27 - Conflitos

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Eu estava nervoso. Tinha demorado bastante para o dia da verdade chegar, e eu já vinha preocupado com toda aquela demora.

Desde que soube da gravidez de Kika, de um jeito não convencional que quase me matou de susto e desespero, muita coisa tinha mudado. Descobrir que em poucos meses seria pai dentro de um consultório médico, olhando para aquele pontinho tão pequeno, dando de cara com a prova final de uma condição que mudaria minha vida para sempre, só poderia acontecer se fosse com a Kika. 

Quem mais esconderia uma gravidez desse jeito? 

Quem mais teria tamanha criatividade? 

Eu amo isso nela. 

Também admiro sua determinação e coragem, mas me tira do sério essa mania que ela tem de resolver as coisas sozinha.

- Estava esperando que você fosse me procurar para esclarecer as coisas. - A voz de Ursula, mãe de Kika, me tirou do emaranhado de lembranças que minha mente havia resgatado.

Depois de Ursula pedir para conversarmos em particular, tive que impedir a Kika de arrumar uma confusão daquelas. Ursula se recusava a falar na frente de Kika, e minha amiga pareceu perder o pouco de juízo que ainda tinha naquela cabecinha linda e oca. Com muito jeito e usando o tom de voz que sabia que a deixava com as pernas bambas, consegui acalmá-la um pouco antes de  acompanhar sua mãe até o quarto dela para conversarmos. 

- Você vai me contar tudo depois?

A voz de Kika ainda soava manhosa nos meus ouvidos. Eu concordei, jamais esconderia algo dela outra vez. Confiava em Kika mais do que em mim mesmo, ela era minha parceira, confidente, a voz da minha consciência. Eu era capaz de aceitar e conviver com isso.

- Me desculpe. - Comecei. - Mas não achei que fosse necessário.

- Você engravida a minha filha caçula e acha que me dar uma satisfação não é necessário? - Ursula me fulminou com o olhar, e fui obrigado a sustentar.

- Olha, eu não vou empurrar essa responsabilidade para ela, como qualquer um faria, porque não sinto que ela seja responsável pelo que está acontecendo conosco. - Tentei manter a calma enquanto defendia meu ponto de vista sobre a situação.

- Sim, ela está grávida e o filho é meu. - Admiti. - No momento em que soube, passou a ser minha responsabilidade.

- Nós concordamos neste ponto. - Ursula cruzou os braços na frente do peito, claramente na defensiva. - Eu confiava em você.

- Sinto muito ter desapontado você.

- Sente mesmo? - Ela se aproximou um pouco, mas sua expressão não suavizou. - Será que sente, Alex? A reputação da minha filha está na sarjeta.

- Aos meus olhos sua filha continua sendo a mesma pessoa, com o mesmo crédito de sempre. - Tentei não ser áspero naquele momento. - Nada foi profanado em sua reputação.

- Graças a essa brincadeira descabida de vocês dois, em poucos meses uma criança inocente vai vir ao mundo! - E ela explodiu, o rosto vermelho de raiva. - Vocês dois não pensam? Ana Maria é mais uma mãe solteira nesse mundo, virou estatística agora. Quem vai olhar por ela? Quem vai levá-la a sério?

- Eu vou! - Foi minha vez de perder a calma. - Eu entendo sua irritação, e a raiva. Mas estou aqui e não é pelo bebê. Não é só por causa dele! A Ana é a pessoa mais importante da minha vida, desde que nos tornamos amigos, desde antes do nosso bebê. Jamais deixaria a Ana sozinha ou perderia o respeito por ela.

Ursula me encarou em silêncio por um longo instante.

- Seja mais específica. Diga de uma vez o que veio falar.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora