Capítulo 3

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16hs25min – Elisa.

A nova submissa de Renan estava dormindo pendurada e nua, provavelmente estava assim desde que chegou aqui. Abaixo dela, uma poça de sangue, que parecia sair do braço da mesma, começava a secar. Seu rosto estava inchado de tanto chorar após as barbaridades que ele devia ter feito a ela.

Sem muito barulho, me aproximei dela com sentimento de calma e pena estampado nos meus olhos. Me abaixei até seu rosto, já que a roda estava um pouco inclinada, deixando seu corpo quase de lado.

― Ei, acorde. – Acariciei o rosto dela e a mesma acordou assustada, arregalando os olhos possuídos pelo medo e tentou desviar de minha mão, mas pude ver que algo doía, e mais que o suportável.

― Por favor, não me machuque. Juro que não fiz mal algum! – Ela tornou a chorar. Olhei para ela por poucos segundos e decidi deixar a bandeja que estava em meu colo. Fui até a porta e a tranquei, mesmo sabendo que ela não aguentaria fugir, Renan iria encher meu saco durante dias.

Voltei até ela e coloquei seu cabelo para trás do rosto e sequei suas lágrimas. Olhei para as amarras e vi que suas mãos e pernas já estavam bem cortadas. Soltei a garota aos poucos e fui ajeitando-a no meu colo de uma forma que não caíssemos, usando soltasse suas pernas. Não deu muito certo e acabei sentada no chão com ela em meu colo, mas sorri e decidi ficar um pouquinho por lá.

― Qual é seu nome, menina? – ela se encolheu em meu colo, como uma verdadeira criança apavorada. – Meu chefe mandou eu vir cuidar de você e te alimentar. Meu nome é Elisa, me chame de Liz, caso fique mais confortável.

Decidi levantar e, com um pouco de dificuldade, continuei com ela no colo e a levei até a cama o mais devagar que aguentei, já que ela gemia de dor a cada passo que eu dava. Deitei-a na cama e peguei a bandeja que tinha deixado na mesinha ao lado.

― Isabella ― ela falou com o restinho de forças que lhe restava e sorri para ela enquanto preparava o que ela comeria. Coloquei a bandeja em suas pernas e fiquei um pouco mais perto, para ajudá-la a comer. ― Como posso saber que não está envenenado? ― ela gaguejou e quase não entendi.

Ri para ela, mas sem qualquer deboche. Peguei um pedaço de cada coisinha que estava na bandeja, inclusive o suco, para que ela tivesse confiança em mim. Isabella sorriu e tentou apontar para um pedaço de bolo que peguei e coloquei em sua boca calmamente e em pouco tempo, tudo o que estava na bandeja acabou.

― Parece que você gostou – brinquei com ela e ela sorriu um pouco melhor que antes.

― Obrigada Elisa, mas eu quero ir embora. – Ambas suspiramos tristemente e abaixei a cabeça, mas acariciei sua mão.

― Você não tem mais essa opção, pequena, mas pode melhorar sua vida por aqui. E terá uma amiga aqui para cuidar de você também. Tudo depende de como você tratará as pessoas aqui, mas agora eu vou cuidar desses seus ferimentos.

Isabella se arrumou naquela enorme cama e me levantei para pegar uma caixinha com alguns objetos de primeiros socorros. Tirei algumas coisas de lá e deixei em cima da cama. Comecei com uma pomada que não a faria dormir, mas aliviaria sua dor enquanto fechava suas feridas.

― Morda isto. – Dei uma toalha macia para Isabella e a mesma fez o que eu falei.

Passei a pomada pelas primeiras feridas e peguei o kit de sutura dentro da caixa. Lavei minhas mãos com vodka e lavei os objetos com álcool. Joguei um pouco dentro dos cortes, mas Isabella não sentiu. Olhei e vi que estavam bem fundos e suspirei antes de preparar tudo. Olhei mais uma vez para ela e a mesma estava com os olhos fechados e cobertos com a toalha para que ela não visse o que eu iria fazer.

― Seja forte, pequena. – Enfiei a agulha em sua primeira ferida e ela soltou um grito abafado pela toalha que estava em seu rosto, mas pelo susto. Continuei enquanto ela tentava relaxar, mas tentando controlar seu medo, pensando em qualquer outra coisa para que acabasse logo.

Demorei alguns minutos para que todas as feridas estivessem fechadas e limpei suas manchas de sangue seco pelo resto do corpo. Enfaixei suas feridas e imobilizei onde ela mais dizia doer. Por fim, limpei os cortes menores que provavelmente foram feitos pela queda quando ela foi sequestrada e novamente sentei na cama, tirando a toalha de seu rosto com calma.

― Venha, vou te dar um banho. ― Segurei o braço dela, ela estava um pouco mais forte, então só a peguei pela cintura e a levei para o banheiro dentro do quarto.

Sentei ela na borda da banheira e escovei seu cabelo enquanto ela olhava para seus dedos. Estavam sujos de sangue, mas sem feridas. Coloquei a água morna na banheira com alguns sais sem aromatizantes e ajudei-a a se ajeitar, iniciando aquele banho.

19hs05min ― Isabella.

Eu estava presa apenas numa corrente em meu pé, mas livre na cama e com uma bandeja com pães e suco de maçã em meu colo. A porta na qual eu sabia que levaria ao resto da casa, se abriu e o mesmo homem entrou no quarto, agora com uma calça de moletom preta, descalço e uma camiseta acinzentada. Me encolhi na cama e ele sentou quase no meio da cama, ficando bem perto de mim.

― Meu nome é Renan, Bella. ― Sua voz era tão bela quanto ele mesmo.

Continuei em silêncio, mas quase hipnotizada com a beleza daquele homem que estranhamente tinha a calma no olhar, mas carregando a morte e o perigo em seus olhos; o medo era cada vez maior, mas ainda assim, não conseguia tirar os olhos daquele "demônio grego".

― Eu sei que você está com medo. ―Ele sorriu de forma maliciosa. ― Eu quero saber mais sobre você. Quantos anos você tem, Bella?

― Vinte e três ― quase sussurrei.

― Você é virgem, Bella? ― abracei minhas pernas, mesmo com a dor insuportável.

― Todos estão interessados nisso ― falei de maneira quase inaudível – Sim.

― Sorte a sua. – Ele se levantou e foi até alguma das portas. – Ficará viva por isso.

Renan pegou um pacote e uma espécie de cinto pequeno além de acender uma lareira que ficava perto da janela. Aproximou-se novamente de mim, já com um olhar muito mais demoníaco que o olhar daquela garota no banheiro da festa. Prendeu as algemas ainda mais firmes em minhas pernas e braços e se ajoelhou entre minhas pernas, vendo as lágrimas de súplica e sorrindo para mim o tamanho prazer que sentia com minha dor.

― Por favor, eu nunca fiz nada para você! Sequer sem quem é você! – implorei em vão.

―Nós apenas vamos brincar um pouquinho. Eu te conto as regras da casa e, talvez, caso você queira viver mais algum tempinho, você me obedeça. ― Ele rasgou a camisinha enquanto olhava fixamente para mim.

Talvez queira viver mais algum tempinho, Arabella.

Arabella - Autodestrutiva Onde histórias criam vida. Descubra agora