CAPÍTULO 17 - Planos traçados

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— Alguém já falou que você é esquecida? — Nícolas brinca. — Achei seu violino no chão do saguão depois de você ter ido embora.

Com o cabelo cor de mel agora ligeiramente bagunçado e sem aquela máscara cobrindo parte de seu rosto, fico pasma ao reconhecê-lo. E repreendo a mim mesma por ter sido tão burra e não ligado os pontos antes. Não é à toa que Clarisse estava atrás dele na festa. Nícolas e o garoto novo com quem ela andava são a mesma pessoa. Como não me atentei a uma coisa tão óbvia?

Ele me entrega o estojo que carrega nas costas. Ao abrir o estojo, esqueço imediatamente minhas reflexões sobre Nícolas. Aqui está, intacto, meu violino de cristal, tão belo quanto eu me lembro. Testo as cordas dele por um momento antes de guardá-lo de novo.

Nícolas enfia as mãos nos bolsos da calça, observando.

— Então, você mora com as suas primas?

— É, eu moro com elas.

— A Clarisse me passou o endereço dela uma vez, então vim ver se ela podia dar o violino pra você. Mas que bom que você tá aqui.

Algo pulsa em volta. Parece magia. Vasculho com o olhar as roseiras recém podadas de ambos os lados da passagem de concreto, e para a copa da árvore à frente da minha janela no andar de cima. Será que Azul está escondida no jardim?

Nícolas nota meu ar alerta, e olha na mesma direção por um instante.

— Obrigada por pegar meu violino, Nícolas — agradeço.

— Não foi nada — ele dá de ombros. — Era o mínimo que eu podia fazer. Não se pode deixar uma dama em apuros por aí — graceja, piscando.

Deixo escapar uma risada.

— Não sou uma dama em apuros, Nícolas. Mas obrigada.

— Eu sei que não é — Um sorriso ilumina suas feições graciosamente esculpidas, como as daqueles anjos de mármore expostos nos museus.

Até entendo por que Clarisse pôs os olhos nele desde que ele apareceu. Seu ar é agradável e quente, como um raio de sol numa manhã fria.

— Se eu pudesse, te deixaria entrar — começo a me desculpar. — Mas se minha tia vir que eu tenho visita, vai fazer um escândalo.

— Sério?

— Pois é.

— Não, tudo bem. Eu só tava de passagem mesmo — Nícolas dá de ombros. — Ah, e o que você acha que era aquele som que a gente ouviu ontem?

— Sei lá, não faço ideia. Deve ter sido alguém bêbado — minto. Nícolas é só um garoto normal, alheio a todas as coisas bizarras que já presenciei. Não quero envolvê-lo nelas.

— Rolou um boato de que apareceu um cachorro grande perto do colégio. Falaram que era enorme, parecia um lobo. — Ele ri, abanando a cabeça ao contar. — Você acredita nisso?

— É sério? — Me forço a rir. Claro que acredito, quase fui parar na barriga dele.

— Ah, o povo acredita em cada coisa. — Nícolas balança a cabeça outra vez, então dá uns passos para longe da porta. — E sabe quem teria ganhado o concurso de fantasias se não tivesse fugido? A fada da floresta. As pessoas queriam votar em você, mas o diretor achou melhor dar o prêmio pra quem ainda estava lá.

— É mesmo? Não deu pra ficar o resto da festa.

— Eu sei. É... acho que eu já vou. Tchau, Sophia. A gente se vê na escola.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora