Traição

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-Oi filha. Tudo bem? - Meu pai perguntou ao atender a ligação que eu fiz ignorando a opinião da Glenda.

-Oi. - Tempero a garganta antes de prosseguir. -Mais ou menos e com você?

-Também. Eu sei exatamente o que você quer saber. - Ouvi sua respiração pesada. - Eu passei a noite em um hotel e não quero falar sobre isso por telefone, nós podemos marcar de sair depois?

-Claro. Hoje no almoço pode ser?

-Pode sim.  Te pego em casa daqui a meia hora. Ah e filha não se esquece que você tem fotos para fazer. Eu tinha me esquecido de avisar.  Suas amigas vão?

-Sim.  Já falei com elas e estão animadas. - Menti, na verdade havia me esquecido completamente.

-Tá bom, querida. Vai se arrumar. Tchau.

-Tchau.

Ao desligar a ligação fiquei deitada no sofá esperando, ainda estou arrumada da escola e não estou afim de me arrumar novamente. Meu celular tocou de novo e pensei que fosse meu pai,  mas a foto na tela diz o contrário.

-Oie. - Disse nervosa para Théo.

-Oi. Tudo bem? Bom,  eu estava passando aqui na sua rua,  então pensei que poderíamos nos ver.

-Daqui a meia hora meu pai vem me buscar,  então temos esse tempo.

-Claro. Já estou quase na sua casa.

-A porta está aberta. - Sorri mesmo ele não podendo ver.

-Okay. - Desligamos a ligação.

Ai Senhor! Como assim ele vem aqui? Ah se eu morrer não corro o risco de passar vergonha, ótima solução! Socorroooooo!

-Olá. - Uma voz meio grossa me tirou do meu "ataque do coração"

-Oi, Théo. Senta aqui. - Falei apontando para meu lado. Ele se sentou e ficou me olhando e eu olhando para ele. No começo foi estranho, mas depois senti um arrepio percorrer meu corpo e acabei sorrindo para disfarçar esse fato.

-Tudo bem? - Ele perguntou.

-Sim e você?

-Huhum. Aconteceu alguma coisa? - Théo pergunta e sinto uma vontade imensa de desabafar com ele.

-Na real sim.

-Se quiser pode me contar. - Ele diz simpático.

-Tá bom. - Disse me sentando melhor no sofá. - Meus pais estão meio estranhos e minha melhor amiga também. Estou confusa e por isso vou almoçar com meu pai hoje, não sei o que pensar. - Bufei passando a mão pelo cabeço.

-Estranhos como?

-Não o vejo há quase dois dias e isso me mata. Toda vez que pergunto algo minha mãe me da respostas vagas de que não quer tocar no assunto e eu apenas respeito.

-Pode ser que ela ache melhor você não saber.

-Mas eu tenho esse direito!- Após eu terminar de falar ele pega na minha mão.

-Eu sei que você tem. Vai ficar tudo bem. - Dou um meio sorriso e o Théo me surpreende ao me abraçar. Só então que percebi que estava precisando disso, estava precisando tirar esse peso de mim e dar espaço ao peso que vou ganhar hoje ao conversar com meu pai. Esse abraço é tão reconfortante que não quero largá-lo, o perfume dele e toque de sua pele na minha me fazem querer sentir isso sempre e por um momento eu esqueço que temos que nos separar.
Quando vamos desfazer o abraço eu não sei o que acontece, mas estamos nos beijando de novo. Desta vez é um beijo desesperado, como se há muito tempo os dois quisessem isso. Ao se afastar estamos sem ar e nos olhamos de um modo diferente. Queria beijar ele novamente, mas um toque vindo da porta me lembra que tenho compromisso hoje.

-Deve ser meu pai. - Digo mudando o humor. Sinto ansiedade, saudade, medo e preocupação ao mesmo tempo.

-Hey! Vai ficar tudo bem. - Ele acaricia meu rosto. - Qualquer coisa, quero dizer qualquer coisa mesmo pode me ligar. - Outro toque e desta vez meu pai me chama, aviso que já vou.

-Obrigada por estar aqui e me ouvir. - Eu digo e vejo que ele vai falar algo, antes que eu o abrace novamente e deposito um beijo rápido em seu rosto.
Me levanto indo até a porta e Théo vai comigo.

-Oi, senhor. - Théo diz ao meu pai.

-Olá. - Ele responde sem olhar diretamente para ele.

-Bom vou indo. Tenham uma boa tarde. - Ele diz antes de ir.

-O que ele estava fazendo aqui? - Meu pai pergunta quando Théo vira a rua.

-Ele é meu amigo.

-Disso eu já não tenho tanta certeza.

-O senhor veio para brigar ou conversar? - Digo nervosa e ele bufa.

-Desculpa, filha. - Ele me abraça- Senti falta de você.

-Eu também.

Vamos até o carro, onde meu pai liga a rádio e está passando Let me love you do Justin, a música é dançante e por isso fico cantando baixo e balançando a cabeça. Meu pai me olha e sorri, então volta a olhar para a estrada.
Ao pararmos em frente o Mc donald's meu estomago rosna.
Peço um lanche grande e meu pai também.

-Como vai a escola?

-Bem. Apesar de nunca ser tão legal. - Ele sorri. - E seu trabalho?

-Uma loucura completa, tudo bem corrido.

-Nossa!

-É sempre assim quando chega perto de lançar campanha.

-Eu sei, mas você ama isso, não é?

-Muito.

Nosso pedido chega e comemos em silêncio.

-O que aconteceu? - Pergunto por fim. Ele não reponde rápido e penso que não vai responder.

-Eu errei e sua mãe está certa em não querer me perdoar. - Fico calada sem entender nada, então ele continua. - Eu contratei outra secretaria para me ajudar e quem passou na entrevista foi a Julia Roberts.

-A mãe da Glenda?

-Sim. Sua mãe não gostou muito da ideia, ela disse que apesar da Gle ser um amor a mãe não era. Eu devia ter acreditado e não brigado por isso.

-A senhora Roberts realmente não é o melhor exemplo. Mas por isso que vocês brigaram?

-Não. No outro dia eu e sua mãe ainda não estávamos nos falando. Eu entrei no escritório e tranquei a porta porque não queria ser incomodado, então quando me virei Julia estava lá, nua em minha mesa. - Ele só precisou dizer isso para que eu entendesse, ele traiu minha mãe com ela, com a mãe da minha melhor amiga. Não pude contar as lágrimas de raiva. - Eu sei que deveria ter pedido para ela sair, mas não o fiz e quando me dei conta estava beijando ela. No meio do beijo me lembrei de sua mãe e afastei aquela mulher. Mandei ela passar no Rh e esquecer aquilo. Naquele dia sua mãe me procurou pedindo desculpas dizendo que estava errada e eu só a perdoei, mas quem errou fui eu. À noite não consegui dormir vendo ela me abraçar e pensando no que fiz. Então contei para ela.

-Isso é demais para mim. - Digo entre as lágrimas me levantando.
Antes de sair olhei para trás e meu pai estava de cabeça baixa.

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