Meu mundo cinza

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Autor:ThiFranco

Dedicado à uma pessoa que não vive mais entre nós!
Patrícia Ranelly.

TODO santo dia eu acordo precisamente às 6:30 porque meus pais me amam e me matricularam no colégio mais longe o possível de casa. Eu amo eles também.
E hoje é mais uma segunda-feira. Mais um início de aulas. Mais um início de estresse "semanático".
Nesse dia específico eu costumo entrar no Twitter só para dizer o quanto eu amo esse mundo. Eu tuíto: MUNDOLOUCOMUNDOLOUCOMUNDOLOUCO. COMO VOU SOBREVIVER?

Você já deve ter percebido que eu gosto de ironia. Eu gosto de pensar que a minha ironia me salva do sofrimento e das minhas auto-reclamações, se é que existe esse termo. Minha ironia me priva de choramingar pelos cantos e viver de cabeça baixa.
Minha ironia é o meu animal de estimação.

Minha mãe fez panquecas. As panquecas MAIS incríveis que eu conheço. Eu não tenho muito tempo, então só belisco uma mesmo.
Ponho a mochila nas costas, beijo a testa da Minha Psicóloga e saio.

O bairro onde moramos é um lugar completamente cinza. Sério, pode acreditar. A padaria é cinza, a UBS é cinza (cinza com vermelho), a casa da árvore dos filhos dos Sales é cinza. Nossa amada casa é cinza.
Por um milagre hoje tem pessoas na rua.
Ninguém diz Oi, ninguém dá Bom Dia. Ninguém sorri. Até as pessoas daqui são cinza, ou ao menos são por dentro. Eu sou.

Há mais ou menos um quarteirão encontra-se o Terminal de Ônibus. E é pra lá que eu estou indo. O meu santo destino.
O terminal costumava ser uma construção retangular em um azul bem forte, mas acho que aos poucos está ficando cinza também.

Para entrar no terminal é necessário ter Três Reais. Eu tenho quatro. Três são para entrar. Um é para o café.
Ainda resta doze minutos antes do meu ônibus sair. Com dois minutos vou tomar o Café. Com dez vou dar uma volta por esse ambiente cheio de gente, cabeças, narizes, braços e olhos.

Jamile sorri quando me vê chegando.
- Oi L.
- Oi J.
- Seu café - ela me entrega o copo plástico preto pela metade.
- Obrigado.
Jamile me observa. Ela sempre faz isso. Fica me olhando enquanto eu bebelisco o café.
- Você devia trazer as panquecas da sua mãe.
É a milésima vez que ela me diz isso.
- J, seu café me basta.
Ela bagunça meu topete. Só ela pode fazer isso.
- Você mesmo... Pena ser cinco anos mais novo que eu.

PAUSA.
Eu tenho uma queda pela Jamile.
Jamile tem uma queda por mim. Jamile tem vinte e dois. Eu dezessete.

- Idade não é problema - falo bem próximo ao rosto dela.
- Mas maturidade é necessário.

Eu sempre perco nessa discussão. Jamile não faz ideia de quanto é atraente. Ela é uma das poucas pessoas que sempre tão sorrindo por aqui.
E então acaba meus dois minutos do Café.

Começam os dez minutos da Volta pelo ambiente.
O terminal está incrivelmente cheiroso no momento. Cheiro das refeições vendidas em cada box por aqui.
Tem gente falando no celular, gente comendo, gente preocupado com a partida do ônibus, gente dormindo nos bancos.
Tem adolescentes rindo nos cantos, apontando para os celulares.
Tem uma garota chorando, tipo CHORANDO CHORANDO.

Eu não devia ir perguntar o Porque. Mas eu já estou no meio do caminho.
Eu não sou muito de me importar com o Choro Alheio. Ninguém se importa com o meu.
Estou há 15 passos. Acho que não deve ser nada.
Estou há 10 passos. Meninas choram por tudo.
Estou há 5 passos.
Três.
Dois.
Um.

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