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Acordo. Não movo meu corpo, apenas meus olhos. Encolhida no chão que está gelado, encaro a parede. Passa uma barata horrível por cima de minha mão, mas não ligo, ela está mais limpa que eu, mais viva que eu.

Ouço um barulho de chaves, a maçaneta da porta gira, a porta abre. O homem de cabelo comprido entra e joga um lençol em mim. Eu me sento. Ele me oferece um prato de sopa ( água e um pouco de macarrão ) . Olho para o prato e entorto os lábios.
Olho nos olhos do cara e dou um tapa no prato, que cai no chão se transformando em vários pedaços. O som do prato quebrando estrondou por toda a casa, que estava em um silêncio total. Levanto-me rapidamente e tento correr, grito desesperadamente, passo pelo corredor sem olhar para traz. Não tem ninguém na sala, salto o sofá, mas antes de tocar o pé no chão eu sinto as mãos do homem me agarrarem. Ele vira meu corpo e me olha com um olhar feroz. Começo a gritar e dar tapas aleatórios nele.
Ele me encosta na parede e coloca uma faca em meu pescoço. Fico calada.

- Grita agora, sua vagabunda! - Ele gritou com os dentes cerrados. Me olhando furiosamente. - Ninguém vai te escutar, só estamos eu e você aqui. No meio da floresta, bem longe da cidade!

Engoli em seco. Ele me puxa pelo braço e me joga no sofá, caio de bruços. Me viro depressa e ele soca meu rosto, me lançando ao chão. Corro de quatro patas arrodeando o sofá, me levanto e saio correndo por um corredor, ele vem andando atras de mim, entro em um banheiro e tranco a porta. Ele bate com força na porta me gritando para abrir, ameaça esfaquear-me se eu não abrir a porta. Mas não abro. Fica silêncio, parece que ele desistiu, mas não sou tonta de abrir a porta.

Sento na privada, me abraço, estou com frio, suja, fedida, com fome... Quero sair daqui, agora.
Olho ao redor, que banheiro sujo! Levanto da privada e levanto a tampa, se tivesse algo no meu estômago eu teria vomitado. Uma crosta de limo por dentro da privada, fezes, fios de cabelo. Acho que eles usam isso aqui como uma lixeira!
Fecho a privada e vou até a pia lavar as mãos, quando abro a torneira "rosna" e solta uma água suja. Que nojo! Melhor ficar sem lavar as mãos.
Me viro para a porta, coloco a mão na maçaneta e respiro fundo. Giro e puxo a porta lentamente de olhos fechados. O ranger da porta me faz tremer. Abro os olhos, não tem ninguém atrás da porta. O corredor enorme está escuro e silencioso, ando devagar, a cada passo a minha respiração fica mais forte. Há muitas portas que dão para outros cômodos, talvez quartos, mas estão todas trancadas. Passo direto e chego na sala, ouço uma música lenta vindo da cozinha. Ando devagar seguindo o som da música, o homem de cabelos compridos está preparando um sanduíche, lambo os lábios. Ele está de costas para mim. Poderia muito bem tacar um vaso na cabeça dele e pegar aquele sanduíche. Mas não tenho coragem, e se ele não desmaiar e me matar?
Ele se vira e fica paralisado ao me ver. Fico imóvel.

- Pensei que não teria coragem de sair do banheiro - ele falou mordendo o sanduíche.

Ele olhou para mim e para o sanduíche duas vezes e depois deu risada.

- Quer?

- Quero! - falei sem perceber. Acho que estou parecendo um cachorro de rua olhando para a vitrine de um açougue.

- Toma - ele estendeu a mão com o sanduíche.

Não sei se tenho coragem de ir até ele e pegar o sanduíche. E se estiver envenenado?

Mas se estivesse, ele não teria mordido, anta!

- Pegue! Vou fazer outro para mim - ele falou sério e grosso

Fui até ele e peguei o sanduíche, me afastei e mordi consecutivamente, devorei em menos de dez segundos. Ele se virou e foi fazer outro sanduíche para ele.

- Onde estamos? - perguntei mas ele não me respondeu.

- Por quê me trouxeram aqui? - perguntei novamente mas ele nem olhou em minha cara.

- Quero ir embora! - Ele fingia não ouvir.

- Cadê o Jorge? - Ele largou oque estava fazendo e caiu na gargalhada.

- Você quer mesmo saber do "Jorge"? - assenti com a cabeça - Deixa eu pensar - ele coloca a mão no queixo e olha para cima - O jorge deve estar agora, em outra cidade, em outra faculdade, procurando outra bonitinha estúpida e sem família para enganar. Igual fez com você! - Ele apontou o dedo indicador em minha direção.

Aquele desgraçado!

Cerro os punhos, faço cara feia, começo a chorar.

- Eu tenho família sim. Só moram em outra cidade!

- Arran - ele fala passando por mim e sentando no sofá.

- Quero minhas roupas - Falei alto.

- Aquelas? - ele falou apontando para a lareira - Ops. Acho que já era!

Arregalo os olhos e ele cai na gargalhada. Depois se levanta e vai em outro cômodo, volta com uma camiseta masculina.

- Só porque sou bonzinho! - Ele me da a camisa.

Pego com raiva. Só aceitei porque estou com muito frio. Vesti e fiquei lhe encarando.

- Oque vocês vão fazer comigo?

- Eu, nada. Mas os outros vão aproveitar... - Ele me olha de cima a baixo e depois se vira. Indo para o sofá, se deitando.
Olho para a janela, está amanhecendo. Só tem árvores lá fora, e uma estrada estreita coberta por galhos e folhas das grandes árvores.

- Se quiser pode fugir. Mas estamos a muitos quilômetros da cidade, não há outras pessoas aqui por perto. E pra chegar a uma estrada você vai ter que andar por umas quatro horas e depois atravessar um rio. Ah, e sem contar que essa floresta é infestada de ursos e onças.

será verdade?

Não vou arriscar, tenho medo desses caras, mas também tenho muito medo de me perder pela floresta, e ser devorada por um animal.

- Vai dormir! Você ainda tem muita coisa para fazer mais tarde. - ele falou se levantando e indo até algum quarto, me chama e vou atrás dele. Ele destranca a porta de um quarto e me manda entrar, entro, ele aponta para um baú me dizendo onde tem cobertores. Ele fecha a porta e eu fico dentro do quarto parada. O quarto é grande mas não tem janelas. Tem uma cama de casal e um baú com cobertores. Arrumo a cama e pego um cobertor, apago a luz e me deito me enrolando. Penso na minha família, nos meus amigos, no meu futuro, no que esses caras vão fazer comigo...

Por quê eu?
Jorge, desgraçado.

Choro muito e depois adormeço.





Até o próximo capítulo!

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