Capítulo 14

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Arabella

Acho que Renan riria da minha expressão tão surpresa se não estivesse tão abalado com alguma coisa. Eu o afetei tanto assim?

Ele tirou todas as ataduras com um cuidado que eu não sabia que ele era capaz de ter e, quando fiquei sem qualquer proteção, não olhou para meu corpo, mas para minhas feridas e se não fosse alguém tão mal, poderia pensar que não se tratava das feridas externas. Ofereceu-me algum remédio, mas não insistiu quando recusei, começando a limpar tudo com calma e uma quase paciência.

Suas mãos corriam lentamente por cada ferimento, concentrado demais e tirando minha sanidade já que parecia cada vez mais existir algum sentimento bom por mim naquele homem. Ele não é bom, Arabella, não perca sua sanidade.

- Por que você está cuidando de mim? – como de costume, deixei as palavras saírem sem pensar nas consequências que eu poderia ter.

- Eu fiz isso com você. – ele abaixou a cabeça, parecendo querer esconder algum em sua expressão.

- Desde quando você se importa? O que aconteceu contigo? – Renan fechou os olhos por alguns segundos e apertou minha pele, fazendo-me gemer de dor, mas perdendo minha capacidade de sentir raiva daquele homem que me destruiu. O que está acontecendo com você, Arabella? Ele não mudou, você está ficando maluca.

- Cala a boca, Bella. – o homem soltou minha pele, talvez percebendo o que estava fazendo.

Seu rosto estava vermelho e rígido, como alguém que sente ódio exagerado. Por mais que eu quisesse, eu era incapaz de não sentir medo de Renan. Seus olhos esverdeados eram dignos de um assassino de contos de horror, mas ainda assim, a sua beleza era um destaque nesse conto.

- Desculpa, senhor. – sussurrei.

Por mais que eu minha maior vontade fosse ser uma pessoa normal e sentir ódio de Renan, parecia impossível não me sentir atraída por ele. Eu estava cada vez mais surpresa por tê-lo cuidando de mim ao invés de me torturar de alguma forma.

Talvez esse homem tenta me ferido tanto que as sequelas já não sejam mais marcas na minha pele. Era incomum ver o quanto estava sendo atencioso e calmo em cada procedimento. Ao terminar, pôs curativos pequenos, proporcionais aos ferimentos para que meu corpo ficasse um pouco mais livre.

- Obrigada. – gaguejei, deixando minha voz quase inaudível.

Por mais que Renan fosse o autor e culpado disso, realmente havia agradecimento em mim por estar sendo cuidada e não assassinada. Ele guardava as coisas de cabeça baixa e em silencio. Sentei um pouco mais próxima dele e tirei a caixa de suas mãos, mas ele continuou olhando para baixo, me mostrando que ele não via qualquer possibilidade de aproveitar os objetos cortantes dentro da caixa para me ferir da mesma forma que eu já não encontrava forças nem vontade para machucá-lo.

Puxei levemente seu rosto, sentindo meu corpo entorpecer por estar tão doente mentalmente para reconhecer a gravidade do que eu estava aceitando fazer comigo mesma. Admirei sua beleza por alguns segundos, seus olhos estavam vazios e escuros, tristes. Parecia ter chorado, mas alguém como ele poderia chorar e sentir algo humano?

Finalmente colei nossos lábios, iniciando um beijo ao qual Renan correspondeu demonstrando necessidade. O gosto metálico e a pele um pouco áspera da parte interna seus lábios me deu a conclusão de que seu provável nervosismo o fez morder a si mesmo, deixando alguns cortes.

Com a sua costumeira brutalidade, Renan me empurrou na cama, soltei seus lábios, gemendo com a dor causada na pressão feita em cima dos ferimentos e hematomas. Em poucos segundos, ele estava em cima de mim, a caixa caída no chão e seus lábios ferventes no meu pescoço, chupando e lambendo a pele fina.

As mãos dele desceram até minhas coxas de uma forma que ainda assim, era capaz de segurar o seu peso o suficiente para não me machucar. Suas unhas roçavam minha pele, me fazendo arrepiar com seus toques e gerando uma dor cada vez mais intensa, e ainda assim, boa de alguma forma.

Sua boca voltou à minha, mordendo meus lábios e me provando. Dessa vez ele não parecia querer me ferir ou despejar seu ódio, era apenas alguém que me fazia sentir meu ventre formigar. Suas unhas foram arranhando até chegar a minha bunda, onde apertou, despejando apenas um tapa e apertando novamente para diminuir a ardência que ficaria na área.

Sua boca desceu até meus seios, onde chupou e mordiscou com necessidade, mas sem fazer força. Era como se dessa vez, sua preocupação fosse me dar prazer e não o contrário. Seus movimentos eram cuidadosos e sem pressa, me arrancando gemidos o suficiente para preencher o lugar. Uma de suas mãos massageava um de meus seios e outra acariciava a lateral da minha cintura e em casa toque, minha pele parecia queimar.

Soltei um suspiro de derrota ao ver que Renan parou, mas não desceu seus beijos até onde eu tanto queria, mas subiu e deixou mais alguns beijos curtos antes de me olhar ainda próximo de mim.

- Eu sei que não tenho como eu ser perdoado pelas coisas que eu fiz, como você disse, eu matei você e não existe poção mágica para trazer alguém à vida. Ah, como eu queria que houvesse. – ele apertou os olhos, parecendo querer segurar as lágrimas e ficou em silêncio por algum tempo, criando forças para continuar. Fiquei parada, olhando e acariciando seu rosto, dando o tempo necessário para ouvi-lo, afinal, acho que nunca ouvi sinceridade em sua voz. – Eu poderia ter foder agora, levantar e ir embora, mas isso faria com que eu continuasse sendo o mesmo mostro e eu não... eu sempre vou ser um monstro. Eu quero tentar cuidar de você e aliviar a dor de viver tão miseravelmente.

O moreno olhava em meus olhos, sem sair de perto de mim por nenhum segundo, esperando uma resposta a exposição que fez consigo mesmo.

- Eu não sei o que dizer, mas desde que entrei aqui, o "não" nunca foi uma opção aos seus atos. Nesse momento, é a resposta ao seu pedido de perdão, não posso perdoar alguém tão cruel, mas eu seria você se tirasse seu direito de tentar. – um olhar de compreensão foi lançado a mim. – Não me fira mais, por favor. Eu não sou o alvo das suas dores, se resolva com você mesmo.

Renan assentiu e saiu de cima de mim, dizendo que voltaria em algum tempo. Saiu do quarto, trancando novamente a porta e me deixando sozinha novamente.

Levantei e sentei perto da janela, olhando as árvores se movendo com o vento que estava lá fora, brilhando vez ou outra quando o sol fugia das nuvens. Será que tudo aquilo era mais uma forma de me acalmar antes de me ferir de novo ou Renan realmente era capaz de amar? 

Arabella - Autodestrutiva Onde histórias criam vida. Descubra agora