CAPÍTULO 10 - Gata borralheira

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— Ela acha que vai a algum lugar, coitada — zomba Clarisse.

Cerro o punho.

— Mas eu terminei minhas tarefas.

Catarina sorri com escárnio e se aproxima, seus saltos batendo ruidosamente contra o mármore.

— Ah, Sophia, seus pais te criaram com tanta ingenuidade assim? Achou mesmo que iria ao concurso? Como você é tola.

— Pensei que cumpriria a sua parte do acordo. — Mantenho a postura.

Ela alisa as orelhas de minha tiara. O gesto soa mais como um tapa do que um ato de carinho.

— E você cumpriu com a sua parte, sobrinha?

Sinto o calor escapar de meu rosto. Junto as mãos atrás do corpo para que Catarina não as veja tremer. Espero que ela não tenha descoberto a troca.

— O closet tá arrumado, não tá? — respondo com firmeza. — Pode ir lá conferir se quiser. Pergunta pra Jose então, se acha que não cumpri com minha parte.

Ela estreita os olhos dourados.

— Com certeza farei isso. Na segunda, ela vai me contar como foi.

— Então posso ir? — insisto.

Catarina tira as orelhas de gato de minha cabeça e as estuda por um momento antes de entortar a tiara, quebrando-a em duas e jogando os pedaços no chão.

— Eu já te falei — ela diz entredentes, quase rosnando —, você não vai a lugar nenhum, imprestável!

Num movimento rápido, vejo-a erguer a mão, e um ardor explode em meu rosto com a bofetada. Por um segundo, tudo se transforma em um borrão. Meus ouvidos apitam. Olho para Catarina, perplexa.

— Por que está fazendo isso? — soluço, pondo a mão na bochecha — Por que me odeia tanto?

Sara põe a mão na boca, pasma.

— Por quê? — Os olhos de Catarina marejam num misto de tristeza e ódio — Porque vejo eles em você. Ter que olhar pra você me lembra tudo o que eles tiraram de mim. Eu odeio tudo o que vocês três representam.

Um soluço ainda mais alto irrompe minha garganta. Não consigo contê-lo.

— Eu não entendo. O que eu fiz pra você?

Catarina me dá outro tapa, e desta vez desabo no chão frio. Ela se abaixa até ficar cara a cara comigo.

— Não entende? É claro que não entende. Sabe como é ser desprezada e traída pela família que te criou? Claro que não. Victor e Mariana lhe deram tudo de mão beijada. Imagine o quão mimada você seria se eles estivessem vivos ainda.

Tento me levantar, mas Catarina me puxa pelo cabelo, os olhos ardendo em fúria.

— Não se faça de coitada, Sophia. Seus pais ainda tinham muito o que pagar, e você vai pagar no lugar deles. Vou me certificar que pague até o final de sua mísera existência — diz, pontuando cada uma das palavras, e me jogando no chão novamente.

Sara mantém as duas mãos sobre a boca, paralisada. Clarisse, apesar de inicialmente chocada com a atitude da mãe, agora me fuzila com o olhar, seu semblante refletindo a mesma raiva da mãe.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Me ergo e as aparo com as mãos, que ficam pretas com a maquiagem borrada. Meu couro cabeludo dói.

— Eu nunca fiz nada pra merecer isso. — Encaro Catarina com o queixo erguido, tentando controlar o nó que se forma em minha garganta. Mais lágrimas acumulam-se em meus olhos. — Se é a minha existência que te incomoda, por que me adotou então?

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora