38 - Prêmio de consolação

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Permaneci no hospital por três dias até que todos os exames do Matheus ficassem prontos e pudesse me recuperar um pouco melhor da cirurgia. Depois que tivemos alta hospitalar, houve uma verdadeira competição entre as vovós sobre onde deveríamos passar os primeiros quinze dias. Teresa insistia para que fôssemos para sua casa por um tempo, já que lá teríamos sempre sua companhia e Joana também poderia tirar uma licença no trabalho. Minha mãe queria que ficássemos no seu apartamento, por ser próximo a tudo na cidade e pela facilidade. Por minha vez, desejava voltar para meu lindo apartamento com meu bebezinho, trancar todas as portas e janelas para conseguir me livrar daquelas loucas. No final das contas minha vontade prevaleceu, mas tive que concordar com a presença de Alex no primeiro mês, e sabia que as vovós estariam sempre por lá para passar um tempo com seu netinho.

Seria incapaz de reclamar daquele arranjo, pois Alex se dedicava integralmente ao bebê quando estava em casa. Ele fazia questão de dar banho, de fazê-lo dormir ou ficar por horas com ele no colo, mesmo com nossas mães dizendo que estava cultivando péssimos hábitos no moleque. Eu achava graça e ficava observando aquela interação. Me enganaram quando disseram que o filho homem tende a ser mais ligado à mãe. Matheus tinha um vínculo especial com o pai desde a gestação, e agora que finalmente estava conhecendo o mundo, aquela admiração apenas cresceu. Mesmo sendo tão pequeno, ele já reconhecia a voz do Alex com excelência e respondia a ele com rapidez. Várias vezes pude notar que o pequeno encarava Alex admirado, e levava muito tempo com os olhos grudados no rosto do pai.

- Acho que ele se incomoda com minha barba. - Alex comentou certa vez. - Será que ele tem medo?

- Não acho que seja medo. - Repousei minhas mãos nos ombros do meu melhor amigo. - Acho que ele é fascinado por você.

- Será?

Alex não tinha acreditado em mim e teve a brilhante ideia de tirar a barba.  Nossa vida se tornou um verdadeiro inferno! Matheus não o reconhecia mais e chorava muito quando Alex tentava pegá-lo no colo. Seria cômico se não fosse tão dramático, pois o menino chorava de um lado e Alex do outro de remorso e culpa. Eu ficava rindo no meio disso tudo, com pena de ambos.

- Sua barba já está ficando do jeito que eu gosto outra vez. - Comentei depois da terceira semana de espera pelo ressurgimento da barba.

- Você acha? - Alex parecia ansioso. - Não aguento mais ficar longe do meu filho! Ele chora quando me vê, fica desesperado.

- Calma... - Tentei conter uma risada. - Ele sente falta do pai barbudo dele.

- Tem séculos que eu não pego o Matheus no colo. - Ele se jogou na poltrona derrotado. - Ele não me deixa chegar perto.

- Você o assustou bastante. - Falei enquanto sentava no colo dele. - Pronto, pode me pegar no colo enquanto isso.

- Você está se divertindo com isso, né?

- Claro que não. - Afirmei. - Você ajudou bastante a cuidar dele enquanto não se tornou o Inimigo Público Número 1! Era o máximo quando você podia trocá-lo, dar banho, fazê-lo dormir ou simplesmente mimá-lo.

- Você está cansada, né? - Alex me colocou sentada de costas para ele e começou a massagem minhas costas e meus ombros. - Seus músculos estão embolados.

- Matheus é um bebê grande, me dá um pouco de trabalho, mas já acostumei. - Fechei os olhos aproveitando a sensação de ter os músculos relaxados. - É uma delícia cuidar dele.

Matheus começou a choramingar dentro do quarto e o barulho da babá eletrônica nos alertou.

- Deixa que eu vou. - Alex pediu e eu deixei seu colo para me acomodar no sofá. - Se ele começar a berrar como se estivesse sendo esganado, você corre lá, tá bom?

- Pode deixar.

Alex foi até o quarto e alguns momentos depois o choro do nosso filho se intensificou. Fiquei apreensiva, mas sabia que tinha de dar espaço para os dois. Fui até o quarto, mas não fiz barulho, permanecendo na soleira da porta. Alex havia tirado Matheus do berço e o aninhou no colo, tentando confortá-lo. O bebê estava ficando vermelho de tanto chorar, mas meu melhor amigo não desistiu e começou a murmurar palavras carinhosas para ele, balançando-o no colo como só o papai seria capaz de fazer. Acho que depois de um tempo Matheus o reconheceu, já que a barba estava mais cheia e o fazia lembrar, fora a voz e o cheiro característicos do Alex, pois ele parou de chorar. As mãozinhas do bebê tocando o rosto do Alex foram a coisa mais fofa que eu tinha visto nos últimos dias, aquele reencontro e reconhecimento de pai e filho me fez ficar emotiva e chorar um pouquinho.

- Ele lembrou de mim. - Alex disse baixinho com um sorriso magnífico nos lábios.

- É, ele achou o papai. - Sorri com a cena. - Vou preparar o jantar.

Estava descascando alguns legumes para a salada quando Alex abraçou minha cintura. Ele ficou por ali, espiando o que eu estava fazendo, roubando alguns palitos de cenoura, ou simplesmente cheirando meus cabelos. Quem nos visse naquela situação diria que éramos um casal feliz e sintonizado. Ledo engano.

- Sabe o que lembrei?

- Hum? - Continuei a realizar minha tarefa de picar os legumes.

- Não falamos mais sobre a proposta que te fiz no hospital. - Ele beijou meu ombro. - Você está pensando no que conversamos, porque já passou um mês.

- Na verdade não pensei.

- E por que?

- Não acredito que você esteja perguntando isso. - Me desvencilhei dele e levei os legumes até a mesa da cozinha. - Você fez aquela proposta descabida porque estava sensibilizado pelo nascimento do nosso filho, pelo deja vú que teve por causa do seu pai e também porque sentiu ciúmes do Jow.

- Não foi só por isso, Ana. - Ele se aproximou. - Passar as últimas semanas aqui com você e o bebê mostrou que estamos no caminho certo.

- Que caminho, Alex? - Estava perplexa. - Não há caminho nenhum. Não dá pra vir e brincar de casinha comigo por um tempo mas depois ir correndo atrás da Clarice.

- Eu vou resolver as coisas com ela.

- Eu nunca pedi isso. - Falei com firmeza. - Não acho que você deva fazer nada disso por achar que tem alguma dívida comigo ou com o nosso filho, porque você não tem.

- Eu quero ficar com vocês. - Ele afirmou.

- Acho que você não sabe o que quer na realidade.

- E você sabe?

- Tenho tudo que sempre quis. - Retruquei. - Uma vida estável e tranquila, uma família que me apóia, um melhor amigo que faz de tudo por mim e é um excelente pai, um filho lindo e meigo que só me deixa mais feliz e apaixonada por ele, e um homem generoso que me entende e gosta de mim de verdade.

- E você? Sente o mesmo por esse homem? - Alex me fitava com interesse. - Você está apaixonada pelo Jow?

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora