Eadlyn recém havia chegado em casa quando foi verificar se, na caixa de correio, tinha alguma conta para pagar. Não havia nada, e ela agradeceu por isso. Entrou para dentro de casa e estava com menos sono do que deveria, visto que havia dado uma bela cochilada naquele quarto...
Neste momento, lembrou-se vagamente do cara que estava ali.
Será que ficaria muito tempo?
Eadlyn torcia que não, gostava de ficar sozinha e seria perigoso ele acordar e dedurá-la para Morgana - também conhecida como Encapetada Mcfield -, sua supervisora à noite. Para Eadlyn, essa mulher era o seu pior castigo no Hospital, vivia pegando no seu pé e, embora ela sempre se esquecesse do que tinha que limpar e retrucasse tudo que lhe mandavam fazer, achava injusto.
Vai até o seu quarto, que até dois anos atrás dividia com o seu irmão mais novo, Ahren, e se ajoelha em frente ao guardaroupa que de tão velho, corria o risco de uma das portas capengas cair em cima da cabeça de alguém a qualquer momento. Procura sua caixinha decorada com adesivos de flores e corações, a abrindo e se deparando com dólares muito bem organizados e devidamente contados, enrolados em elásticos de cabelo.
Guardou ali o seu primeiro salário, que pegara hoje antes de chegar em casa. Respirou fundo, toda esperançosa; seus olhos azuis adiquirem um brilho de expectativa ao se dar conta que em breve poderia comprar suas passagens aéreas e bancar sua estadia no Caribe por cerca de 4 semanas. Fechou a tampa da caixa, seu cofrinho, e a recolocou novamente na última gaveta, embaixo de algumas toalhas de banho que nunca ninguém usou realmente. Foi até a cozinha e preparou o café da manhã para dois. Apesar de simples, era uma de suas comidas preferidas.
Leite com café e torradas com margarina e hortelã. Nunca conheceu ninguém que colocasse hortelã na torrada, além dela e de Ahren.
Quando ela estava sentada com os dois pés em cima da cadeira e com o queixo apoiado nos joelhos, saboreando lentamente a sua torrada - Eadlyn tinha a mania de mastigar muitas e muitas vezes a comida para prolongar o ato de comer -, o seu irmão mais novo chegou. Seu cabelo louro escuro está para cima e seus olhos estão mais fechados do que abertos... Enquanto se aproximava, Eadlyn comparou-o com um zumbi mentalmente.
—Bom dia, Ahren- ela cumprimenta com um sorriso divertido no rosto.
—Bom dia, Eady- resmungou com a voz ainda meio grogue; recém havia acordado. - Pensei que estaria dormindo... Não está cansada? - Questionou com uma sobrancelha erguida e a testa franzida antes de arrastar preguiçosamente a cadeira para trás e sentar-se ali.
Eadlyn soltou uma risada.
—Dormi bastante.
Ahren fez uma careta.
—Mas não estava trabalhando?
Ela deu de ombros, rindo novamente.
—Sim, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? - Retrucou em tom inocente.
—Me pergunto como você não foi demitida ainda - refletiu o garoto em voz baixa e pegando a térmica com café com leite e servindo-se dela.
—Não exagere. É só um cochilo - diz com a boca cheia. - Não seja tão mal comigo, amor da minha vida, pura sedução, sexy das colinas, comedor das gatinhas - provocou ela. Ahren odiava quando a irmã começava com este tipo de palhaçada.
Às vezes, Eadlyn o achava sério demais.
—Coisa idiota - resmungou ao revirar seus olhos castanho-esverdeados.
—Idiota? Sério? Quando eu for viajar, você vai sentir minha falta - falou com convicção e colocou a metade da torrada dentro da boca, tendo certa dificuldade em mastigar tanta coisa de uma vez só.
Ahren ficou em silêncio por alguns segundos, de cabeça baixa e as duas mãos espalmadas sobre a mesa de madeira que ambos haviam pintado de um amarelo sem graça dias atrás.
—Você tem razão... Eady, você é a minha família, é só você e eu - falou em um jato, a cabeça ainda voltada para baixo. - Mas você vai me abandonar - e então o garoto engoliu em seco; - assim como a mamãe fez.
Eadlyn fez uma careta e, indignada, jogou um pedaço de pão na testa do irmão que imediatamente ergueu o rosto, surpreso.
—Escute aqui, fedelho dos infernos, posso saber de onde você tirou isso? - Ela suspirou, irritada.
—Você vai ir viajar quando conseguir o dinheiro.
—Mas eu vou voltar.
—É... - murmurou o menino, agora sustentando o olhar de Eadlyn. - Foi a mesma coisa que nossa mãe falou há dois anos atrás, e até agora não voltou.
—Mas eu não sou ela - disse a jovem, com a voz um pouco ofendida.
Ahren preferiu ficar calado e não retrucar. Ele sabia que a irmã queria ter uma vida independente e ser livre, viajar e conhecer muitos lugares pelo o mundo e, só não o fazia, porque achava que tinha algum tipo de obrigação para com ele. Às vezes, Ahren se achava egoísta por pedir para a irmã ficar, mas ela era tudo o que ele tinha.
Um silêncio pesado pairou no ar. Nenhum dos dois tocou mais no assunto. Eadlyn levantou-se e recolheu sua xícara da mesa, levando-a até a pia e a enxaguando brevemente.
—O que você vai querer de 18 anos? - Ela perguntou, tentando acabar com o clima tenso que havia ficado entre ambos. - Seu aniversário é daqui dois meses e meio.
—Não quero que gaste seu dinheiro comigo - ele respondeu.
Eadlyn pegou um guardanapo limpo da gaveta do armário e, enquanto secava suas mãos, falou:
—É importante. Me diz o que quer, eu posso dar um presente pra você, consegui esse emprego no hospital, e o salário não é tão pouco quanto no outro.
—Quero aquele bolo de chocolate que mamãe fazia.
—Eu vou tentar - respondeu vagamente, de repente dispersa.
Já havia algum tempo que Eadlyn evitava falar sobre a mãe que, quando a garota completou 18 anos, disse que iria viajar com Aspen, seu padastro, e voltaria em breve. Alguma coisa lhe dizia que era mentira... E, infelizmente, sua mãe realmente não mais voltou desde então.
—Você vai trabalhar no turno da noite hoje de novo? - Ahren perguntou, querendo mudar o rumo da conversa, percebendo que sua irmã ficou chateada.
—Vou.
Hospital de Illéa - prédio 2, quarto 212
Marlee olhava para o filho com uma expressão de dor no rosto. Ela apertou a mão fria de Kile, rezando para o garoto ter algum tipo de reação, mas não aconteceu. Kile Woodwork simplesmente não reagia à nenhum estímulo externo. "Maldita hora em que você entrou naquele carro!", lamentou-se a mulher, sentindo-se em um estranho estado de incongruência ao estar grata pelo o filho não ter morrido naquele acidente de carro e, ao mesmo tempo, tendo o coração cheio de medo do filho não acordar mais.
Um homem entrou no quarto vestindo um jaleco super branco e com uma prancheta em mãos. O médico, assim que passou pela a porta, parou hesitante. Era sempre difícil ver uma mãe naquele estado, desolada.
Marlee ergueu o rosto úmido, seus lábios estavam franzidos.
—E então, doutor? Tem alguma previsão?
O Dr. Alexander, nome que estava escrito em seu crachá, apenas balançou a cabeça de um lado para o outro vagarosamente, enquanto se aproximava da mulher. Seu rosto era indecifrável, e era assim que tinha de ser; seus 20 anos de carreira deixavam claro que, quanto menos envolvimento com os familiares, mais fácil seria para ele próprio lidar com a situação.
—Não temos nenhuma novidade - respondeu com a voz neutra. - Mas não corre risco de vida, senhora Temers.
—Você tem... - ela trava, mesmo que seus olhos tivessem faíscado em esperança; suspirou. - Você tem ideia de quando ele pode acordar?
—Não. Tem casos que demora dias, semanas, meses... Outros anos e, às vezes, sendo muito honesto, nunca acordam.
Marlee concordou com a cabeça firmemente; o rosto duro. Não importa o que o médico dissesse, ela tinha fé em Deus que seu filho voltaria do coma em breve.
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Procura-se por Eadlyn Schreave!
FanfictionEadlyn não é lá flor que se cheire, mas não que ela faça questão de ser. É abusada e desbocada, tendo dificuldade em aceitar regras de cabeça baixa; é ambiciosa, embora tenha nascido em uma família humilde, nunca pensou em desistir de seus sonhos, e...