41 - Como lidar?

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Depois que Matheus ultrapassou a marca dos três meses, percebi que uma medida que tomamos de forma provisória estava tornando-se permanente: Alex estava oficialmente morando no meu apartamento. Claro que nós dois não percebemos que ele nunca mais foi embora depois que chegou com mala e cuia logo que Matheus e eu fomos liberados pelo hospital, mas outras pessoas notaram, entre elas Jow.

- Que honra ter você de volta na academia! - Meu treinador falou assim que me viu entrando no ginásio. - Achei que nunca mais colocaria os pés aqui.

- Acha mesmo que ficaria livre de mim assim tão facilmente? - Pisquei para ele.

- Bom... - Ele se apoiou na grade baixa que separava a área de treino do box de equipamentos. - Pensei que você quisesse se livrar de mim.

Engoli seco.

- Jow... - Tentei dizer algo que fosse realmente verdadeiro, mas as palavras ficaram presas em minha garganta.

- Você tem muita coisa com que lidar agora, Kika. - Ele disse por mim. - Sei que as coisas não estão fáceis para você neste momento. Não se preocupe comigo.

- Você está me dando um pé na bunda?

- Isso eu só faço durante o treino! - Ele deu risada. - Nós combinamos que não haveriam cobranças, então eu não estou te colocando numa situação chata justo agora.

Troquei o peso do corpo de uma perna para a outra e cruzei os braços diante do peito.

- O que tem "justo agora"?

- Kika... - Ele disse de um jeito amoroso. - O pai do seu filho, seu amigo ou o que você quiser chamar...

- O nome dele é Alex.

- Certo. - Ele considerou. - O Alex... Esse babaca é maluco por você. Sério! Acho até covardia insistir em alguma coisa que está fadada ao fracasso.

- Não sei o que dizer. - Ouvir Jow dizendo que Alex sentia algo por mim pareceu incrivelmente absurdo. - Você está sendo superior e me deixando ir.

- Não. - Ele disse com convicção. - Estou saindo fora porque você também é apaixonada por ele.

Meus joelhos quase falharam naquele momento e por pouco não fui para o chão. O que Jow estava dizendo, afinal? Que eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo? Já dizia o ditado que o pior cego é o que não quer ver. Procurei algo para me apoiar e acabei sentando num banco.

- De onde tirou isso? - Minha voz era apenas um fiapo.

- De você, das suas reações. - Ele sentou ao meu lado. - Sempre que você o vê, seu semblante muda. Você responde a ele quase por instinto.

- É que somos melhores amigos, Jow.

- Vocês, de um jeito ou de outro, acabam sempre respondendo aos comandos um do outro. - Ele segurou minha mão. - Sei que você não faz isso de propósito, ou que tenha planejado me usar. Acho que você nem tem ideia do quanto sente por ele.

Não consegui falar nada em minha defesa. Jow não era uma pessoa que jogava conversa fora, eu achava-o maduro, sincero e de confiança. Ele merecia o crédito.

- Vamos começar o treino? - Ele disse com animação genuína na voz. - Você teve mais de três meses para descansar, agora precisa recuperar o tempo perdido.

E pelas próximas duas horas eu apanharia muito no tatame. Realmente estava fora de forma, levaria um tempo para me readaptar.

Quando deixei a academia já estava enlouquecendo de saudades do Matheus, já que desde seu nascimento não saí de perto dele por mais de vinte minutos, e agora estava a quase quatro horas sem vê-lo. Minha mãe esteve nos visitando naquele dia e me incentivou a sair um pouco de casa, retomar a rotina gradativamente para ir me acostumando com a ideia de ficar algumas horas longe do meu bebê. Ela ficaria com meu pequeno até que  Alex chegasse do trabalho, e àquela altura ele já devia estar em casa.

- Olá! - Falei assim que fechei a porta atrás de mim.

Meu apartamento tinha virado o QG dos brutamontes da body_building, como o queridinho papai fitness do Matheus gostava de dizer. Os maravilhosos e super sexys amigos de academia do Alex estavam espalhados pelo meu sofá, sentados no meu tapete macio, com pipoca, cerveja e uma luta de MMA passando na TV.

- Olá, senhores! - Repeti para que me ouvissem e os quatro homens voltaram sua atenção para mim.

- Olha quem chegou... - Alex estava sentado no meio do sofá, praticamente esparramado, com nosso filho deitado em seu peito, numa cumplicidade única.

Os rapazes se recompuseram e diminuíram um pouco o volume da televisão.

- Como está, Kika? - Bruno, um dos amigos do Alex, que se tornou meu amigo também ao longo dos anos, me cumprimentou com beijos no rosto e um abraço. - Parece ótima! Está linda.

- Estou bem, obrigada. - Retribui os cumprimentos e ruborizei um pouco com o elogio.

- Lembra dos rapazes? - Alex perguntou enquanto levantava-se do sofá, trazendo Matheus para mim. - Guilherme e André.

Os outros dois rapazes acenaram para mim e ofereceram seus sorrisos sedutores.

- Sim, estou lembrada. - Ajeitei Matheus no meu colo pois ele estava praticamente dormindo, e sorri para os dois caras que me observavam com atenção. - Como vão rapazes?

- Muito bem. - Guilherme disse. - Lindo apartamento.

- Seu bebê é incrível, Kika! - André sorriu para mim e minhas pernas quase viraram gelatina. Que gato!! - Graças a você o Alex virou gente decente.

Os demais riram do comentário e Alex o ameaçou dizendo que a vez dele também chegaria, e que quando esse dia chegasse, ele com certeza estaria lá para retribuir o favor.

- Vocês destruíram alguma coisa da minha casa por causa desse clube do Bolinha? - Inquirição enquanto atravessava a sala e inspecionava cada canto.

- Claro que não, até ajudamos o Alex com a faxina. - Bruno justificou. - Ele disse que você chegaria logo, e que se a casa não estivesse um brinco de limpa ele dormiria na varanda!

Todos riram e Alex reclamou algo a respeito de traição.

- Aqui nem tem varanda! - Sorri para eles amigavelmente. - Preciso alimentar o bebê agora, fiquem à vontade.

- Na verdade nós já vamos indo. - Guilherme disse enquanto levantava-se do meu tapete e começava a ajeitar as roupas. - Podemos levar o Alex junto? Juro que ele se comportou direito, foi praticamente uma mocinha o tempo todo de tão bem educado. Ele pode ir? Nunca te pedi nada! Por favor?

- Para de ser otário, Gui! - Alex ralhou e deu um soquinho de leve em seu braço. - Nós vamos treinar um pouco. Por isso esses trouxas vieram pra cá.

- Então os quatro vão para a academia fazer estrago nas calcinhas alheias? - Perguntei com sarcasmo e um sorriso sacana no rosto.

- Quem manda o Alex ser gostosão? - André debochou e meu melhor amigo revirou os olhos. - As mulheres ficam louquinhas.

- Vai ficar tudo bem? - Alex se aproximou falando baixinho enquanto os caras faziam uma algazarra. - Se quiser eu posso ficar.

Ele já estava vestido com roupas de academia e só agora eu tinha reparado. Calçava tênis de corrida azul marinho, short preto e uma camiseta apropriada para treino.

- Pode ir... - O tranquilizei. - Matheus está com bastante sono, vou amamentá-lo e logo ele vai dormir.

- Tem certeza?

- Sim! - Garanti. - Vá logo antes que eles destruam meu apartamento.

Logo os amigos do Alex despediram-se do Matheus com palavras de incentivo e sorrisos, em seguida de mim com beijos estalados na minha bochecha que deixaram o Alex bem irritado, e não demorou muito para saírem do apartamento em meio a risadas, provocações e briguinhas típicas de homens. Quando a porta se fechou o silêncio instalou-se e havia uma pequena bagunça na sala esperando para ser arrumada.

- Homens! - Suspirei.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora