Capítulo 1.1

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Eadlyn recém havia chegado em casa quando foi verificar se, na caixa de correio, tinha alguma conta para pagar. Não havia nada, e ela agradeceu por isso. Entrou para dentro de casa e estava com menos sono do que deveria, visto que havia dado uma bela cochilada naquele quarto...

Neste momento, lembrou-se vagamente do cara que estava ali.

Será que ficaria muito tempo?

Eadlyn torcia que não, gostava de ficar sozinha e seria perigoso ele acordar e dedurá-la para Morgana - também conhecida como Encapetada Mcfield -, sua supervisora à noite. Para Eadlyn, essa mulher era o seu pior castigo no Hospital, vivia pegando no seu pé e, embora ela sempre se esquecesse do que tinha que limpar e retrucasse tudo que lhe mandavam fazer, achava injusto.

Vai até o seu quarto, que até dois anos atrás dividia com o seu irmão mais novo, Ahren, e se ajoelha em frente ao guardaroupa que de tão velho, corria o risco de uma das portas capengas cair em cima da cabeça de alguém a qualquer momento. Procura sua caixinha decorada com adesivos de flores e corações, a abrindo e se deparando com dólares muito bem organizados e devidamente contados, enrolados em elásticos de cabelo.

Guardou ali o seu primeiro salário, que pegara hoje antes de chegar em casa. Respirou fundo, toda esperançosa; seus olhos azuis adiquirem um brilho de expectativa ao se dar conta que em breve poderia comprar suas passagens aéreas e bancar sua estadia no Caribe por cerca de 4 semanas. Fechou a tampa da caixa, seu cofrinho, e a recolocou novamente na última gaveta, embaixo de algumas toalhas de banho que nunca ninguém usou realmente. Foi até a cozinha e preparou o café da manhã para dois. Apesar de simples, era uma de suas comidas preferidas.

Leite com café e torradas com margarina e hortelã. Nunca conheceu ninguém que colocasse hortelã na torrada, além dela e de Ahren.

Quando ela estava sentada com os dois pés em cima da cadeira e com o queixo apoiado nos joelhos, saboreando lentamente a sua torrada - Eadlyn tinha a mania de mastigar muitas e muitas vezes a comida para prolongar o ato de comer -, o seu irmão mais novo chegou. Seu cabelo louro escuro está para cima e seus olhos estão mais fechados do que abertos... Enquanto se aproximava, Eadlyn comparou-o com um zumbi mentalmente.

—Bom dia, Ahren- ela cumprimenta com um sorriso divertido no rosto.

—Bom dia, Eady- resmungou com a voz ainda meio grogue; recém havia acordado. - Pensei que estaria dormindo... Não está cansada? - Questionou com uma sobrancelha erguida e a testa franzida antes de arrastar preguiçosamente a cadeira para trás e sentar-se ali.

Eadlyn soltou uma risada.

—Dormi bastante.

Ahren fez uma careta.

—Mas não estava trabalhando?

Ela deu de ombros, rindo novamente.

—Sim, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? - Retrucou em tom inocente.

—Me pergunto como você não foi demitida ainda - refletiu o garoto em voz baixa e pegando a térmica com café com leite e servindo-se dela.

—Não exagere. É só um cochilo - diz com a boca cheia. - Não seja tão mal comigo, amor da minha vida, pura sedução, sexy das colinas, comedor das gatinhas - provocou ela. Ahren odiava quando a irmã começava com este tipo de palhaçada.

Às vezes, Eadlyn o achava sério demais.

—Coisa idiota - resmungou ao revirar seus olhos castanho-esverdeados.

—Idiota? Sério? Quando eu for viajar, você vai sentir minha falta - falou com convicção e colocou a metade da torrada dentro da boca, tendo certa dificuldade em mastigar tanta coisa de uma vez só.

Ahren ficou em silêncio por alguns segundos, de cabeça baixa e as duas mãos espalmadas sobre a mesa de madeira que ambos haviam pintado de um amarelo sem graça dias atrás.

—Você tem razão... Eady, você é a minha família, é só você e eu - falou em um jato, a cabeça ainda voltada para baixo. - Mas você vai me abandonar - e então o garoto engoliu em seco; - assim como a mamãe fez.

Eadlyn fez uma careta e, indignada, jogou um pedaço de pão na testa do irmão que imediatamente ergueu o rosto, surpreso.

—Escute aqui, fedelho dos infernos, posso saber de onde você tirou isso? - Ela suspirou, irritada.

—Você vai ir viajar quando conseguir o dinheiro.

—Mas eu vou voltar.

—É... - murmurou o menino, agora sustentando o olhar de Eadlyn. - Foi a mesma coisa que nossa mãe falou há dois anos atrás, e até agora não voltou.

—Mas eu não sou ela - disse a jovem, com a voz um pouco ofendida.

Ahren preferiu ficar calado e não retrucar. Ele sabia que a irmã queria ter uma vida independente e ser livre, viajar e conhecer muitos lugares pelo o mundo e, só não o fazia, porque achava que tinha algum tipo de obrigação para com ele. Às vezes, Ahren se achava egoísta por pedir para a irmã ficar, mas ela era tudo o que ele tinha.

Um silêncio pesado pairou no ar. Nenhum dos dois tocou mais no assunto. Eadlyn levantou-se e recolheu sua xícara da mesa, levando-a até a pia e a enxaguando brevemente.

—O que você vai querer de 18 anos? - Ela perguntou, tentando acabar com o clima tenso que havia ficado entre ambos. - Seu aniversário é daqui dois meses e meio.

—Não quero que gaste seu dinheiro comigo - ele respondeu.

Eadlyn pegou um guardanapo limpo da gaveta do armário e, enquanto secava suas mãos, falou:

—É importante. Me diz o que quer, eu posso dar um presente pra você, consegui esse emprego no hospital, e o salário não é tão pouco quanto no outro.

—Quero aquele bolo de chocolate que mamãe fazia.

—Eu vou tentar - respondeu vagamente, de repente dispersa.

Já havia algum tempo que Eadlyn evitava falar sobre a mãe que, quando a garota completou 18 anos, disse que iria viajar com Aspen, seu padastro, e voltaria em breve. Alguma coisa lhe dizia que era mentira... E, infelizmente, sua mãe realmente não mais voltou desde então.

—Você vai trabalhar no turno da noite hoje de novo? - Ahren perguntou, querendo mudar o rumo da conversa, percebendo que sua irmã ficou chateada.

—Vou.

Hospital de Illéa - prédio 2, quarto 212

Marlee olhava para o filho com uma expressão de dor no rosto. Ela apertou a mão fria de Kile, rezando para o garoto ter algum tipo de reação, mas não aconteceu. Kile Woodwork simplesmente não reagia à nenhum estímulo externo. "Maldita hora em que você entrou naquele carro!", lamentou-se a mulher, sentindo-se em um estranho estado de incongruência ao estar grata pelo o filho não ter morrido naquele acidente de carro e, ao mesmo tempo, tendo o coração cheio de medo do filho não acordar mais.

Um homem entrou no quarto vestindo um jaleco super branco e com uma prancheta em mãos. O médico, assim que passou pela a porta, parou hesitante. Era sempre difícil ver uma mãe naquele estado, desolada.

Marlee ergueu o rosto úmido, seus lábios estavam franzidos.

—E então, doutor? Tem alguma previsão?

O Dr. Alexander, nome que estava escrito em seu crachá, apenas balançou a cabeça de um lado para o outro vagarosamente, enquanto se aproximava da mulher. Seu rosto era indecifrável, e era assim que tinha de ser; seus 20 anos de carreira deixavam claro que, quanto menos envolvimento com os familiares, mais fácil seria para ele próprio lidar com a situação.

—Não temos nenhuma novidade - respondeu com a voz neutra. - Mas não corre risco de vida, senhora Temers.

—Você tem... - ela trava, mesmo que seus olhos tivessem faíscado em esperança; suspirou. - Você tem ideia de quando ele pode acordar?

—Não. Tem casos que demora dias, semanas, meses... Outros anos e, às vezes, sendo muito honesto, nunca acordam.

Marlee concordou com a cabeça firmemente; o rosto duro. Não importa o que o médico dissesse, ela tinha fé em Deus que seu filho voltaria do coma em breve.

Procura-se por Eadlyn Schreave!Onde histórias criam vida. Descubra agora