Capítulo 15

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Não bastam as mais de dez horas de voo. Tenho que lidar com as quatro horas de diferença, o que sempre me deixa rabugenta, já que quero dormir cedo e ninguém permite. Ninguém, refiro-me Castillo, Mirela e o pessoal que cuida da casa durante minha ausência, que trabalham ali desde o dia em que meu pai a adquiriu. O bom da França é que eu sempre me sinto em casa, mesmo não tendo ninguém aqui que se importa comigo. Benjamin quase não me deixava vir; além de ter passado a noite comigo, indo embora por volta da meia noite, ele apareceu para tomarmos café da manhã, como prometera, e ainda me acompanhou até o aeroporto. Como fiquei na sala de espera VIP, namoramos um pouco e eu quase perco o voo por causa dele.

Estou sentada no chão do meu closet walk in, fitando todas as roupas nos cabides, quando o vestido que usei para o Centenário ganha toda a minha atenção. Ele está no fim do corredor, em destaque, num manequim. Meus olhos marejam e só então eu percebo o quanto estou cansada. Deito-me, fechando os olhos e deixando as lágrimas escorrerem livremente, com saudades da minha mãe, do meu pai e da vida que eu tinha antes de cada um deles partirem.

Amanhã, bem cedo, o pessoal da imprensa estará aqui, para exibir cada peça para leilão, todavia, eu sequer separei uma. Eu apenas cheguei aqui, cumprimentei o pessoal e subi de imediato. Castillo deve estar em algum hotel por aí, resolvendo as últimas pendências para a compra da vinícola Barot com o Hall; eu até quis que eles ficassem por aqui, porém, preferiram fazer como sempre. Teimosos. Depois reclamam de mim.

— Elena?

Eu abro os olhos e inclino a cabeça para trás até que eu veja Mirela e sua expressão tomada pela preocupação.

Oui.

— Não vai comer nada?

Eu olho o teto abobadado, com um lustre luxuoso de cristal centralizado ali. Eu tenho pena de quem o limpa.

— Não sinto fome, Mi.

— Castillo disse que você não comeu durante a viagem inteira.

— Depois eu faço um sanduíche. Vá dormir.

— Sabe que temos que separar as roupas para o leilão.

Seco as lágrimas e me sento, sem saber quanto tempo passei chorando. Saio dali, indo ao meu banheiro, lavar o rosto. Seco-o com uma toalha e volto, encontrando Mirela ainda recostada contra a soleira da entrada. Deslizo a porta de vidro da parte dos vestidos de gala e a luz interior se acende.

Pego o primeiro, deixando-o sobre a ilha, passando para o segundo. Da última vez que estive aqui, quando lancei o Duet e o Normandie para o Centenário, fui a vários eventos, mesmo que só tenha passado um mês. Pego cada roupa que utilizei, deixo sobre a ilha, enquanto Mirela as arruma.

Sigo para o outro corredor, acendendo a luz do lustre e encontrando meus calçados. A maioria, Christian Louboutin, claro, mas eu não poderia deixar de lado a marca Aperlai, que mesmo sendo recente, tem cada modelo de tirar o fôlego, Jimmi Choo, Sergio Rossi, além de alguns modelos totalmente exclusivos. Felizmente, eu mandei refazer esse corredor, assim, meus calçados ficam expostos de cima a abaixo e os que estão no topo e eu preciso, ligo a "roda gigante", como o designer gosta de chamar.

Pego alguns deles, deixando sobre o banco central. Do mesmo jeito que deslizo a porta de vidro, ela acende as luzes de cada prateleira, fazendo com que meus calçados sejam vistos como as verdadeiras obras-primas que são.

No terceiro e último corredor, eu encontro minhas bolsas. Eu não consigo decidir qual dos três corredores eu amo mais. Estão organizadas por ordem alfabética de marcas. Eu vou até as YSL, tão lindas e delicadas. Eu afago o vidro da porta, suspirando de amores. Tem coisa mais linda e amada por mulher do que bolsa? Sim. Sapatos. Analiso cada uma, pensando seriamente se vou mandar alguma para o leilão.

Encontro de SeduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora