Mais alguns dias depois – 02h25min – Renan
Isabella continuava pálida e com os lábios rachados. O médico também integrante da máfia a visitou mais vezes que o normal até que fosse capaz de me garantir que mesmo perdendo tanto sangue, com algumas bolsas, soro e remédios, ela não morreria. Depois de dias do ocorrido, ela continuava desacordada, contudo vê-la tendo pelo menos um pouco de descanso do inferno que lhe causei era reconfortante, ela merecia não sofrer... Um pouco.
Mesmo demorando tanto, o tempo que tive me fez perceber que meu amigo estava certo, mas era tarde demais para ser perdoado por Isabella – se é que algum dia isso foi possível – e mais ainda para agradecê-lo por ter aberto meus olhos ao resquício de humanidade que eu ainda possuía.
Sentei na cadeira ao seu lado e peguei um livro que ela lia e folheei algumas páginas, lembrando de quando Bella chegou a casa. Ela já não era a mulher que conheci antes de sequestrar, a pessoa linda e animada que me chamou atenção naquela festa. Ela estava mais magra, perdeu completamente o brilho em seus olhos e nunca mais pude ver aquele sorriso que vi quando dançava, ela era um corpo numa cama de hospital, com cicatrizes permanentes em seu corpo e olheiras fundas e cultivou em seus dias de pânico causados por mim.
- Renan... – levantei o olhar e encontrei uma Elisa apreensiva e quase tão abatida quanto eu. Queria falar qualquer coisa, mas meu corpo estava quase tão quebrado quanto o de Isabella. – O que aconteceu com ela?
Elisa pôs suas mãos na perna da garota desacordada e acariciou, esperando uma resposta.
- Eu a matei. – e pela primeira vez, senti a dor horrível de se arrepender de algo.
06h40min – Elisa
Fazia algumas horas que eu estava sentada no chão daquele hospital. Isabella continuava desacordada e vez ou outra nos dava sustos com seu coração fraco e a necessidade de mais e mais adrenalina para viver.
Renan dormia sentado na cadeira ao seu lado, com a cabeça apoiada na cama, quase na barriga de Bella. Nunca pensei que veria meu irmão daquela forma, mas talvez ele tenha encontrado a si mesmo quando conseguiu amá-la.
Levantei sem fazer barulho e saí do quarto, deixando os dois dormindo. Segui até a cafeteria e vi que tinham alguns mafiosos tomando café. O céu começava a clarear, porém daria um dia chuvoso.
- Oi. – sentei, sem qualquer preocupação em esconder meu desânimo e exaustão.
- Como a garota está? – Ágatha não parecia tão preocupada.
- Desacordada. – Por mais que ela houvesse nos salvado, não conseguia confiar completamente em suas intenções ainda não expostas.
- Renan não saiu de lá até agora. – Adriel suspirou antes de beber mais um gole de seu café.
- Ele a ama? – Ágatha mais uma vez se envolveu e estava começando a me irritar.
- Não consigo acreditar que o Fernandes finalmente ouviu alguém. – Rafaella praticamente sussurrou para mim.
- Matheus estaria orgulhoso dele agora. Talvez nem houvesse essa merda toda também e Isabella poderia ter um corpo sem tantas marcas. – Gabriel abaixou a cabeça e pude ver Renan se aproximando.
Corri até seu encontro, abraçando-o. Depois de relutar, finalmente cedeu e escondeu seu rosto em meu pescoço, permanecendo lá durante nosso diálogo.
- O que ele falou sobre ela? – sussurrei em seu ouvido.
- Disse que ela me salvaria do que eu me tornei e que eu a amo.
- Ele estava certo? – mesmo sabendo a resposta, deixei que pensasse um pouco consigo mesmo. – Está na hora dessa máfia acabar. Todos nós temos dinheiro o suficiente e nossas formações em profissões legais para o caso de acabar. Você precisa da Isabella e precisa aceitar isso.
- Não posso simplesmente acabar com uma máfia, muito menos com a minha vida por uma garota qualquer. Ela só sofreu mais que as outras e por um azar enorme, continuou viva, mas tudo acaba da mesma forma. – senti vontade de matá-lo ali mesmo, mas controlei todo o meu ódio.
Respirei fundo e tentei agir como Elisa e não como Renan. Empurrei-o com leveza e puxei seu braço até uma das mesas da cafeteria, sentando ao seu lado no sofá acochoado.
- Está na hora de você virar um homem. Não é porque você é um merda que não sente nada matando pessoas que a sua vida precisa disso, muito menos que ela merece isso, seu babaca. Você destruiu a vida da Isabella enquanto ela te amou, você acabou com tudo o que restava dela, inclusive a sanidade que ela tinha para ter medo de você. Agora para ser um fraco e devolva a vida a ela e a você, porra.
- Você não tem e nunca teve o direito de falar assim comigo, Elisa. Ser seu irmão não me torna menos chefe. – sua voz estava fraca e mesmo que forçasse, não conseguia demonstrar raiva ou intimidação. Vi os mafiosos saírem de lá, arrastando Ágatha e deixando apenas Rafaella que também se distanciou o suficiente para nos dar liberdade.
- Nesse momento você não é nada além de um lixo, e me perdoe se o Matheus usava eufemismo para te fazer abrir os olhos, você não merece isso. Você está vulnerável e isso nunca mais irá mudar, o que é ótimo. Cuide dela e preserve a lembrança do que seu melhor amigo te desejou felicidade e humanidade. Ele estaria...
- Orgulhoso. – vi seus olhos marejados e senti alívio de ver que realmente existia um ser humano ali dentro.
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Arabella - Autodestrutiva
AcciónGuerras de Máfias. Tortura. Diversão. Arabella muda deu nome para se proteger de um mundo que não era seu, mas por algum motivo seu caminho cruza com o caminho da pessoa errada. Morra antes que ele chegue, "Isabella", sim, morra. Seu papai não e...