Nossos Contos (Concluído)

Seu apenas amigo

Autor:JhonalterJosdeCampos

Rio de Janeiro, 27 de Outubro de 2016.

Querida Estefani;

   Desejo que ao ler estas palavras, você tenha obtido uma melhora significativa, e acordado de seu coma.
   Lembro-me como se fosse ontem: o rosto da menina nova do apartamento treze era um mistério. Esse mistério me causava admiração e te deixava ainda mais fascinante. Eu ficava observando sua porta, até você abrí-la. A ansiedade foi me sufocando e finalmente você saiu, e seus olhos foram os mais lindos que eu já vi em toda a minha vida!
   Sua simpatia é seu ponto forte e seu sorriso sempre foi encantador.
   Mas hoje esta cena me parte o coração: te ver nessa cama, sua alma sendo sugada por fios de aparelhos que insistem em anunciar seus últimos batimentos...
   Durante esses dois meses, vim todos os dias ver como você estava. Confesso que chorei várias vezes sem ninguém perceber, mas nunca deixei de acreditar que você é a minha vida.
   Estou angustiado por ter me tornado um crápula. Peço perdão por ter me afastado de você sem ao menos me despedir, e ter retornado justamente agora.
   Quando me ligaram, eu estava em Salvador, sendo fustigado pelas minhas responsabilidades inúteis que me afastaram de minha ex-esposa e de meu filho. — Você já sabe, eu formei minha família, mas vivi aprisionado. Usei a máscara de Homem Perfeito. Ninguém me conhece tão bem como você.
   Fiquei surpreso quando sua mãe confiou sua recuperação a mim, me pedindo para que eu viesse te visitar. Não acreditei na sua recuperação... Aluguei um quarto numa pensão qualquer aqui na Tijuca, e desde que cheguei ao Rio, venho te observar; e pra ser sincero sua recuperação foi inimaginável.
   "Covarde" é a única palavra que me define. Quando estiver lendo, eu fui embora, outra vez. Meu coração está em pedaços, não suportei te ver machucada e ferida assim. Eu sou um fugitivo: da vida e dos problemas. Não é à toa que vivo uma outra vida com pessoas que mal sabem quem realmente eu sou.
   Lembra-se daquela noite? Você estava linda com aquele vestido salmão, e a cor do seu batom não se apagou da minha memória. E então, por um ciúmes bobo, no nosso baile de formatura, te abandonei. Não suportei a maneira com que você olhou para ele... Aquela noite era pra ser só nossa, era pra ser inesquecível!
   Meus pais e eu brigamos horas antes, pelo fato de eu não querer me mudar junto com eles, pois eu te amava. Mas depois de eu presenciar a forma com que você olhou para ele, decidi ir embora.
   Sorocaba me ofereceu várias oportunidades para mudar de vida. Conquistei meus sonhos e me esqueci parcialmente de você.
   No meu aniversário de vinte e seis anos, trouxeram-me notícias sobre você: casou-se com ele. E depois disso, eu dirigi sem rumo e sofri um acidente. Tiveram que amputar minha perna direita, mas comprei uma prótese que desde então, é minha amiga mais íntima.
   Minha autoestima vagarosamente foi diminuindo, até que por conflitos internos me divorciei. Minha relação com meu filho está ficando péssima a cada dia, e isso está me matando!
   Por tudo isso, resolvi colocar um fim nessa vida miserável. Não há prótese que substitua meus erros, meus medos, e os vazios da minha alma.
   Se esforce em lembrar daquela ponte onde te pedi em namoro... o ribeiro que sempre desliza debaixo dela, rodeado de flores, sempre fizeram dela deslumbrante! Quando você chegar lá, é tarde demais.
   Lamento pelo seu acidente. Eu sei como é deseperador; lamento também sobre o que você enfrentará a partir de agora. Eu sempre te amei, mas você nunca me valorizou. Consequências são amargas, mas acredite: com o tempo, acabamos nos acostumando com elas. Seja forte; o contrário de mim, que sempre fui fraco.
   Te desejo toda a felicidade do mundo, mesmo sabendo que não vai possuí-la. Meus mais sinceros agradecimentos.

Abraço, seu apenas amigo.

Jhonalter J. de Campos, 28/10/2016.

De:JhonalterJosdeCampos

Vote e comente que o próximo conto seja o seu conto.
Obrigado e até o próximo!