CAPÍTULO 15 - Destinos cruzados

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Uma névoa dourada dança entre meus dedos, acompanhada de uma leve luz branca. Ela não possui calor, apenas reluz. Encaro minhas mãos, espantada, e a névoa desaparece assim que as chacoalho.

Presto atenção no estado da rua à minha volta. Estou há vários metros longe de onde o carro explodiu em centenas de pedaços de abóbora, mas ainda me deparo com um pedaço ou outro sob meus pés. Estirado sobre o meio-fio, onde minutos antes estava a besta, há um rapaz de camiseta chamuscada, aparentemente não muito mais velho que eu.

Me aproximo devagar dele, me ajoelho ao seu lado e checo sua pulsação, ainda pasma pelo que fiz agora há pouco. Então reparo que seu peito sobe e desce levemente. Para o meu alívio, ele não está morto.

— Não sei por que você se preocupa com alguém que acabou de te atacar, mas se isso serve de alívio, ele vai melhorar.

Ergo olhos para o lugar de onde vem a voz. Parado ao lado de um poste, Rumpelstilzchen nos observa, uma sombra escura em contraste com o facho de luz sobre ele.

— A gente precisa chamar uma ambulância — digo, soltando o pulso desfalecido do moço.

Rumpel nega com a cabeça.

— Os sem-magia não vão poder fazer muita coisa por esse cara. Isso é uma ferida causada por magia. — Ele agacha-se ao meu lado, pondo a mão na testa do homem desmaiado. — Tá vendo? Não é nada demais.

— Não é nada? Eu quase matei ele!

— Não foi nada grave. — Ele balança a cabeça. — Para de ficar com pena dele, Sophia. Você seria o jantar dele se não fizesse alguma coisa.

— Eu sei, é só que... — Examino minhas mãos novamente. Foi tudo tão rápido, tão esquisito. Não pensei em nada além de me proteger no momento. Num segundo eu estava prestes a ser abocanhada, e no outro estava encarando o corpo inerte da fera que eu mesma lancei longe, transformando-se na figura de um homem comum.

Rumpel se senta num ponto seco da calçada.

— É, essa é a sua magia sendo liberada, senhorita fada. Ela ficou mais forte essa noite. Eu senti as mudanças, por isso vim atrás de você.

Olho para o moço, ainda desmaiado.

— E agora, o que a gente faz com ele?

— Só deixa ele aí. A essa altura os Caçadores já devem estar a caminho. Eles são tipo a polícia mágica daqui, já devem ter esse cara no radar.

— Mas e se ele acordar antes?

— Ele não vai poder fazer nada, vai acordar fraco. A magia dele não é muito forte, parece ser um lobisomem inexperiente. Se essa for uma das primeiras transformações dele, vai requerer muita energia.

— Ele era um capanga de Catarina? — questiono, me levantando.

Rumpel também se levanta, sacudindo a poeira da calça.

— Talvez sim, talvez não. Não é segredo que uma princesa perdida vive nas Terras de Grimm. Vai saber quantos encantados estão atrás de você, cada um com seus interesses?

— Como se não bastasse só a minha tia.

Rumpel exibe seu sorriso petulante, me deixando irritada.

— Vai ter que lidar com isso, princesa. Agora que sua magia floresceu, podem vir mais outros. Vamos embora — ele oferece a mão para mim. — Vou te levar de volta pra casa.

Ergo uma sobrancelha, sem dar um passo adiante.

— Vamos, Sophia. Eu não mordo. A não ser que queira ir a pé pra casa.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora