CAPITULO V - Os Sonhos

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epois da minha breve saída, voltei ao meu regime carcerário comum. De casa para escola, da escola para casa, e sempre na companhia do Ky. A essa altura eu já havia afastado qualquer pensamento sobre o cajado e passava longas horas discutindo o que faríamos em minha próxima visita ao lugar, estava programada para dali a duas semanas.

— Desta vez acho que vou te levar para jantar no Yoogu. Mas seu pai nem pode sonhar com uma coisa dessa Alys.

— O que tem lá?

— Comida oriental. Fica umas duas ruas depois da Toca. — Respondeu.

— Também podemos conhecer o monumento Wsk?

— Você já começou a abusar. Fica muito longe. Já estou arriscando meu pescoço ao te levar para algum lugar além da loja de Helix.

— Pelo menos pense, vai!

— Tá, vamos ver!

Minha animação era tanta que comecei a negligenciar os fatos que aconteciam em volta. Queria acreditar que todas coisas continuavam iguais, mesmo que tivesse passado por uma situação ainda sem explicação quando toquei naquele cajado.

Começou uns dois dias depois que visitamos a toca. Sonhos estranhos que me faziam acordar como se tivesse corrido uma maratona. Engraçado que nunca fui de sonhar, era aquele tipo de pessoa que deita na cama e apaga.

Nos sonhos eu era outra pessoa. Ainda parecia eu, mas diferente. Me via na entrada de uma caverna gigantesca. Era toda feita dos mais variados metais, incrustados em uma rocha vulcânica de cor escura e cheia de inscrições brilhantes nas paredes. Nas primeiras vezes que sonhei, tentava me movimentar, mas não conseguia. Era como se meu corpo estivesse preso ao chão.

Pior era que, mesmo que não acontecesse nada, eu ficava ali por horas. Isso me fazia acordar exausta e meu pai acreditava que eu estivesse com algum tipo de gripe. Em uma certa manhã ele veio com uma conversa bem conhecida por mim.

— Alys, a Dra. Neli vem mais tarde nos fazer uma visita. Ela disse que não te vê tem muito tempo e está com saudades.

— Pai, essa historinha só me convencia quando eu tinha cinco anos de idade.

A Dra. Neli era minha médica desde que nasci. É a pessoa que mais vi na vida, talvez até mais que Ky. Por quê? Porque até meus quinze anos, meu pai maluco me obrigava a fazer uma bateria de exames semanais. E olha que eu nem ficava doente. Ele vinha sempre com esse papinho de visita para que eu não brigasse com ele. Não funcionava fazia tempo.

— Porque você chamou um médico pra mim?

— Pensei que gostasse da Neli.

— Eu gosto dela.

Abri um sorriso sarcástico e completei.

— Gostava mais quando achava que todas as visitas médicas dela eram uma desculpa para me fazer acostumar com a sua presença.

Fiz cara de quem sonhava com algo feliz.

— Bons tempos aqueles em que acreditei que vocês eram namorados. Eu não teria tanta sorte!

Meu pai respirou fundo.

— Nem comece, Alys. Nós não temos nenhum interesse que ultrapasse a amizade.

— Fale por você.

— Isso de novo? Você vê coisas onde não existem. Ela vem, vai te ver e vai fazer alguns exames. Você parece estar com gripe desde que foi com Kyer naquela loja.

Alys - Elemento Alpha [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora