou nove anos? Não perdeste tempo quando fugiste depois de termos perdido um filho foste logo enfiar-te na cama do primeiro que apareceu!
Cuspidas estas palavras a minha reação é esbofeteá-lo. Eu sei que ele está magoado mas não posso permitir que me insulte e trate da forma que quer, já não sou uma adolescente.
- Não te admito que me fales dessa forma! Já não sou aquela miúda parva que estava apaixonada pela estrela de futebol e que o permitia a tudo!
- Pois não, já não és, aliás nunca foste!
- Estou farta de perder o meu tempo contigo Colin! Tu nunca me ouviste! Nunca me deixas falar e acabas sempre por me perder por causa desse teu temperamento!
- Queres saber que mais Francesca? Não podes perder o que nunca tiveste.
- Tu tinhas-me.
- Eu e mais quantos?
Desta vez é ele quem me esbofeteia mas com palavras que acabam por magoar mais do que os cinco dedos no rosto.
- MAMÃ!!!
Viro-me para a minha filha que me chama e quando volto a olhar já Colin está a afastar-se velozmente de mim. Abraço-a e neste momento é o único amor que quero sentir.
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Eterno Amor
RomanceColin e Francesca vivem um amor de adolescência, sofrem consequências de adolescentes. Separados por uma mentira durante anos vão voltar a reencontrar-se. Mas estarão eles dispostos a viver um amor adulto e deitar o passado para trás das c...