CAPÍTULO 5 - Quase enlouquecendo

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Me recuso a acreditar que tudo o que passei nesses últimos três dias foi real. Devo estar enlouquecendo. Estou enlouquecendo. No trajeto para casa, resolvo pesquisar no Google que doença teria uma pessoa que vê coisas. Entro em um link atrás do outro, e o resultado não é dos melhores: esquizofrenia. Leio mais um pouco, mas em seguida descarto a suspeita. A lista de sintomas também inclui mania de perseguição e pensamentos paranoicos. Eu ainda mantenho minhas faculdades mentais intactas. Ou pelo menos acho.

Se não é isso, então qual outra explicação para minhas visões? Será que deveria chamar um exorcista?

Estranhamente, Catarina não menciona mais joia alguma, mas pego-a me observando enquanto estou ocupada com as tarefas da noite. Isso dispara um alerta no fundo de minha mente, porém decido ignorá-lo. Tenho que me acalmar. Preciso.

Quando finalmente tenho tempo para mim mesma, tento estudar alguma coisa para a prova de final de ano. Não consigo. Esgotada, deslizo para debaixo de meu edredom, e logo sou enviada para o mundo dos sonhos.

Um par de olhos cristalinos encontra os meus. Eles brilham à luz trêmula de velas. Ouço o som de risadas e música ecoando de algum lugar. Ondas de euforia percorrem meu corpo. Estou alegre. Estou sorrindo. Sinto como se um imã me puxasse em direção ao estranho parado à minha frente. Ele está diferente de quando o vi na livraria. Ele ainda veste roupas escuras, mas estas são diferentes. Lhe conferem um ar solene. Parecem ser de uma outra época.

— Está deslumbrante esta noite — ele diz, estendendo a mão.

Aceito sua mão estendida e, quando me dou conta, estamos descendo uma larga escadaria de mármore. Meus pés estão calçando sapatos que brilham como cristais. Aliás, estou toda brilhando. Meu vestido bordado reflete a luz das chamas em todas as nuances de prata e ouro. Ao contrário do que parece, tanto ele quanto meus sapatos são confortáveis e macios. Me sinto andando sobre almofadas.

Chegamos ao centro de um salão enquanto homens e mulheres com trajes coloridos abrem espaço. Estão nos esperando. Em algum lugar, um grupo de músicos toca o que parecem ser violinos. E deslizamos pelo lugar, numa dança tão graciosa quanto a de pássaros dando piruetas no céu. Conheço todos os seus passos, como se a tivesse dançado por muito tempo. Por um momento, não ouço mais a música que nos embala. Os pares à nossa volta congelam em pleno movimento. As mãos do rapaz puxam minha cintura para mais perto. Sinto sua respiração. Ele sussurra:

— Procuro por você há muito tempo, Alteza.

Há um fogo por trás de seus olhos. Tão forte quanto a luz dos candelabros ao nosso redor. Eles traçam o caminho até minha boca. O calor se intensifica. Em nenhum momento, penso em me afastar.

E então mais perto, mais perto...

Sinto uma dor súbita na cabeça. Abro os olhos e dou de cara com Catarina, trajando seu hobby de seda preta e armada com um cabo de vassoura. Se estou tendo alucinações, essa com certeza não é uma delas.

— Levanta, sua preguiçosa. Hora de trabalhar.

Ainda estou zonza por causa do sonho, então levo mais tempo que o habitual para reagir. Olho para o despertador ao lado da cama. Três horas da manhã.

— Catarina, por favor! Ainda é de madrugada.

— Que peninha de você — ela ironiza. — A mobília precisa ser polida antes da escola. Anda logo.

— Mas a Jose já...

— Não me interessa se a Jose já fez ou não. Você vai fazer o que eu mandei. Quero os móveis brilhando quando eu acordar.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora