30 - O carrossel nunca pára de girar

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- Você está pálida. - Branca falou depois de um tempo dirigindo em silêncio. - Aconteceu alguma coisa?

- Alex pediu uma explicação e eu dei. - Afundei no banco do carro e deixei meus olhos percorrerem a rua movimentada. - Ele não ficou muito satisfeito com o que ouviu.

- Kika... - Branca ponderou a respeito das palavras que usaria a seguir. - Pode me explicar o que se passa na sua cabeça? Eu estou um pouco perdida.

- Eu cometi um erro, tudo bem? - Estava pronta para admitir. - Tomei a decisão de ter um filho com Alex sem medir as consequências. Achei que conseguiria dar conta de tudo, manter nossa relação como era antes, mas estou percebendo que não é bem assim.

- Você o ama. - Branca afirmou.

- Alex é altamente amável. - Um sorriso desenhou-se em meus lábios. - Ele não é perfeito, obviamente. Mas a maneira com que encara as coisas o torna cativante.

- Já você...

- Eu. - Dei de ombros. - Quem sou eu?

- Alguém que mantém o interesse dele, apesar de ser impulsiva e tempestuosa.

- Você também enlouqueceu quando engravidou das meninas? - Olhei para minha irmã de forma suplicante. - Parece que estou sempre no limite, estou sendo mais louca do que o habitual.

- Minha irmã... A gravidez mexe muito com o nosso sistema. - Branca fez uma manobra com o carro e parou em um sinal vermelho. - Ficamos instáveis, carentes e inseguras. A gravidez em si já é um processo doloroso e intenso, mas você colocou uma cereja enorme nesse bolo indigesto quando escolheu essa situação.

- O bebê já vai nascer.

- Agora falta pouco e talvez a chegada dele mude sua perspectiva.

- Eu só preciso de tranquilidade, um tempo para colocar a cabeça no lugar. - Divaguei. - Por que ele não consegue entender isso?

- Porque o bebê que está na sua barriga também é parte dele. - Branca parecia ensinar a uma criança como o mundo foi criado. - Vocês tem algo para compartilhar agora. Acha que as coisas serão fáceis? A vida de pai e mãe é inteiramente movida a conflitos. Você pensa de um jeito, o pai de outro e tem que conciliar esses interesses e descobrir o que é melhor para a criança.

- Terminei com ele.

- Como assim?

Demorei algum tempo para responder, mas ela esperou com paciência.

- Disse que era melhor que não fôssemos mais amigos.

- Você precisa parar de tomar decisões movida pelos sentimentos.

Suspirei e considerei as coisas que minha irmã havia dito. Sabia que haviam muitas verdades em suas palavras, e eu tinha muito que aprender se quisesse ser uma boa mãe para aquela criança inocente.

Naquela noite tentei analisar meu relacionamento com Alex e o que na vida conturbada dele me deixava tão apreensiva. A última coisa que queria era ser injusta com ele, mas enquanto não definisse o que passava dentro de mim, não poderia continuar agindo como se nada estivesse acontecendo. Concluí que tudo começou quando descobri a respeito do relacionamento dele com Clarice, apesar de saber que eles saíam juntos, Alex não me disse toda a verdade, e isso me magoou. Saber que haviam coisas sobre meu melhor amigo que ele não dividia comigo abalou um pouco minha fé nele. A conversa secreta dele com minha mãe também foi algo que me desconcertou. Ela saiu do meu apartamento visivelmente transtornada e ele mudou o foco do assunto para a Luciana. Ele estava saindo com a Luciana outra vez, mesmo estando namorando com a Clarice. Por que aquilo havia se tornado um problema para mim? Por que era algo que eu não conseguia suportar? Aquelas perguntas martelaram em minha mente até que o sono me venceu.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora