Capítulo 5 - Silêncio

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*James P.O.V*

Eu não cheguei a vê-la depois que a Pastora a levou para dentro. Eu sabia que era provável que eu nunca mais fosse vê-la novamente, e certamente não para conversar. Ela, provavelmente, tinha sido avisada sobre mim.

Eu não culpo a Pastora, eu também não iria querer que um cara como eu conversasse com minha filha.

Eu a ouvi dando partida no carro. Eu teria reconhecido o som do motor em qualquer lugar -Pontiac Firebird- um dos últimos desse modelo. Era um carro muito legal. Eu tinha passado vários minutos verificando-o quando cheguei essa manhã. Era um tipo de carro que uma mulher qualquer não gostaria de dirigir. A maioria por aqui gostava dos carros japoneses compactos, que economizavam combustível.

Mas não essa mulher. Ela era diferente.

Achei que ela estava indo para seu trabalho no restaurante/lanchonete. Agora que eu sabia que ela realmente não sabia quem eu era, me questionei ainda mais para entender o motivo dela ter me seguido com o café. Ela disse que eu era bonito. Talvez ela tivesse flertado comigo, e eu fui burro demais para perceber? Bem, isso não aconteceria de novo, não depois de sua agradável conversa com sua mãe.

Eu tentei colocar todos os pensamentos sobre a filha da Pastora para fora da minha cabeça e me concentrar no quintal.

Eu terminei o gramado, em seguida, olhava para o que precisava ser feito. Era uma longa lista.

Comecei a trabalhar na parte de trás do quintal, cortando as amoras e rosas que vinham de outra propriedade. Eu realmente precisava usar luvas em trabalhos como esse, uma vez que ambas minhas mãos e braços estavam sendo cortados. Mas eu não me importava, era bom sentir a dor.

Na prisão, um monte de caras se cortavam. Ninguém falava muito sobre isso, mas todos sabemos. Eu acho que aliviava um pouco dos sentimentos reprimidos. Eu pensei em tentar isso uma vez, mas a raiva e a culpa era tudo que eu tinha, então se eu perdesse esses sentimentos, eu não teria mais nada. Isso era um pouco assustador.

Quando cheguei ao final da minha sentença -minha segunda sentença- eu fui atribuído para procurar emprego -como trabalhar no jardim da prisão. Era bom estar fora, trabalhando com sol nas minhas costas. Quero dizer, éramos autorizados a pegar sol na prisão, mas realmente trabalhando, fazendo algo. Me sentia mais significante.

Imaginei que a Pastora não trabalhava muito em seu jardim porque o lugar estava quase uma floresta. Me perguntei a quanto tempo ela estava morando aqui. Com certeza não tinha nenhuma mulher Pastora quando eu era mais novo, então eu percebi que talvez três ou quatro anos -tempo o suficiente para que as pessoas prestassem atenção nela, e recente o suficiente para que ela ainda fosse uma estranha.

Eu trabalhei até que o sol estivesse ficando mais baixo e uma brisa estivesse esfriando o suor na minha pele. Então arrumei minhas coisas e voltei para casa. Papai e mamãe tinham saído, então eu tomei banho, comi a minha comida em uma cozinha em silêncio, e dormi em uma cama em silêncio. Eu não pude nem ouvir meus pais conversando um com o outro quando eles chegaram.

Você conhece a frase 'o silêncio é ensurdecedor'? Soa como bosta de cavalo, certo? Mas na prisão nunca ficou silêncio, sempre haviam pessoas gritando e portas batendo, e mil e um barulhos diferentes ecoando nas paredes. Mesmo à noite, você ouvia as pessoas gemendo e chorando -todos os pesadelos de 2 mil detentos eram combinados.

Mas aqui à noite -sem som. Ninguém falava, ninguém gritava. A menos que fosse eu, e eu não estivesse ciente. Eu perguntei para minha mãe se eu podia dormir na sala para poder ver TV na primeira noite. Meu pai respondeu que era um desperdício de energia elétrica. Foram três noites até que eu conseguisse dormir mais do que duas horas. Eu ficava acordado, esforçando-me para ouvir os pequenos sons da casa que faziam durante a noite. Nós estávamos muito longe da estrada para ouvir um carro. Era só silêncio.

Sonhei com Thony novamente. Ele estava rindo de mim, e apontando para algo na estrada, apenas alguns segundos antes da batida. Eu vi tudo acontecer em câmera-lenta. A maneira como seu pescoço estalou, a forma como o vidro se espalhou em uma chuva de estilhaços quando seu corpo voou através do para-brisa, o olhar de surpresa fixo em seus olhos mortos.

Eu acordei num pulo, tremendo e suando. Três horas da manhã novamente. Eu sabia que não seria capaz de voltar a dormir, então eu fui para a garagem para me exercitar.

Quatro horas mais tarde, eu saí de casa e fiz meu caminho até a casa da Pastora.

Eu estava suando, cortando alguns galhos e amontoando-os em uma pilha, quando ouvi sua voz: -Ei, cowboy!

Virei-me e vi a linda filha da pastora, sentada na varanda, assim como ontem, segurando uma caneca de café para mim.

Seu sorriso desapareceu quando cheguei mais perto, e eu imaginei ser efeito da conversa que ela teve com sua mãe.

-O que diabos você pensa que está fazendo? -Perguntou ela, com raiva.

Eu congelei. O que ela estava fazendo? Olhei para trás, depois para ela novamente. Suas mandíbulas estavam apertadas, transformando seus lábios carnudos em uma linha fina e branca. Que tipo de jogo ela estava jogando? Ela iria agir como se eu estivesse a atacando ou algo assim? Somente o pensamento fez minha bile subir até a garganta, e eu tive dificuldade de engolir. -Senhora, eu...

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