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Estou aflita. Sentada ao chão estou, com as costas encostada na porta. Abraço minhas pernas e apoio o queixo no joelho. Sinto um nó na garganta. Cerro os punhos. Aperto os dentes, trincando meu maxilar. Aperto os olhos.

Uma lágrima brota em meus olhos. Enquanto ela escorre pelo meu rosto, passa um filme de minha vida na minha cabeça. Minha faculdade, estava tão bem, só faltava um semestre, eu sou uma das melhores da turma. Minha família, como estão agora? Queria tanto dar um abraço em meus pais, em meus primos, em meus amigos. A Laura, mal sabe cozinhar, coitada, deve estár morando em uma lanchonete. Como me arrependo do que fiz, como me deixei enganar por um troglodita, Jorge, ai como te odeio...

- Abra a porta! - alguém grita batendo na porta

Acordo do meu transe. Levanto-me ligeiro, respiro e abro a porta. O desgrassado de cabelo comprido está em minha frente, com um pano sujo na mão.

- Venha, você vai tomar um banho - ele me puxa pelo braço, me levando ao final do corredor. Ele abre a porta do mísero banheiro e me empurra para dentro.

- Você vai tomar banho, rápido - me falou pendurando a o pano sujo em um prego na parede - Vou buscar a roupa que você vai vestir, e ande rápido.

Olho em seus olhos fixamente. Cruzei os braços. Ele saiu e trancou a porta.

Que ódio!

Olho para o choveiro, giro a torneira, o choveiro chia, grita,cai um pouco de água, e para. Giro a torneira por completo e começa a cair água com força. Uma água meio escura.

Coloco meu pé debaixo da água, que gelada!, entro debaixo da água, molhando todo o meu corpo, meu cabelo...

Um nojo extremo me faz querer vomitar. O mau cheiro do banheiro exala em minhas narinas.

Esfrego meu corpo com as próprias mãos. Tinha um sabonete na pia, mas não tenho coragem de passá-lo em mim. Desligo o choveiro e pego o pano que estava pendurado no prego. Pegando-o na ponta dos dedos, pois estou com muito nojo. Seco meu corpo, meu cabelo, sempre com o nariz torcido.

O homem de cabelo comprido abre a porta. Me olha, e me dá umas roupas. Estendo a mão e pego as roupas. Ele sai e deixa a porta aberta. Visto as roupas, que não ficam muito bem em mim.

Uma blusa rosa claro, uma calça legging amarela e um tênis branco de mola.

Que horrível!

Melhor do que ficar nua. Saio do banheiro deixando o pano que me sequei em cima da pia.

Ando em direção a sala. Vejo o tatuado em pé, o de cabelo comprido sentado no sofá ao lado da mesma mulher que estava aqui na noite passada. Eles me olham.

Ela está com uma regata preta com a bandeira do Canadá desenhada na frente, uma calça jeans azul-claro. Seu cabelo está todo para o lado esquerdo. Um batom negro destaca em seus lábios grossos.

- Arrume essa garota, para agradar o nosso cliente - o homem de cabelo comprido falou para a mulher.

Ela revira os olhos e se levanta

- Vou gastar minha maquiagem com essa garota? - ela falou torcendo o nariz.

Bruaca!

O homem de cabelo comprido se levantou do sofá e gargalhou.

- Não se preocupe, meu bem. Com o dinheiro que vamos faturar com ela, podemos comprar uma loja inteira de maquiagens para você - ele falou para ela sorrindo - Então, por favor, dê um jeito nessa garota!

Vagabundos!

Ela sorriu, se levantou e andou em minha direção.

Pegou uma cadeira e me fez sentar. Sentei. Ela tirou um estojo de maquiagem da bolsa e começou a "pintar" meu rosto.

O homem de cabelo comprido pega o celular do bolso e coloca no ouvido, se afasta e começa a conversar.

Minha expressão está bem séria, raivosa, irada...
Um angústia toma conta de meu corpo, de minha mente. Um ódio imenso toma conta de mim. Não sei o que está acontecendo comigo, mas estou suando frio. Um calor de raiva sobe por minha espinha...
Essa mulher cafona, tocando em meu rosto, esfregando um pincel sujo em mim...
Cerro os punhos, aperto os olhos...

Solto um grito, mergulho os dedos em meus próprios cabelos. Levanto minha perna e solto um chute na vagabunda, derrubando-a no chão, levanto da cadeira, sento em cima da barriga dela e começo a socar seu rosto sem parar. Meu punho sujo do sangue que escorria de seu nariz, mas continuo socando o rosto dela, gritando, deformando sua boca, o nariz, arrocheando ao redor dos olhos...

Abro os olhos. Estou atordoada. A mulher passa o pincel pela última vez em minha pálpebra. Me dou conta que a agressão foi só um pensamento.
Ela se afasta, pega um espelho de mão e permite que eu me veja. Olho para o espelho e vejo uma garota, magra, mais magra que o normal, pálida, mais pálida que o normal. A maquiagem desfarçava um pouco, mas, não me reconhecia mais...



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