Capítulo 18

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Dois dias depois – Isabella

Minha cabeça doía como nunca doeu antes, nunca mais reclamaria de uma enxaqueca caso eu tivesse novamente uma – o que era bem improvável. Aquela luz fazia minha dor aumentar.

- Com certeza eu tenho mais de sete vidas e esse homem está tentando achar a última. – falei baixo, com lágrimas nos olhos por não suportar tanta dor e olhei para o lado, vendo uma poça considerável de sangue seco espalhado pelo chão e com boa parte do meu cabelo também sujo. Alguns cacos de vidro e pedaços de madeira quebrada estavam a certa distancia de mim e pareciam ter sido empurrados por alguém. – Nossa, ele se preocupou comigo, até afastou os cacos para eu não me machucar. – debochei.

Tentei me levantar, mas a fraqueza fez com que meu corpo caísse novamente nos poucos centímetros conquistados. Gemi de dor.

Você precisa chegar ao banheiro, Bella. Arraste-se.

Obedeci meus pensamentos e me arrastei com toda a força que me restava para dentro do banheiro. Empurrei mais alguns pedaços do que parecia ter sido a porta e com muita dificuldade, encostei-me à banheira para tirar a roupa rasgada que me cobria.

Você não consegue tirar essas ataduras, vá assim mesmo. Melhor alguns curativos molhados que um cabelo fedendo a sangue podre. Como conseguir passar por tanta humilhação?

Liguei a torneira e joguei meu corpo para dentro da banheira, esperando a mesma encher enquanto descansava de todo o esforço que fui obrigada a realizar. As feridas ardiam com a água que aos poucos ficava vermelha pelo sangue. Parece que esse foi o banheiro mais doloroso que já tomei.

Após sentir que fiquei horas na banheira, a água ficar clara novamente e minhas mãos parecerem pêssegos, consegui sair com apoio de alguns objetos ao redor. Engatinhei até o closet, fazendo algumas pausas para respirar, mesmo com menos de 10 metros de distância. Pus um vestido leve de alças finas e deixei meu cabelo como saíra do banho, molhado e embaraçado.

Mais alguns minutos foram necessários até eu finalmente dar a volta por toda aquela sujeira e conseguir deitar na cama. Relaxei, deixando todas as dores virem com toda a intensidade, me arrancando soluços pela dor – não só física.

Como pude ser tão burra a ponto de acreditar que era possível ter um humano dentro de Renan? Todos os momentos e maldades que ele fez e ainda assim continuei pensando que ele pudesse ser outro, mas não é nem nunca será. Ele finalmente conseguiu tirar o resto da minha vida e todo o desejo que eu poderia ter é a morte.

Talvez o momento de dar um fim nisso seja esse e seja eu a pessoa que deve realizá-lo, já que aquele monstro não foi capaz de terminar o que começou.

10h00 – Renan

Tentar lembrar o que fiz com Isabella me dava ainda mais dor de cabeça pela ressaca que decidiu se estender por mais de um dia. Mesmo sem a lembrança, de alguma forma conseguia saber que era algo grave demais ou não haveria marcas de sangue por todo o caminho que sai do quarto dela e vem até o meu. Ela poderia ser a pior pessoa do mundo, mas com certeza não conseguia mais vê-la como merecedora de tudo aquilo.

Não importa o merda que você virou e foda-se se ela merece ou não, você a trouxe como uma garota qualquer para se divertir e ela vai terminar assim até você enjoar. Ela não faz diferença nenhuma na sua vida, Renan.

Visitei Isabella todas as manhãs desses dois ou três dias; vi seu sangue secar no chão, mas tudo o que tive coragem de fazer foi afastar aqueles pedaços de vidro e madeira na última noite que a visitei. Aquele vidro foi quebrado quando Isabella tentou me impedir de estuprá-la e com isso, ganharia uma boa cicatriz em seu braço. Ela conseguiu me impedir, mas com certeza isso não faria nenhuma diferença agora.

Respirei fundo e fui mais uma vez ao seu quarto, encontrei tudo silencioso e nenhum gemido de dor ecoava pelo quarto. Puta que pariu, eu matei ela.

Abri a porta e vi o mesmo sangue seco e todo o resto da bagunça, mas ela não estava lá. Milhares de pensamentos enchiam minha mente enquanto andava até o rastro de sangue que chegava ao banheiro e closet, sentindo uma preocupação que não me lembro de ter sentindo durante minha vida.

Isabella estava na banheira, desacordada na água suja de sangue. Aproximei-me para confirmar que ela apenas estava dormindo e após saber, soltei o ar com alívio. Sentei no banquinho ao lado da banheira e quando olhei novamente para a menina, percebi algo um metálico na água, ao identificar um canivete, meu coração disparou.

Joguei-o longe e peguei-a no colo, percebendo que seus dedos também pareciam feridos. Coloquei seu corpo desacordado na cama e pude enxergar as marcas de unhas no armário que guardava os objetos de tortura. Ela lutou para conseguir abri-lo.

Procurei ferimentos em seus braços, pescoço ou qualquer outra parte de seu corpo, mas nenhum parecia ter sido feito por ela mesma. Permiti-me esquecer de toda aquela força que eu fiz para criar alguém impenetrável e apenas a abracei, aproveitando sua inconsciência para apertá-la com um pouco mais de força sem que a fizesse sentir mais dor.

- Você tentou acaba com toda essa dor que eu te causei. – sussurrei em seu ouvido, sentindo meu rosto queimar.

"Morra antes que ele chegue, Arabella, sim, morra. Seu papai não está aqui para protegê-la dessa vez". 



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  E aí, gente? Passando mal junto comigo? 

Aguentaram esse tiro? Porque eu como leitora estou me odiando como escritora, kkk. 

Eu tentei deixar o mais claro possível durante esses capítulos e já adianto que é uma boa vocês lerem a sinopse de Arabella - Autodestrutiva para suas mentes explodirem (caso ainda não tenha acontecido). 

Beijinhos! <3

Arabella - Autodestrutiva Onde histórias criam vida. Descubra agora