Eterno Amor

IV

- Francesca estás bem querida? – o Sr. Gonçalves era sempre muito querido com Francesca.

- Só um enjoo matinal suponho, posso fazer a minha pausa agora?

- Podes claro, toma o tempo que precisares.

- Francesca não podes continuar aqui! – João estava realmente com ar furioso.

- Tenho de continuar, é o único jeito de não ser enviada para a Suíça.

- Não entendo a ideia de te fazerem trabalhar nesse estado.

- Gina, são os meus pais não querem que as pessoas saibam porque saí da escola se pensarem que saí pra trabalhar melhor, e continuam a dizer que é para me ensinar o valor do trabalho.

- Tens de lhe contar Francesca! – Aquela conversa raramente era assunto entre eles, e até agora Tiago sempre tinha ficado calado em relação a isso o que deixou todos em pânico e virados para ele.

- Tiago...

- Francesca ele está perdido, tu já viste bem o que ele anda a fazer da vida dele, anda em festas atrás de festas, metido com a Penelope por amor de deus acho que ele não podia descer mais baixo.

- Tiago! Pára de falar como se a culpa fosse dela.

- Não é isso Gina, tu sabes que não é isso Francesca, só põe-te no meu lugar tu és minha amiga ele é meu irmão, imagina como me sinto de não poder ajudar nenhum dos dois?

- Não posso Tiago, não posso dizer nada ao teu irmão e tu também não podes.

- Isso não é meu segredo pra dizer mas ele devia...

- Promete Tiago, promete-me que não vais dizer ao teu irmão, promete que não vais dizer ao teu irmão que estou à espera de um filho dele.

E Tiago prometeu, não conseguiu recusar o pedido da amiga que estava desfeita em lágrimas, o irmão estava perdido mas não estava pior que ela e no fundo ele é que a tinha deixado sem ter explicado nada até à data.

§

Colin chegou a casa e assim que entrou na sala sentiu-se a pior pessoa da face da terra ao encarar o olhar crítico do irmão.

- Achas normal o que andas a fazer?

- Disseste-lhe o mesmo a ela?

- Ela está no seu local de trabalho, querer ser comido em público vai para outro lugar.

- Eu gosto do Cantinho.

- Estás a ser tão idiota, fechado no teu mundo que não és capaz de perceber o que se passa debaixo do teu nariz.

- Estás a falar do quê? – o irmão não respondeu – Tiago? Estás a falar do quê?

- Estou a falar do facto de teres deixado uma boa rapariga que realmente gostava de ti sem dares uma justificação ou um aviso também seria bom para andares aí com a Penelope, a Penelope Colin?

- Eu gosto da Penelope, ela sim só tem olhos pra mim.

- Se achas que sim continua. Não me venhas perguntar porque acabaste de perder o que perdeste.

- Estás a falar do quê?

- Não é a mim que deves perguntar isso.

- Então onde está a tua amiguinha?

- A trabalhar claro.

- Sim mas suponho que durma como toda a gente.

- Sim dorme.

- Diz de uma vez a que horas sai ou preciso perguntar tudo.

- Depende.

- Depende de quê Tiago?

- De como ou com quem lá vais.

- Vou sozinho, vou resolver isto de uma vez por todas.

- Finalmente o meu irmão está de volta, ela sai às 19h por isso tens de te despachar.

E saiu antes mesmo que Tiago pudesse acabar a frase. Faltavam cinco minutos para as 19h e Colin não entrou na lanchonete preferindo assim esperar por Francesca à porta. Cada abertura da porta era um falso aviso de que ela estava a sair e cada falso aviso fazia o seu corpo todo tremer e o coração bater cada vez mais forte. Mas cada falso aviso acabou por ser o aviso certo e assim que Francesca colocou um pé de fora da lanchonete Colin precipitou-se para mais perto dela, ela quando o viu sentiu o corpo gelar por completo, não queria supor que ele estava ali para ela mas estava demasiado óbvio que era esse o caso. Ela voltou a movimentar as pernas e estava decidida a passar por ele como se este não existisse mas como se tivesse adivinhado os pensamentos da rapariga Colin precipitou-se para junto dela.

- Precisamos falar Francesca.

- Precisamos?

- Não achas? – Colin começava a sentir-se confuso, e toda a coragem que acumulou enquanto a esperava estava a pouco e pouco a deixar o seu corpo.

- Acho que não temos nada para falar.

- Temos que falar de nós.

- Nós? Nós andamos no mesmo liceu durante dois anos, uma tarde estragaste os meus desenhos no parque, no outro dia disseste que estavas apaixonado por mim, numa noite de outono fizemos amor, dois dias depois deixaste-me ficar quatro horas à tua espera debaixo de uma árvore, e 48 horas depois disso fizeste como se eu não existisse amarrado à Penelope. Achas que resumi bem a definição de nós ou queres que descreva melhor? – Os olhos dela queimavam mas não de desejo ou amor, queimavam sim de mágoa, ele apercebia-se de que realmente tinha magoado esta rapariga, mas continuava a achar que ela o tivera magoado antes. – Bem me pareceu. – Ela preparava-se para virar costas e ir embora quando ele finalmente teve coragem de movimentar a boca e falar.

- Não! Não resumiste bem. Nós andamos no mesmo liceu durante dois anos, uma tarde salvei os teus desenhos no parque, no outro dia disseste que tinhas medo de te apaixonar por mim, numa noite de outono entregaste-te a mim, dois dias depois andavas a entregar-te a outros, e nesse momento sim partiste o meu coração. Achas que resumi bem a definição de nós ou queres que descreva melhor? – embora ele tenha dito mais do que uma frase a única que se repetia vezes sem conta na mente de Francesca era "entregar-te a outros" mas quem é que ele se julgava para trata-la dessa forma, uma fúria dominou-a e a única resposta que conseguiu dar foi um punho fechado bem no olho esquerdo de Colin que o fez recuar de dois passos e agarrar o olho com as duas mãos. Ela virou costas e continuou a andar e disse para si mesma que estava na altura de esquecer Colin e ele nunca saberia que tinha sido pai de um filho dela, ia aproveitar a noite de sábado para sair com os amigos e segunda-feira dizia aos pais que aceitava a casa e os cuidados na Suíça, queria ir para bem longe de Colin.

Colin estava furioso e jurara que nunca mais iria correr atrás de Francesca, nem atrás de mulher alguma, nenhuma valia a pena, ele tinha-se dado a ela como a ninguém e quando tentava resolver as coisas ela nem se dava ao trabalho de responder, nem negou andar com outros, só esse pensamento deixava Colin arrepiado.

- Colin o que te aconteceu?

- A tua amiguinha aconteceu. – Tiago começou a rir agarrado à boca tentando disfarçar mas quando viu o olhar sofrido do irmão decidiu que devia ser um irmão antes de ser um amigo mas sem nunca quebrar a promessa que tinha feito a Francesca.

- O que foi que tu lhe disseste?

- E porquê que tenho de ter dito alguma coisa?

- Porque ela não te ia bater sem motivo Colin.

- Resumi os nossos dias, que nos conhecemos, apaixonamo-nos, ela trocou-me por outros e eu fiquei destroçado.

- Tu o quê? O quê? Ela andou com outros?

- Ai nem comeces a defender já a tua donzela e deixa-me ir para o meu quarto.

- Colin volta aqui!

Colin não voltou e Tiago nunca soube o que ele queria dizer com "andou com outros" mas decerto era um grande mal-entendido mas o irmão era tão teimoso quanto Francesca, e não adiantava tentar resolver o assunto hoje.