Renan
Mesmo com o que Elisa insistia em jogar na minha cara, tudo o que eu conseguia sentir era raiva de mim mesmo. Matheus sempre foi romântico e sentimental demais, mas ela sempre soube o que sentir e o que falar. O desejo de vingar sua morte ainda permanecia em mim, contudo cada vez mais fraco ao entender que Isabella realmente era tudo o que eu tinha a partir dali junto à principal lembrança do melhor amigo que eu pude ter.
Eu realmente não posso perder essa garota, mas infelizmente é exatamente isso que aconteceu.
Elisa ainda me olhava, mas minhas covardia me impedia de devolver o olhar, ela parecia ler meus pensamentos.
- Ela me odeia, Liz. E o pior disso é saber que ela tem razão, eufemismo é o que ela sente por mim porque qualquer pessoa sã sentiria coisas bem piores. – não a chamei assim desde os nossos 10 anos de idade e provavelmente ela havia percebido isso, dado o silêncio ao qual ela permaneceu por alguns segundos.
- Você não é mais aquele homem e por mais que continue com a mesma aparência, ela foi capaz de amar quem tanto a feriu, será capaz de amar quem possa curá-la. Apenas tire o medo que ela sente de você. – mais uma vez ela me abraçou, me deixando sem reação.
Após algum tempo, Elisa voltou para o centro da cafeteria, encontrando Rafaella e sentando com ela. Voltei para o quarto e sentei novamente ao seu lado, esfregando o rosto com agonia por não saber como lidar com a novidade: lágrimas.
Isabella continuava desacordada, mas parecia finalmente em paz. Vê-la assim me dava certo pânico, mas sentir sua respiração me acalmava novamente. Segurei sua mão e acariciei seus curativos de forma desajeitada, já que nunca fiz nada além de ferir alguém.
- Eu sei que só você pode me salvar, Bella, e eu queria poder de alguma forma me desculpar por toda a monstruosidade que eu fiz com você. Se você quiser ir, eu te entendo, você merece paz. – encostei minha testa em nossas mãos e foquei minha força em controlar aquele nó na garganta.
- Eu não consegui. – estremeci ao ouvir a voz falha e decepcionada de Isabella.
- O que? - Levantei o rosto e apertei levemente seus dedos, apreensivo.
- Eu não consegui fazê-lo me amar. Eu juro que tentei todos os dias, com todas a dor que você me causou e eu continuei tentando. Eu ouvi as enfermeiras falarem que a única forma de eu te amar é tendo síndrome de Estocolmo quando eu estava desacordada, mas eu amei você mais que tudo e não foi uma doença que causou isso, eu tenho certeza que não sentiria o que senti por conta de uma merda de doença. Não consegui e agora eu só quero morrer, então me deixa ir de verdade, não fala isso da boca pra fora. – seu olhar estava frio e insensível, mesmo com lágrimas; e os meus novamente estavam embaçando, tudo aquilo me sufocava. Em outro momento, mandaria matar as malditas enfermeiras que tiveram coragem de falar algo, mas eu não conseguia encontrar aquele Renan.
Agora não, porra. São sentimentos novos demais e você não pode simplesmente chorar na frente dela.
- Eu não consigo querer que você morra, Bella.
Abaixei a cabeça para tentar impedir que ela ouvisse o que eu estava prestes a dizer:
– Você conseguiu.
Isabella
Encarei a parede sem conseguir me mover. Por mais fraco e simples que fosse o toque em mim mão, sentir sua pele na minha queimava, doía.
- Eu sempre pensei que tudo fosse uma lenda, ou no máximo algo que acontece com meninas de aldeias humildes da África, talvez na Deep Web, mas você conseguiu bonecas e eu sei que não sou mais que isso. Eu apenas ainda tenho braços e pernas, mas talvez isso seja uma questão de tempo.
Eu não queria ceder, não queria me permitir ir embora. Renan já havia me matado, mas eu continuava lutando como se fosse possível algo me ressuscitar.
- Eu sou um monstro, Isabella. Matei meus melhores amigos a pedido do homem que praticamente me criou e que era o pai deles, além de tantas outras coisas, mas eu não quero mais ser isso, eu quero ser outra pessoa e quero cuidar de você, eu só preciso aprender. – sua voz soava sincera, mas não conseguia olhá-lo.
- Você nunca cuidou de mim e não precisaria cuidar de mim se não tivesse me ferido. Você destruiu meu futuro e eu sequer sei o motivo.
- Eu só te amo, não posso mudar tudo o que eu fiz. – vi de relance seu rosto brilhar. Renan está chorando? – Eu faria qualquer coisa pra mudar isso, nem que fosse preciso trocar de corpo contigo.
Renan beijou minha mão, fazendo a área formigar. Levantou-se e olhou novamente para mim, esfregando o rosto com certa urgência.
- Será que você um dia será capaz de me perdoar? – sussurrou, mas com certo esforço consegui ouvir. – Eu vou avisar a Elisa que você acordou. Tchau, Bella.
O homem saiu da sala, me deixando sozinha comigo mesma, com dúvidas, com dores, com pensamentos inacabáveis.
Será que eu sou capaz de perdoá-lo algum dia?
Será que isso realmente é uma doença?
Será que ele realmente me ama?
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Arabella - Autodestrutiva
AcciónGuerras de Máfias. Tortura. Diversão. Arabella muda deu nome para se proteger de um mundo que não era seu, mas por algum motivo seu caminho cruza com o caminho da pessoa errada. Morra antes que ele chegue, "Isabella", sim, morra. Seu papai não e...