Percy queima as panelas

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Há duas semanas, mais ou menos, Annabeth fora ao médico fora de Nova Roma para descobrir se estava tudo bem.

Percy e a filha de Atena estavam tentando ter filhos, mas Annabeth suspeitava que sua descendência da deusa atrapalharia os planos.

Mas o que seria dela e de Percy sem uma família? Suas vidas se resumiriam em lutas, um cão infernal e nenhum legado. Deprimente.

-Annabeth Chase – A recepcionista chamou.

Sim, Annabeth ainda usava o nome de solteira, pois, apesar de já morar com o Percy e ter a intenção de constituir família, ambos não se atreveram a um casamento formal.

Hera não aceitaria e seria o fim. Estavam bem onde estavam.

Annabeth levantou-se de seu lugar na sala de espera, deixando a cadeira quente para quem quisesse disputar um lugar e seguiu na direção que a moça jovem, porém cansada, lhe apontou.

-Sala cinco, querida –A moça (Johanna, de acordo com o crachá), lhe dissera – terceira porta a esquerda no corredor.

-Certo, obrigada – Annabeth agradeceu, seguindo quase confiante.

Annabeth não queria admitir que estava com medo, mas estava. Queria que Percy estivesse com ela, mas o convenceu que estaria em perigo maior se ele fosse com ela, afinal, Percy era o maior farol para monstros.

-Certo, o que temos aqui? – O médico perguntou, talvez para si mesmo, enquanto juntava uma papelada que Annabeth supôs ser dela e olhou – Está a quanto tempo tentando ter filhos, Senhora Chase?

-Aproximadamente três anos e meio – Annabeth mordeu o lábio inferior ao dizer.

Estavam tentando há tanto tempo e não tinham êxito, obviamente, enquanto seus amigos já tinham seus primeiros legados nos braços sem todo esse esforço.

Hazel e Frank, bom, na verdade Hazel, mas eles eram como um só – principalmente depois de se casarem – e estavam esperando um bebê.

Piper e Jason tinham uma linda menininha de dois anos e meio, Lauren e estavam planejando um irmão ou irmã para ela.

Leo e Calipso conseguiram antes mesmo de pensar em tentar. Tinham dois meninos, de quatro e três anos e uma garotinha de dois. A suspeita era que logo viria mais, pois eles não paravam nunca.

E Annabeth não queria admitir que invejava-os. Percy não os invejava, mas talvez fosse lento demais para isso.

-Certo, certo –O doutor acordou Annabeth de seus pensamentos.

A loira passou a decifrar sua expressão. Ele franzia a testa, insatisfeito ou confuso, e sua boca se transformou em uma linha reta. Estava calculando como dar más notícias.

-Infelizmente, Senhora Chase – ele disse – a senhora e seu marido vão ter que procurar métodos não-naturais de concepção.

Annabeth engoliu um soluço e olhou para as mãos.

-Seu corpo não tem capacidade de abrigar uma criança...

O que o médico dizia, apesar de não ser uma surpresa, não era o que Annabeth queria ouvir. Não sabia o que diria a Percy agora, uma vez que ele a esperava, ansioso, na casa dos dois.

-Esse exame aqui – o médico apontou – mostra que uma fertilização in vitro não seria possível. Sinto muito.

Annabeth olhou, ainda sem dizer nada. O médico lhe deu espaço.

-Tem que haver alguma coisa, não? – ela perguntou com a voz embargada.

-Han... Sempre há a adoção –O médico lhe disse.

Ele deixou que Annabeth pensasse mais um momento, até que ela se sentiu disposta e foi embora.

Em casa, Percy estava fazendo o jantar. Ou tentando, pois havia muita bagunça e pouca coisa que realmente parecesse ter dado certo.

Annabeth jogou-se no sofá, apoiou os cotovelos nas pernas e escondeu o rosto nas mãos. Chorou.

Não que sempre quisera ser mãe, mas não poder ser mãe quando de repente se quer, era horrível. Ela queria Percyzinhos e Percyzinhas correndo pela casa e pedindo para brincar com os filhos de seus amigos.

-Oh, Annabeth! –Percy exclamou, notando sua presença, sentando-se ao seu lado e passando um braço em torno dela enquanto uma mão acariciava seu braço – Eu juro que não ferrei muita coisa. Bom, ferrei, mas dá para arrumar...

Isso, por algum motivo, ou motivo algum porque provavelmente não era mesmo motivo, fizera o choro de Annabeth se intensificar e seus ombros sacudirem com o choro e o soluço.

-Oh... – Percy lamentou, entendendo – Isso não tem nada a ver com a cozinha, não é mesmo?

Annabeth obviamente não respondeu, mas não era preciso.

Percy Jackson a abraçou, fazendo com que deitasse sobre seu peito e a deixou chorar embalada em seu abraço. Uma lágrima, que não era de Annabeth, escorreu por seu rosto.

Uma qualidade que era um encaixe essencial para Annabeth, era o fato que Percy, mesmo não sabendo falar muito bem, sabia dar o apoio que precisava deixando apenas que chorasse deitada em seu peito.

-Não poderemos ter bebês, Percy –Annabeth disse-lhe algum tempo depois.

A altura daquele momento, a comida que Percy preparava já deveria ter passado do ponto para um estado de panelas carbonizadas.

Não seria a primeira vez.

-Daremos um jeito, Annabeth –Percy a assegurou – sabemos que isso poderia acontecer... Não é como se... eu fosse te largar por isso ou algo assim.

-Eu sei... – Annabeth murmurou.

-Hey – Percy disse, erguendo o queixo de Annabeth para que ela olhasse em seus olhos – o importante é estarmos juntos, não é mesmo, linda?

Annabeth deixou escapar um riso fraco. Só mesmo Percy, para olhar o rosto inchado e manchado de choro de Annabeth, os cabelos grudados em sua face molhada e infeliz e a chamar de linda.

Percy sentiu-se satisfeito consigo mesmo por tê-la feito rir um pouco.

-Sim. O importante é estarmos juntos.

-Daremos um jeito juntos – Percy prometeu.

Annabeth ergueu uma sobrancelha.

-O que está pensando, Cabeça de Alga?

Percy deu um sorriso de lado, mas não respondeu imediatamente.

-Que daremos um jeito, só – Então ele olhou para Annabeth de sobrancelhas erguidas – Você é a mulher das ideias afinal.

-Mulher das ideias? –Annabeth questionou o novo apelido.

Percy sorriu e depositou um beijo em sua testa, sua expressão era de quem estava tendo uma daquelas ideias completamente idiotas e perigosas que poderia explodir o mundo e o universo, então tudo realmente ficaria bem para os dois. Estavam juntos nessa.

LullabyOnde histórias criam vida. Descubra agora