Capítulo 8

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Julho, 2016 NY

A saudade da minha família começou a apertar e, segundo as minhas teorias, isso havia acontecido devido aos dias solitários que eu estava vivendo.

-Você quer voltar? - perguntou Fernando pelo Skype.

-Não... - respondi enquanto limpava as lágrimas que escorriam.

-Você está de TPM?

-Você é um inútil! - respondi com raiva.

-Ei, é sério! Isso influencia, sou acadêmico em Medicina, esqueceu?

-Rum...

-E aí? - perguntou esperando uma resposta.

-Talvez.

-Pois é! Eu nunca te vi chorando, ainda mais por saudade.

-Mas eu estou falando sério! Deveria ter vindo só dia quinze, mas sou impulsiva!

-E não é por isso que tem que ficar assim.

-Você não está entendendo, eu estou só! Faz uma semana que não vejo ninguém, exceto o porteiro quando desço para ver a rua, o que é inútil! - disse entre soluços.

Ele passou um tempo em silêncio e disse:

-Em seus dezessete anos, eu nunca te vi chorar tanto.

-Você não pode contar para minha mãe. - disse limpando as lágrimas.

-Oh, e qual o seu plano? - perguntou ironicamente.

-Aguentarei firme até o início das aulas e quando tiver que desabafar e chorar, te ligarei por aqui.

Ele revirou os olhos e me perguntou, numa clara tentativa de distração, como havia sido o passeio, se eu havia conhecido alguém e blá, blá, blá.

-Tenho que desligar, mas saiba que me parte o coração te deixar assim. - falou ele.

-Não deixe o seu coração partir por mim, vá atrás da Rafa.

-A Rafa está brava comigo. - contou sobre sua mamorada.

-Por isso.

-Tchau encosto.

Mostrei a língua e fechei a tela do pc. Fazia mais ou menos duas horas que eu falava com ele e a noite já havia caído. Fui até uma das janelas do meu apartamento e fiquei observando o céu e o movimento nas ruas por um tempo, até me pegar cochilando e ir para a cama.

No outro dia uma dor de cabeça insuportável me acordou.

-Saco. - resmunguei enquanto pegava uma aspirina. -Grande dia catorze. - disse de forma irônica quando parei em frente ao calendário.

Desde que sai de casa pela última vez, havia parado de contar os dias. No começo eu ficava assistindo série, lendo sobre vários assuntos, etc, depois tudo começou a ficar sem graça e fui me dando conta da saudade que sentia da minha família, dos meus amigos, do meu quarto... Mas claro, tudo isso se agravou com a TPM.

Resolvi que voltar a dormir seria o melhor, afinal, planos para mais tarde eu não tinha.

Fiquei enfiada nos lençóis até três e meia da tarde e passei o resto do dia fuçando no computador.

No fim da noite tornei a falar com meu irmão e depois com minha família. Meus pais não perceberam a minha tristeza e quando terminei de conversar com eles, meu irmão tornou a falar comigo.

-E aí?

-E aí o quê?

-Como você está?

-Normal.

Welcome to New York - [ Projeto 1989 ]Onde histórias criam vida. Descubra agora