O Lago Verde

12

  Escuto batidas na porta. fico em silêncio. Aperto os olhos sentindo uma forte dor de cabeça. Mais três batidas na porta:

- Vamos! Saia deste quarto, você precisa de um banho e tem que se alimentar...

  A voz parecia do Sr. Dérick,  com certeza é ele. Realmente preciso de um banho, de um ótimo banho. Me levanto devagar, fico de pé e caminho até a porta, abro a mesma saio do quarto. Ele não estava mais ali, já devia ter saído. Ando até as escadas e desço indo até a sala, depois passo para a sala de jantar que fica antes da cozinha.

  Não acredito que estou fazendo isso!

  Avisto o Sr. Dérick saindo da cozinha com uma bandeja nas mãos  Ele coloca a bandeja em cima da mesa, com café, suco, pães, manteiga, geleia, biscoitos e leite.

- É para você, coma bem... - Ele fala educadamente

  Olho incrédula para ele, não vou comer isso sem saber se estar envenenado ou não...

- Beba um pouco do suco... - Falo desconfiada

  Ele me olha confuso, provavelmente sem entender o porquê do meu pedido

- É para você e não para mim...

- Beba! Não confio em você, quem me garante que isso não está cheio de veneno? - Falo em um tom alto

- Está bem... - Ele assentiu com a cabeça e bebeu do suco - Está satisfeita?

- Não! - Olho para os alimentos - Coma de tudo que está aí!

  Ele suspira, olha para um e depois e para os alimentos, logo pega um pedaço do pão e come. Bebe do café e do leite. Come um biscoito com geleia, depois olha para mim.

- Pronto, comi... - Ele fala suavemente - Mais  alguma coisa, querida?

- Sim, outro copo, não vou usar o mesmo que você - Cerro os olhos - E não me chame de querida...

  Ele concorda e pega outro copo, logo sai e me deixa sozinha. Sento na cadeira ainda com receio, olho desconfiada ao redor, pego o copo e sirvo com o suco.

Termino de comer e deixo tudo em cima da mesa. Saio andando pela casa observando os detalhes. Ando por um corredor e chego a uma biblioteca, entro no local e fico andando lentamente observando os enfeites da estante, há alguns porta-retratos com fotos do Sr. Dérick e uma mulher, os dois abraçados à beira de uma praia, pareciam mais jóvens, felizes e com bebidas nas mãos...

- Bonito lugar, né!?

  Me assusto e bato a mão na prateleira derrubando  alguns livros. Olho para traz e o Sr. Dérick está me encarando.

- Ficou louco? Quer me assustar? - Falo ofegante e assustada

  Ele sorrir

- Apenas falei que o lugar da foto era bonito... - Ele aponta para a foto que eu estava olhando - É uma praia no Caribe, essa é minha irmã... - ele baixa a cabeça meio triste - Ela morreu de acidente, era a única pessoa que eu tinha...

- Não quero saber de sua vida... - Falo irritada - Isso não me importa!

  Ele me olha assustado

- Eu só queria ser gentil, apenas conversar com você... Quero que fique feliz!

- Eu não quero conversar, muito menos com você - Aponto o dedo em seu rosto - E como tem coragem de dizer que me quer feliz? Aqui? - Abro os braços apontando para o redor - Eu não quero estar Aqui, você me trouxe contra minha vontade! - Grito

Ele engole em seco

- Vai ficar calado? Seu inútil! - Cuspo nos pés dele - Achou que eu iria me entregar só por que tem uma casinha de praia?

Ele respira e fala: 

- Então vamos para a Cidade, vamos amanhã...

- Eu não quero ir a lugar algum com você!

Ele ergue a cabeça e faz uma expressão irritada

- Então, eu cansei de tentar, não vou mais bancar o bonzinho! Vamos amanhã para a cidade, e ponto final! - Ele grita e se retira

  Fico imóvel, surpresa com a atitude dele, olho para o porta-retrato e o jogo na parede o quebrando, saio da biblioteca e vou em direção ao quarto. Ao passar pela porta, ele está parado próximo a janela.

- Por que fez isso? - Ele fala apontando para a bagunça que fiz mais cedo

- Por que me deu vontade, ódio de você!

- Não precisava bagunçar suas roupas, nem nada...

- Minhas roupas? Isso não é meu, tenho nojo dessas roupas... - Falo torcendo os lábios

- Mas por que? São novas, comprei para você... - Ele diz calmamente

  O que? Essas roupas não são usadas? Sã minhas?

  - Eu não quero essas roupas, não quero nada que venha de você - Grito

- Você poderia gritar menos

- Blá Blá Bláááá! - Grito

- O banheiro fica no fim do corredor... - Ele sai do quarto e fecha a porta

  Espero ele sair e deito na cama, suspiro e me levanto, vou em direção a procura do banheiro e entro, sento na privada e relaxo, acho que liberei  dois litros de urina, tem dias que não vou ao banheiro... Me levanto, tranco a porta e observo o banheiro, que é bem luxuoso, entro na parte do choveiro e começo a tomar banho, lavo meus cabelos, massageio meu corpo, fico um tempo na banheira e depois me seco com uma toalha branca que estava num armário cheio de toalhas. Saio do banheiro  com os cabelos soltos, meu corpo coberto pela toalha, volto ao quarto e tranco a porta. Abro o armário e está todo bagunçado, acho um vestido azul, e o coloco em mim. Jogo a toalha no chão e deito na cama.

Me encolho e me recordo da minha mãe, do meu pai, da Laura, de todos... Como será que eles estão? Onde estão? Devem estar achando que eu morri...

  Percebo uma lágrima rolar pelo meu rosto, aperto os olhos, eu sou muito forte. Onde eu vim me meter? Vou ficar tranquila, vai dar tudo certo e eu vou voltar... Não, eu não vou ficar tranquila, essa angústia me corrói, um ódio enorme no meu coração, raiva, ai como isso dói, mas eu vou conseguir, vou até o fim.