12- Notícia boa e notícia má

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As coisas estavam mais calmas em relação à perda do pai de Alex, apesar da tristeza que sentia a vida teve que seguir. Foram algumas semanas de idas e vindas de Petrópolis para resolver trâmites burocráticos a respeito de um seguro de vida que o pai dele tinha, do qual juntamente com sua irmã Joana, Alex era beneficiário. Não era como se estivéssemos juntos e na verdade não estávamos. Às vezes conversávamos por horas no telefone e ele trocava suas confidências, como sempre foi.

- Acredita que a Marcela inventou de querer colocar homem dentro da minha casa?

- Pelo que me consta a casa é dela também. - Pontuei com indiferença.

- Por pouco tempo. - Ele afirmou. - Ela não vai trazer nenhum marmanjo pra dentro de casa.

- Não vejo problema nenhum nisso. - Retruquei. - Vocês não estão separados?

- É óbvio, Kika. - Ele resmungou. - Eu não ligo se ela tiver um namorado ou vinte.

- Será mesmo? - Prendi o aparelho entre o ombro e a orelha enquanto montava um sanduíche. - Talvez você esteja com ciúmes, já parou pra pensar nisso? Foram anos de relacionamento e isso leva tempo pra melhorar.

- Eu superei. - Ele disse com a conhecida convicção. - Não ligo de verdade.

- Soube que ela tem um namorado. - Comentei em tom conspiratório. - Essas redes sociais entregam tudo.

- Eu excluí ela da minha faz tempo.

- Quanto rancor... - Atormentei um pouco mais.

- Você sabe que não é isso. - Alex bufou do outro lado da linha. - Ela está me infernizando há meses, eu só quero comprar a parte dela na casa e viver minha vida.

- Por que você não vende?

- Ela diz que não tem grana.

- Por que não deixa tudo pra ela? - Sugeri. - Você tem seu apartamento, não precisa disso e...

- Nem pensar!! - Ele foi enfático na negativa. - Você sabe o quanto me esforcei pra conseguir aquela casa! Sabe que por muito tempo paguei as prestações sozinho! Sempre foi tudo nas minhas costas! Por que tenho que deixar pra ela?

Ele estava realmente bravo agora. Mordi meu sanduíche enquanto ele falava sem parar.

- Tá bom! Fica calmo!

- Eu tô calmo.

- Estava gritando comigo.

- Me desculpa. - Ele pediu. - É injusto, ok?

- Você vai continuar tendo problemas com a Marcela. Ela também tem direito de seguir com a vida dela, Alex.

- Ela pode seguir em frente, só não cai trazer homem pra dentro da minha casa.

- E você?

- O que tem eu?

- Não leva nenhuma mulher pra lá? - Questionei na cara de pau, como sempre.

- Claro que não, tá maluca? - Ele pareceu um pouco ofendido. - Motel existe pra isso, e tem o meu apartamento.

As lembranças da nossa noite no apartamento de Alex voltaram com força na minha memória. Fiquei desconfortável por um momento, mas tentei deixar aquilo de lado por hora.

- Pelo menos você não está sendo hipócrita, né?

- Ela quis isso, Kika. - Ele argumentou. - Não defende a Marcela.

Revirei os olhos mesmo sabendo que ele não veria.

- Você não é nenhum santinho. - Devolvi. - Nunca foi e nós dois sabemos disso.

- A questão não é essa...

- A questão é que você precisa resolver este problema. - Pontuei decidida. - Com casa ou sem casa, alguma solução precisa ser trazida logo.

- Desde que ela não me atrapalhe, não me importo em dividir o teto.

- E eu acho que você ainda ama a Marcela, por isso não quer se livrar dela.

Aquela possível verdade pairou entre nós através dos sinais de transmissão de nossa ligação. Conhecia bem demais meu melhor amigo pra fingir que a possibilidade não existia, afinal, foram oito anos de relacionamento. Oito anos de Alex e Marcela, aquela mulher não era alguém que poderia ser ignorada ou negligenciada.

- Vou ter que desligar agora. - Ele anunciou. - A Luciana acabou de chegar.

- Vocês reataram? - Minha curiosidade sempre vencia.

- Não, mas ela pediu pra conversar.

- Use camisinha. - Lembrei como boa amiga que era.

- Sempre!

Finalizei a chamada e visualizei algumas mensagens que estavam pendentes no celular. Tinham muitas da minha mãe e ela parecia aborrecida por não termos nos visto nas últimas três semanas. Na verdade eu não estava pronta para encará-la. Ver minha mãe significava contar a verdade sobre a gravidez, e eu não conseguiria fazer isso.

- Como já dizia tia Lisbela, o curativo quando adere a pele tem que ser arrancado de uma vez, igual a fita de cera quente pra depilação. - Encorajei a mim mesma.

“Mamãe, está aí?”

Digitei rapidamente e fiquei encarando o celular por alguns minutos na esperança que ela respondesse.

“Resolveu aparecer, é?”

“Sabe que estou com a rotina pesada e sem tempo para nada.”

“Sou sua mãe, Ana Maria.”

Bufei ao vê-la me chamar pelo nome completo antes de responder.

“Como está seu humor hoje, mãe?”

“Que pergunta estranha é essa?”

Ela tinha que responder uma pergunta com outra pergunta?

“Você está bem hoje?”

“O que está havendo, filha? Fala logo!”

“Mãe, tenho uma notícia boa e uma notícia ruim pra te dar. Você está sentada?”

“Garota, fala de uma vez! Você vai ter que contar as duas mesmo.”

“Quero que fique tranquila, mãe.”

“Eu estou ficando nervosa! Fala!”

“Tá bom... A notícia boa é que consegui aquele contrato da FBR - Galeão Holding. Não é o máximo?”

“Uhum... Ótimo. E a ruim?”

Minhas mãos estavam suando enquanto digitava e fiquei surpresa por minha mãe não ter ligado ou ido correndo lá pra casa, preferindo trocar mensagens, coisa que ela odiava.

“A notícia ruim é que meu anticoncepcional falhou... Você vai ser vovó!”

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora