16

20 3 1
                                    

  Reencostada na parede fria estava eu, com minha respiração ofegante e meus olhos fechados. O peso da consciência estava me deixando encurralada em um túnel de emoções e lembraças perturbadoras, que a cada segundo que passava, eu ia mais fundo, desaparecendo na escuridão das profundezas. Agora sou uma assassina, eu sou agora uma criminosa, sou como eles...

  NÃO!

  Me desperto de minha tensão, acordando de meus pensamentos. Arregalo os olhos, analizando cada ponto do lugar ao meu redor, talvez em busca de realidade, não tinha certeza se aquilo fora real.
  Me levanto devagar, engolindo em seco, até que me aproximo da cerca de proteção da sacada e olho para baixo, observando de relance aquela imagem assustadora. Os olhos agora negros daquele corpo no chão me encaravam, pareciam penetrar meu crânio e revirar meu cérebro e até o estômago.
  Respiro fundo, tentando criar forças para acreditar que eu faria aquilo, e sim, eu quem fiz aquilo.

  Eu não sou uma assassina! Eu sou a vítima... Apenas me defendi.

  Tento aliviar minha mente com talvez ilusões de minha inocência, que na verdade, era verídico. Eu não sou a culpada, sou apenas a vítima.

  EU SOU A VÍTIMA!

  Me viro e caminho lentamente em direção as escadas, segurando firme no corrimão e dando passos firmes a cada degrau que piso. Pareciam infinitos, cada vez mais que eu descia, enxergava o último degrau mais distante ainda.

  Paciência...

  Respiro cada vez mais fundo, tentando me concentrar melhor na situação. Até que por fim, piso no mármore liso e espelhado do chão do salão, enxergando meu reflexo escuro como uma sombra.
  Ergo os olhos, tomando coragem para me aproximar. Meu estômago parecia se revirar até torcer como um pano de chão.

  Ai, não...

  Dou alguns passos e paro ali, a pouco mais de um metro do corpo pálido estirado pelo chão. Levo as minhas mãos a minha boca, que estava aberta como se meu queixo quisesse tocar meu peito. Que cena horrível... Balanço a cabeça negativamente, sentindo meu corpo estremecer. Ouço um gritinho de espanto vindo da entrada da sala de jantar, e uma forte ofegância vindo do mesmo. E ao erguer os olhos, vendo ali encostada na parede da sala de jantar com a mão no peito, uma mulher morena de avental cinza. Seus olhos pareciam querer pular de seu rosto, sua boca tremia descontroladamente, com certeza é o espanto de ver seu patrão morto em cima de uma poça de sangue no piso brilhoso que provavelmente ela que o limpava todos os dias.

  - Ca...calma... - tento dizer algo, querendo evitar um escândalo, mas meus lábios trêmulos são incapazes de elaborar qualquer frase

  Pensa!

  Olho para um lado, para o outro, para o morto e para a empregada. Não sabia o que fazer, estava atordoada e... ao mesmo tempo, lá no fundo, aliviada. Eu precisava urgentemente fazer algo, pois a qualquer momento mais alguém apareceria aqui, e não ia acabar nada bem. O que eu iria fazer com este corpo morto? O que diria a empregada? Mas... Ela não tinha visto como aconteceu!

  Isso! Ela não sabe o que aconteceu!

  Respiro fundo, piscando os olhos consecutivas vezes, elaborando talvez uma desculpa na minha mente, tentando agir rápido e sansata

- Me ajuda! - meus joelhos batem com força no chão, quando minhas pernas literalmente somem. Meu grito de ajuda ecoa pelo salão, e a empregada, engole em seco em aflição. Minha boca se contrai e meus olhos absorvem uma ardência molhada, liberando em segundos, uma enchente de lágrimas - Por favor... - imploro, quase num sussurro ensurdecedor, apertando meus punhos contra o chão

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 09, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

O Lago VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora