Capítulo 29 - Miguel Henrique

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- Eu te odeio! - Meu filho gritava sem parar - Quero que você morra igual a mamãe.

- Filho,o que houve? - Eu queria entender o que estava acontecendo.

- Você não é meu pai! - Ele dizia com os olhinhos assustados - Você era meu super herói como nos filmes mas heróis não usam coisas que fazem mal para a saúde. O Capitão América não gosta de drogas.

Ouvir aquela frase fez minha cabeça girar. O que eu mais temia tinha acontecido,meus filhos descobriram o que eu fazia questão de não lembrar todos os dias da minha vida.
A pior coisa era tentar esconder de mim mesmo ou fingir que tinha sido um pesadelo,dessa forma eu achava que ninguém ia descobrir ou melhor meus filhos porque eu não queria magoar ou decepcioná-los,era como se eu falhasse como pai. Mas do que adiantava? Eu realmente tinha falhado.

Eu fechava os olhos e tudo passava como um filme de terror em que eu mesmo era o vilão. Como pode alguém ser feliz fazendo mal a si mesmo? Naquela fase eu era pois todo esse mal anestesiava a dor que eu sentia por ser um fracassado.

Eu lembro que tudo começou com uma diversão,era uma festa entre amigos e eu precisava de algo para suprir o vazio dentro de mim. E também eu tinha fama,tudo chegava na minha mão com mais facilidade.

Eu queria culpar o mundo pelas minhas perdas e por ter tudo e nada ao mesmo tempo.

- Miguel na boa...- Me lembrei de Daniel tentar me convencer a não cair na cilada - É um caminho sem volta amigo,não cai nessa. Você vai correr o risco de perder sua carreira cara.

- Relaxa amigão! - Eu sorri sem vontade - É só para experimentar,eu preciso disso para ficar bem!

Mas ao contrário do que eu imaginei,eu não tinha ficado bem. Eu fui afundando cada vez mais até que eu não conseguia mais me libertar. Eu precisava ir ao inferno pelo menos alguns minutos em um só dia. Eu era um dependente químico. Um playboy drogado.

- Filho? - Engoli em seco - Deixa o papai explicar....foi um erro tá? Eu já estou curado eu mu.....

- Não! - Ele tapou os ouvidos - Eu não quero ouvir,eu te odeio. Eu pensei que você estava diferente mas não,você mente papai,a Olíviah nem é sua esposa de verdade.

- Deus! - Ouvi Olíviah sussurrar em meio as lágrimas.

Vi Heitor correr para o quarto e senti que todo o caminho que eu havia percorrido e conquistado para que meus filhos pudessem confiar em mim novamente tinha sido perdido. E eu tinha medo que a perda fosse um caminho sem volta.

- Sua desgraçada! - Eu fui até Olga e a segurei pelo braço - Você podia ter feito qualquer coisa comigo. Por que Olga,por que afetar as crianças? Por Deus,você está fazendo mal a eles só porque eu não quero te dar dinheiro? Eles são seu sangue também.

- Não por minha vontade - Ela ergueu a sobrancelha sorrindo - Eu disse que ia assistir você sofrer Miguel....e olha,até que não demorou?

- Eu vou te.....

- Não filho! - Minha mãe gritou - Você não pode encostar nessa mulher. Mas eu posso.

O barulho da mão esquerda da minha mãe encontrando o rosto da Olga foi alto. Ela merecia por ter sido uma pessoa ruim e por ter feito meus filhos sofrer. Por dinheiro ela tinha deixado de lado o instinto de avó. Se é que ela realmente tinha.

- Não pense que eu acabei...- Ela disse no rosto. O tapa tinha sido forte. - Eu vou tirar essas crianças insuportáveis de você. E ah,ainda tem você - Ela apontou para Olíviah - Que vai se arrepender de ter atrapalhado meus planos.

- Se você fizer mais algum mal para os meus filhos ou para a Oly,nem que eu passe o resto da vida na cadeia. Eu mato você!

- Uma ameaça? - Ela gargalhou.

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