CAPÍTULO 9 - A sina dos encantados

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Mordo a bochecha, irritada, enquanto tomo o caminho de volta para casa. Se aquele esquisito quer tanto me ajudar quanto diz, por qual motivo ele esconderia sua identidade? Estaria ele querendo me enganar, sendo na verdade algum capanga de Catarina? Penso na charada que ele deixou antes de partir mais cedo, buscando nas histórias gravadas em minha mente qual personagem aquele cara seria. Mas não consigo me lembrar de nenhum personagem de conto de fadas cuja primeira letra é R. A não ser que ele seja a Rapunzel, nada me vem à memória.

Minhas reflexões sobre o garoto das charadas e os acontecimentos bizarros dessa manhã se dissipam assim que coloco o pé no hall de entrada de casa. Paro, quase prendendo a respiração. Clarisse, cheia de sacolas, está de costas para mim, importunando meu clone com uma série de instruções sobre como deixar seu cabelo e maquiagem para a noite. Azul ouve tudo em silêncio e assente com a cabeça, os ombros tensos. Deve estar ouvindo a palestra de minha prima há um bom tempo.

— Por que tá tão calada hoje, Sophia? O gato comeu sua língua?

— Estou ansiosa para a festa de hoje à noite, querida prima — gagueja a fada.

Clarisse franze a testa e mede Azul de cima a baixo.

— Tanto faz — dá de ombros. E depois empurra as sacolas para o colo da fada. — Leva isso aqui pro meu quarto, faz favor? Vou ver uma série com a Sara antes de me arrumar.

— Sim, prima. — Azul as recolhe, desajeitada.

Quando minha prima finalmente se distrai, a fada me dirige um olhar alarmado e faz sinal para que eu me esconda. Espero no lado de fora e quando percebo as vozes diminuírem, depois de alguns minutos, entro e corro até o andar de cima, olhando para os dois lados do corredor antes de entrar no meu quarto. Azul está jogada na minha cama, agora com sua real aparência. Solto minha cesta sobre a escrivaninha.

— Não era pra você ser um clone meu? Eu não chamo Clarisse de querida prima — dou risada.

— É apenas um feitiço de glamour. Posso replicar sua forma, mas não ser você.

— Entendi. E como foi com o disfarce?

A fada bufa.

— Achei que não seria tão difícil trabalhar sem usar magia. Jose é uma senhora adorável e terminamos nossas tarefas rapidamente. Sua prima mais nova também é muito educada, mas não posso dizer o mesmo daquela outra, a Clarisse. As irmãs chegaram aqui não faz nem meia hora e ela já me deixou completamente irritada. Quem ela pensa que é, uma imperatriz?

— Sei muito bem como é. — Rio, me sentando no assoalho, e depois aponto para a cesta, cujas carolinas ainda cheiram como se recém-saídas do forno. — Quer um pouco? Sobrou bastante.

Azul recusa.

— E o piquenique? — pergunta.

— Péssimo.

— Como assim? — Azul arregala os olhos e se senta sobre as pernas minúsculas, curvando-se para a frente.

Relato toda a confusão que foi esta manhã, desde a transformação e a fuga de minha melhor amiga, passando por minhas orelhas se tornando pontudas no vagão do metrô e terminando com a ajuda do rapaz sem nome e suas respostas enigmáticas. Os olhos cinza da fada arregalam-se cada vez mais à medida em que as conto.

— Está presenciando essas coisas porque encontrou o colar — ela explica. — Não tenho ideia de quem é este garoto sem nome, e nem confiaria nele, mas ele tem razão quando fala do seu poder. Ter nascido nas Terras de Grimm acabou adormecendo a sua magia, e Mariana sabia que ela despertaria se o encontrasse. Acredito que seus pais esconderam isso de você para impedir que Catarina a rastreasse. Foi isso o que a protegeu por tanto tempo.

O destino de CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora