Make me cry

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Entrei no parque e fiquei balançando no balanço, sentindo a brisa do vento secar minhas lágrimas. Meu celular vibrou, era ele, novamente. Théo não parou de ligar e não estou nem um pouco afim de falar com ele agora. Desligo o celular e guardo na bolsa. Ouço um barulho de chaves na bolsa e quando vejo é a chave da provável futura casa do papai. Limpo o rosto, respiro fundo e penso.

"Não quero voltar para casa e ter que explicar o que houve, não posso ficar aqui no parque, logo logo o Théo pode vim pensar no seu lugar preferido. Sei que pode parecer invasão, mas a casa vai ser minha! Não tem problema ficar lá!  

~...~

Chegando lá me certifiquei que estava vazia, depois que confirmei fui para um dos quartos e deitei. Coloquei minha playlist da bad no spotify, quando fui fazer isso vi a foto do Théo no meu papel de parede e desabei a chorar novamente.

Porque Théo? Porque estragar tudo que estava perfeito? Se passou um dia, UM DIA. Que estávamos juntos de verdade e você já fode tudo! 

No meio dos meus pensamentos meu celular tocou novamente, atendi de vez.

-O QUE VOCÊ QUER? - Gritei furiosa.

-Não sou o Théo. - Era uma voz feminina.

-Não acredito que ele colocou a vadiasinha pra falar comigo. Que baixo! - Falo com a maior frieza.

-Vou esquecer que me xingou e falar o que preciso. O Théo não me queria, nunca quis. Eu que beijei ele e ele já estava me empurrando. Não termina com ele, porque ele não fez nada. A vadia, como você fala, fui eu. Peço desculpas por isso, estou extremamente envergonhada, nem gosto de garotos, acho que só fiz isso porque estava meio grog.

-Foda-se. Você pensa que sou trouxa pra cair nessa? Pois não sou. Manda o Théo se foder e você vai pro inferno.

-Caramba! Você não é mole não ein. - Ela resmunga.

-Corrigindo, não sou trouxa.

-Olha, eu não te conheço e nem vou ficar me esforçando para te convencer disso, só quero que você pense melhor e confie no seu namorado. Vocês não se conhecem a muito tempo, mas acho que ele já provou que te ama.

-Quem ama não traí. - Ataquei.

-Porra! ELE NÃO TE TRAIU. Quer que eu soletre? 

-Vai te catar. - Desliguei o celular.

Levantei e fui até a varanda, olhar para aquela piscina e aquela vista me acalmava um pouco. Me deu vontade de ir nadar para esfriar a cabeça, pena que não tenho biquíni aqui. Talvez tenha no closet, fui até lá. Tem algumas peças de roupas da moda passada, bem passada mesmo. Mas nenhum biquíni. Então achei um short bem curto, que deve servir e um top, que é até bonito. Vesti e desci para a piscina. Testei a água e está em temperatura ambiente, por conta do clima. Coloquei uma música e mergulhei.

Ali, naquelas águas senti como se não fosse mais a Fernanda. Como se meus pais não estivessem se separado por que um traiu o outro. Como se meu namorado não tivesse me traído. Como se minha amiga não estivesse grávida. Como se eu fosse uma pessoa leve novamente. Então me lembrei de mergulhar nas mesmas águas uma vez.


-Nossa como essa piscina é gostosa.- Pensou Gaby. - Viveria nessa casa tranquilamente e até esqueceria que vou para um lixo de casa. - A garota se desanimou. - Ainda bem que ainda tenho o Gus ao meu lado. Quer dizer, se ele voltar a falar comigo, já que fui uma vaca grossa com ele. Porque sou assim? Porque faço essas merdas comigo mesma? Então, depois preciso ficar "consertando" isso e me drogando pra esquecer. Porque diabos ainda me drogo? Essas merdas me fazem mal, mas me fazem tão bem. - A garota enfrentava uma disputa entre o certo e o errado, mas na sua idade o errado sempre será o certo.

Naquele mesmo dia, ao chegar em casa ela entrou no seu mundo sem volta, até não se sentir tão ruim com ela mesma e cair no sono de tanta tontura.  


Me levantei da piscina até sentir o ar entrar de volta ao meu pulmão. Sim, eu estava sufocando, o que é estranho, já que nado muito bem. Saí da piscina e sentei na borda, depois me deitei e olhei para o céu. Será que isso que vejo aconteceu? Já ouvi falar de casos de pessoas médiuns, mas nunca acreditei, será que sou assim? Quer dizer, não é possível essas memórias aparecerem assim de repente sem nenhuma explicação. Sei que não é como aqueles momentos em que você sente que já viveu aquilo, quando na verdade são associações de pequenas partes de momentos realmente vividos por você. Não me lembro de exatamente nada do que vejo, e o pior é que não consigo ver o rosto dessa Gaby, mas a garota que sempre está com ela tem uma grande semelhança com a Malu, mãe do Théo. E se essa Gaby for a amiga dela que morreu não lembro aonde? O único jeito de saber é pesquisar no tio Google.  Anoto essa tarefa mentalmente para fazer depois, já que meus olhos estão pesando de sono.

Subo as escadas, me troco, coloco o celular para despertar cedo, já que não quero correr o risco da atual dona da casa vir por um acaso e me encontrar aqui como uma invasora e por fim vou dormir.

Meus sonhos me levam a ver a Gaby novamente, mas no meio do sono o Théo aparece. Ele está de costas em um penhasco, toco no seu ombro, ele me olha e uma lágrima escorre pelo seu rosto perfeito, então ele afasta a minha mão e cai. Eu grito e acordo sem ar, ainda chorando. Quando me acalmo vejo a hora e descubro que acordei 10 minutos mais cedo que meu despertador, por isso me levanto. Arrumo o que baguncei e chamo um uber para me levar de volta para casa.

Ao chegar encontro minha mãe estirada no sofá, entro sem fazer barulho e vou até meu quarto. Quando abro a porta dou de cara com o Théo. O avalio e noto que não dormiu, pelas olheiras que teimam em aparecer bem fracas no seu rosto pálido, seus olhos estão um pouco vermelhos, o que pode indicar que chorou um pouco e sua boca levemente aberta como se fosse falar algo, mas não encontra as palavras.

-O que faz aqui? - Eu pergunto quebrando o silencio.

-Er. - Ele gagueja um pouco e limpa a garganta antes de conseguir falar. - Eu não podia te deixar acreditar que fiz aquilo. Vim aqui para conversar com você.

-Mas eu não quero falar com você. - Ataco e vou para minha cama, onde sento tirando as sapatilhas para colocar chinelos e largo minha bolsa no chão.

-Fernanda, me deixa explicar. - Ele pede.

-Não precisa. Já sei exatamente o que vai dizer.

-Não, você não sabe.

-Não foi minha culpa, ela me beijou, eu nem retribuí. Me perdoa eu gosto de você. - Falo o que acho que será o discurso dele. - Mas quem trai uma vez, trai duas, três e assim por diante. Não sou trouxa e não vou cair nessa novamente. 

-Não sou o Bread, Fernanda. - Ele diz ao entender que era do Bread que eu falava. Sim, ele me traiu várias vezes e ainda assim namoramos tanto tempo. Como fui trouxa! - Minha prima nem gosta de homens! Faz um tempo que conversamos sobre isso, mas ela não sabia se gostava de homens, pois nunca ficou com um. E enquanto conversamos ela foi e me beijou. Eu não gostei, quando você entrou eu estava prestes a afastar ela, foi o que fiz logo em seguida. Ela é meio doida, Fer. Eu juro que não sabia que ela ia tentar aquilo. Mas agora não sei o que fazer. Eu nunca te trairia. Caramba eu gosto muito de você, tanto que dói. - Ele desabafa e eu fico em silêncio por um tempo.

-Não sei o que dizer. - Desabafo.

-Diz que me perdoa e vamos seguir em frente.

-Eu preciso pensar, Théo.

-Você não confia em mim? - Ele pergunta ofendido e tão baixo que sai como um mero sussurro.

-Não é isso, Théo. Por favor me entenda e me da um tempo para pensar sobre tudo isso. - Suspiro.

-O tempo que você quiser. Só pensa bem, por favor. - Ele passa a mão nos cabelos. - Eu morro sem você, Fer. - Ele diz e sai do quarto.

"E você nem sabe como EU fico, Théo." Penso.

Desabo a chorar novamente, quando ouço uma batida na porta.

-Vai embora. - Falo.

-Sou eu filha. - Minha mãe diz. Limpo o rosto e ela entra. Senta ao meu lado e me analisa um pouco, depois me abraça forte e me deixa chorar.


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