CAPITULO VII - A Busca

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O centro da cidade estava lotado de pessoas. Eu fiquei neurótica porque sempre havia alguém esbarrando ou me encarando de uma forma estranha. Por vezes senti minhas costas formigarem e tinha que parar um pouco para dominar o medo. Não podia perder o controle. Já pensou se aquelas asas se abrissem ali, no meio de todo mundo?

Mais ou menos na metade do caminho, o clima ficou estranho. Toda aquela névoa não era comum nem nos alpes onde os gêiseres cuspiam vapor. Respirar ficou difícil e como não afetava mais ninguém, achei que era eu que estava causando aquilo.

Na terceira vez que os metais vibraram, percebi que a fonte do distúrbio era outra. Primeiro aparecia a neblina, depois eu sentia medo e as asas vibravam me fazendo mudar de direção. Quando eu tomava outro caminho os metais se acalmavam.

Consegui chegar à estação sem nenhum acidente no caminho. Comprei meu bilhete e não esperei nem as instruções do funcionário para entrar na cabine. Quis encontrar um lugar isolado e me manter longe de olhares curiosos.

Minha tática se provou uma péssima ideia. Estar coberta até os ossos em um dia quente de verão, por si só, já atraía olhares. Some a isso minha cara de bicho acuado, enquanto as pessoas riam e conversavam, e vai entender o porquê acabei chamando atenção indesejada.

Um funcionário sustentando um olhar particularmente estranho passou por mim em direção ao vagão de trás. Logo ali naquele vagão de trem onde não tinha para onde correr, as asas resolveram formigar novamente.

Assim que ele desapareceu palas portas, fugi para um vagão da frente e procurei um lugar para sentar. Tomei o cuidado de ficar em meio às pessoas dessa vez. Encontrei uma poltrona na janela ao lado de um senhor bem velhinho, seus cabelos azuis estavam ralos e as rugas em baixo dos olhos denunciavam muitos anos de vida.

Sua pele me chamou atenção, era marrom acobreado e cheias de pequenas marcas que não consegui distinguir. Ele percebeu que eu o observava e me deu um sorriso. Dado os acontecimentos do dia, fiquei com medo e só me virei para a janela. Precisava me concentrar na minha tarefa.

No sábado a toca abria em horário diferente. Sempre tinha encontros até muito tarde da noite, então estaria fechada agora. A voz havia me dito que ninguém deveria saber sobre o que estava acontecendo. Duvidava que o Helix não fosse dar com a língua nos dentes e contar para o Ky que apareci por lá. É claro que ainda tinha que pensar em como entrar.

— Perdida em pensamentos mocinha?

Disse o senhor sentado ao meu lado.

— Um velho amigo costumava me dizer que pensar demais não ajuda a encontrar a solução nem dos menores enigmas. Sabe como é, acabamos nos perdendo no volume de informações e não nos concentramos no que é realmente importante.

Eu não sabia bem o que responder, então dei um breve aceno de cabeça. Ele se levantou.

— Acho que essa é a estação que você vai descer, não é?

Ele apontou para o quadro eletrônico da parede.

Conferi o mapa e o cara tinha razão, mas eu não havia lhe dito uma só palavra, quanto mais o lugar para onde estava indo.

— Como o senhor sabe que eu pretendia descer nesta estação?

— Esse bairro é um lugar interessante. Coisas excepcionais aconteceram ali em tempos passados.

O trem deu um leve solavanco e parou.

— Acho melhor você correr ou vai perder o ponto.

Não aceitei a resposta que ele me deu. E enquanto tentava segui-lo, por acaso, vi que nas costas de sua mão direita havia um símbolo muito bonito tatuado. Percebi que conhecia a tatuagem. Eram duas armas cruzadas, um cajado todo trançado e uma espada longa com o cabo bem trabalhado. De fundo se viam duas asas exatamente como nas minhas costas.

Alys - Elemento Alpha [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora