Camila Pov
El Paso, Texas - 2014
Com a decisão da distribuição da vacina muitas famílias latinas no Texas enfrentaram o governo, e declararam que prefeririam morrer a negar o mais sublime de todos os sentimentos. Porém a polícia texana não foi misericordiosa.
Afastada do centro da cidade, ficava um pequeno condomínio de casas simples e uniformizadas. Na residência de número 13 moravam Sinu, Alejandro e eu, Camila Cabello. Sempre pensei que minha família fosse feliz, e resolvíamos nossas frustrações e tristezas com música. O espírito na casa costumava ser leve, mas não o era hoje.
Eu estava aprendendo uma nova música no violão sentada no divã e olhava pela janela, as cores pareciam mais vivas hoje, como se dessem o máximo de si, como se soubessem que logo perderiam sua beleza e importância para a maioria das pessoas.
Meu estômago reclamou de fome e decidi preparar um sanduíche pra mim, desci a tempo de escutar sobre o que meus pais conversavam:
- Ale, Camila não merece morar num mundo em que não exista amor. Olhe para ela, ela emana vida e calor! Tenho certeza que a vacina não será eficaz e terão que eliminá-la. E eu NÃO vou perder minha filha, Ale, eu não vou!
- Não vamos. Eu tenho um plano. Mudaremos para NYC onde toda a população já foi tratada, falsificaremos a marca e poderemos viver como sempre o fizemos. Precisaremos aprender a ser frios e a calcular cada um de nossos movimentos, ser puramente racionais, ao menos teremos que ser assim na frente das pessoas. Não vamos perder o que temos, mi amor. Eu prometo.
Na teoria, tudo parecia simples.
Meu pai falaria com Juan, que falsificaria os documentos e marcaria a pele de cada um de nós. Honestamente, não entendi qual foi o embasamento da OMS para erradicar o amor, afinal é ele que rege o planeta! Sem amor não haveria progresso e seríamos como robôs, limitados.
O que eu mais pensava era em como eu esconderia quem sou de verdade. Meus pais sempre me disseram que eu era impulsiva e intensa, eu negava, mas sempre soube que eles tinham razão.
Sempre fui muito sensível, sempre fui ou 8 ou 80, ou vai ou racha.
Queria mudar e evoluir sempre, até que chegasse num estado de espírito em que não houvesse como me abalar entende?! Eu com todo meu poder, mente e força acreditava no amor.
Era uma romântica incorrigível, daquelas que lê romance após romance, daquelas que fantasia de olhos abertos um amor de conto de fadas. Para mim o amor era... Inesquecível. Uma vez sentido, fazia uma marca irreversível na sua alma, algo impossível de ser apagado.
Não preciso dizer que minhas fantasias e esperanças de encontrar o amor da minha vida, haviam sido reduzidas a quase 0,001% já que haviam desenvolvido algo capaz de parar o amor, mas eu me prendia aquele 1% e tinha completa certeza de que teria minha chance.
Ao chegarmos a NYC, meus pais com rapidez encontraram uma casa num subúrbio e tive que me passar por maior de idade, já que apenas os maiores de 18 anos recebiam a vacina. Meus pais me ensinaram de casa e nunca tive a formatura como eu sempre sonhei em ter, nunca tive a experiência de passar pelo "fim" de uma grande fase da vida.
Com sorte, logo que cheguei consegui um emprego na Biblioteca da NYC Girls Academy, e lá trabalhava com eficiência apesar de achar sempre tudo muito monótono e descolorido. Descobri que deveria me manter sempre quieta e o menos notável possível, pois alguém com a marca normalmente não passava mais de dois anos sozinho, logo lhe era designado um parceiro para que houvesse reprodução e déssemos continuidade a raça "humana".
Ao passar do tempo, fui perdendo a esperança de ser feliz e de viver a minha vida de "princesa da Disney". Tinha enfiado na minha cabeça que era assim que minha vida iria ser para sempre, morta e sem cores.
Em uma noite gelada no final de Novembro, decidi fazer hora extra e andando sozinha pela livraria, achei a seção restrita. Era bloqueada por uma porta de mogno de mais ou menos 5 metros de altura e 5 de comprimento. Parecia pesada e impossível de arrombar, mas decidi que entraria lá depois que todos os clientes fossem embora.Esperei que desse 21:00 e logo após todos saírem e eu trancar a Biblioteca, corri até a grande porta e pensei em como iria abri-la. Como um inspiração divina, lembrei que o Sr. Smith, o responsável pela biblioteca, guardava um grande molho de chaves na primeira gaveta da mesa de seu escritório. Fui até sua sala que estava, surpreendentemente, aberta. Peguei o molho de chaves, voltei correndo até a porta e demorei em torno de 10 minutos até achar a chave certa.
Ao adentrar o recém descoberto cômodo da biblioteca a primeira coisa que vi foi uma frase que nunca havia visto antes, escritas em letras garrafais, esculpidas na madeira: " O amor nada mais é do que um delírio, nos fazendo acreditar que o impossível é possível". Ao entrar mais na sala achei de grandes clássicos do romance como Romeu e Julieta, E o vento levou e O morro do ventos uivantes até A Culpa é das Estrelas, Diário de Uma Paixão e Como eu Era Antes de Você.
Fiquei fascinada com a quantidade de livros que tinham ali! Em todas as línguas, formas e tamanhos imagináveis. Decidi que traria novamente aquela fé que tinha no amor, então peguei "emprestado" meu primeiro livro na seção restrita, e assim o fiz, todos os meses por 1 ano e meio. Achei que ler aquelas estórias me traria consolo, mas muito pelo contrário, me trouxe frustração e irritação. Se o amor era tão bom e tão lindo, por que bani-lo? Por que nos privar daquele sentimento indescritível?
Quando eu me encontrei a beira do precipício, pronta para desistir da ideia de amar, o destino esbarrou em mim, e ele tinha belos olhos verdes.
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Inolvidable
FanfictionApós o que quase se tornou a III Guerra Mundial, cientistas por todo mundo procuravam uma solução para o constante conflito da raça humana. E encontraram. Em uma sociedade reorganizada e estruturada de forma que o amor se tornou um sentimento proib...