CAPÍTULO 12 - Carruagens de abóbora

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Azul empertiga as asas ao ouvir o nome.

— Sophia, não! O que pensa que está fazendo?

— Precisamos da ajuda de um ser mágico pra continuar a minha sina, Azul.

— Está louca? Eu não estava falando de Rumpelstilzchen. Por acaso você não conhece a história dele?

— É claro que conheço — digo. Li essa história uma vez. Uma moça tinha um pai tão mentiroso a ponto de dizer que a filha era capaz de fiar palha em ouro. Depois de obrigada a fiar palha para o rei sob pena de morte, um anão apareceu para ela oferecendo-se para realizar a tarefa em troca de um colar de ouro. Rumpelstilzchen apareceu de novo mais duas vezes, cada vez pedindo um presente diferente. Na terceira vez, porém, a jovem não tinha nada para dar, e foi convencida a dar o filho que teria no futuro. O último acordo só seria revogado se ela descobrisse seu nome, e foi assim que ela conseguiu se safar depois de arrependida.

Sento-me outra vez abaixo da janela, deixando o cartão sobre a mesinha, ao lado do livro onde Azul está sentada.

— Azul, lembra daquele cara de quem eu falei, que apareceu na estação? Aquele que a primeira letra do nome começa com R? Acho que ele é o Rumpelstilzchen.

A fada me encara, perplexa.

— Rumpelstilzchen, aqui nas Terras de Grimm? Não pode ser! Ele não é confiável, Sophia. — Azul enrola os dedos nas mexas azuis, inquieta.

Fito o meu vestido destruído.

— O pior é que não tenho outra opção. Preciso seguir minha sina e com você em repouso, temos que arriscar.

Azul balança a cabeça. Seus olhos cinza me encaram com censura.

— Arriscar numa criatura como esta, é mesmo? Toda a Terra Encantada o teme.

— Eu sei que a fama dele não é das melhores, mas ele tem uma inimiga em comum conosco. Ele pode estar do nosso lado.

Azul suspira.

— Sophia, pare de ser ingênua. Vai confiar seu destino a um feérico que não conhece direito? Você não conhece as armadilhas da Terra Encantada como eu conheço.

— Não vou confiar meu destino a ele. Apenas quero respostas — explico. — O que há de mal nisso?

Azul tremula as asas.

— Rumpelstilzchen é um tipo mercenário. Uma lenda na Terra Encantada. Poucos já o viram, mas sua reputação o precede. Ele não segue nada além de seus próprios interesses. Se ele lhe ofereceu ajuda, é porque você tem algo que ele quer. E coisa boa não é. Ah, e já mencionei que ele foi o responsável por trazer Catarina a este mundo? Não? Agora você já sabe.

Uma sensação gélida invade minha espinha.

Sua tia é uma má pagadora, e uma mentirosa da pior espécie. Ela tem uma dívida comigo, e vou cobrá-la ajudando você a subir no trono, Alteza. A frase dita pelo estranho paira, ressoando em minha mente.

Catarina e o esquisito fizeram um trato em algum momento da vida, mas algo os colocou de lados opostos. O que teria sido? Será que Rumpelstilzchen foi cruel a ponto de planejar a morte de meus pais também?

— Sophia, acorda — Azul interrompe minhas divagações. — Por mais que você precise encontrar pistas sobre sua sina, não peça ajuda a ele. Vamos encontrar outra maneira, eu prometo.

Me viro para a janela, dando de ombros. No lugar da garoa fina da tarde, uma chuva fraca cai.

— Mas a gente não tem muito tempo — argumento, olhando as gotas escorrerem pelo vidro, tornando difusa a vista do jardim.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora