CAPÍTULO 16 - Sapatinhos de cristal

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Me aproximo dele e me sento no lugar abaixo da janela, olhando na mesma direção que ele. Rumpel ainda continua em pé, sem dizer nada. Examino seu rosto, e o sorriso arrogante de antes não está mais lá. Os olhos dele parecem fitar algo mais distante que o céu, as írises parecendo vidro à luz ambiente. Suas sobrancelhas escuras estão reunidas em um cenho franzido, mas é difícil decifrar o que ele sente. Pode ser tristeza. Vergonha. Talvez culpa.

— Foi por isso que decidiu me ajudar? Por se sentir na obrigação de terminar o que você acha ter começado?

Ele me encara.

— Se eu não fizer isso, vou ter que viver como um Rumpelstilzchen pra sempre.

— Não entendi, quer dizer que tem outros Rumpelstilzchens? — Me viro de costas para a janela e me recosto nela, já que agora as asas de meu vestido desapareceram completamente.

— Aquele anão que você viu no sonho foi o Rumpelstilzchen anterior. Ele me roubou quando eu ainda era um bebê. Então transferiu sua magia pra mim pra se livrar da maldição. Eu seria um sem-magia comum se não fosse isso.

Arrumo a saia de meu vestido e passo as mãos em torno de meus joelhos, fitando-o.

— E... sua maldição é ter os poderes de um Rumpelstilzchen?

— Sim, mas ter esses poderes não é uma coisa legal como você está pensando.

— Por que não? — instigo-o a continuar, curiosa.

— Porque sou praticamente um escravo. — Ele se senta ao meu lado. — Meu destino é fazer coisas para os outros em troca de ouro eternamente. E não faço só porque eu quero, como algumas fadas fazem. Um julgamento errado, e posso acabar servindo a alguém como Catarina de novo. Você com certeza sabe como é ter que servir a gente ruim e egoísta.

Abro a boca para falar, mas Rumpel continua:

— E antes que me pergunte, não sei de onde vem a maldição. Ela apenas foi passada pra mim. Meu destino é cruel, fada.

— Eu não sabia — tento me desculpar.

Rumpel dá de ombros.

— Não se preocupe. Poucos sabem.

— E não precisa se culpar pelo que aconteceu. Você era só uma criança. Catarina é a verdadeira culpada. — Suspiro, apoiando o queixo sobre os joelhos. — De qualquer maneira, se acredita ter parte na morte de meus pais, eu perdoo você.

Ele ri, incrédulo.

— Até pouco tempo atrás você me olhava como se eu fosse uma cobra venenosa. E agora você quer me perdoar, tão rápido assim? Só porque te mostrei uma memória?

— Eu já perdoei Clarisse várias vezes, mesmo ela me tratando do jeito que me trata. Por que não perdoaria você, que nem sabia o que estava fazendo?

Rumpel se inclina em minha direção e toca meu braço, olhando nos meus olhos.

— Você pode desperdiçar sua compaixão com ela à vontade, mas não precisa fazer o mesmo por mim. Não precisa baixar a guarda pro primeiro encantado que aparece só porque viu uma coisa triste sobre ele.

Franzo a testa, intrigada.

— Não era você que tava reclamando por que não te deixei falar na primeira vez? Que papo é esse de não baixar a guarda? Não falei que confio plenamente em você ou algo do tipo. Eu só não te culpo pelo que aconteceu com meus pais.

— Esse assunto é diferente. Temos uma inimiga em comum. Minha libertação depende de resolver as coisas entre a gente. É só uma aliança, Sophia.

Bufo. Se ele quer me convencer a não sentir empatia por ele, está conseguindo.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora