33 - Ele chegou! Ele chegou!

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As últimas semanas de gestação passaram rápido e devagar ao mesmo tempo. Fui torturada lentamente por contrações e alarmes falsos que me fizeram ficar à beira da loucura. Em meio a ansiedade para finalmente pegar meu bebê nos braços, tinha o medo do desconhecido. Não sei como fui capaz de manter o rosto sereno enquanto, por dentro estava trêmula e preocupada. Eu sabia que tinha plenas condições físicas, emocionais e financeiras para cuidar do meu filho, e essa certeza me deixava em terra firme. Ainda que Alex não cumprisse com sua parte em algum momento, não faltaria amor, carinho e assistência àquela criança. Minha família estava mais que disposta a apoiar e suportar o que fosse necessário, e eu agradecia por ser tão abençoada. 

Apesar de toda segurança,  havia algo maior e mais profundo dentro de mim: O medo de não ser suficiente. Preocupação por, em pouquíssimo tempo, me tornar completamente responsável pelo bem estar de uma vida frágil e inocente. Haveria em mim a força necessária, e sabedoria suficiente para formar o caráter de um ser humano? Aquele bebê que parecia cada dia mais ansioso para conhecer o mundo seria entregue à mim, aos meus cuidados e seria minha responsabilidade pelos próximos anos. Como me sentiria ao olhar seu rostinho pela primeira vez? O que aconteceria comigo quando ele me encarasse, com aqueles olhinhos pequeninos cheios de curiosidade? E se ele não me quisesse? Se o bebê sentisse que eu não era a melhor opção para ele e me rejeitasse como mãe? Aquela era uma opção a considerar.

A criança em meu ventre era mais um ser humano, com desejos, vontades e sentimentos. Ao longo da gestação, em nossos momentos à sós, tentei criar um vínculo emocional através de minha voz, de músicas e longas conversas. Diziam que bebês respondem favoravelmente ao contato auditivo com seus pais durante a gestação. Todos esses estímulos combinados aumentariam a capacidade de percepção, e ajudariam no desenvolvimento da criança. Eu esperava que tudo fosse verdade, pois me dediquei bastante para proporcionar tudo que estivesse ao meu alcance ao bebê. 

Naquele momento meu maior desejo era ser amada pelo meu bebê.

- Está na hora. - A voz do obstetra me tirou dos devaneios em que estive submersa. - Vamos prepará-la.

- Não podemos. - Respondi apreensiva.

- Ana Maria, não podemos esperar muito mais. - Ele argumentou. - Já está na hora do seu bebê nascer.

- Ninguém quer mais isso do que eu, acredite. - Fechei os olhos quando uma contração apertou todas as minhas entranhas. - Mas o pai do meu bebê ainda não chegou, então não vamos sair daqui enquanto ele não entrar por aquela porta.

- Já faz mais de uma hora que estamos esperando por ele, Ana. - Ele rebateu. - Você precisa me deixar fazer o meu trabalho.

- O bebê está estável? - Perguntei tentando disfarçar a ansiedade.

- Sim, ele está.

- Então vamos esperar pelo Alex. - Estava decidido.

O médico suspirou contrariado e a porta do quarto foi aberta por minha mãe que estava acompanhada por Branca, Teresa e Joana.

- Cadê o Alex? - Perguntei enquanto as observava. - Ele está vindo?

- Não estamos conseguindo falar com ele. - Joana disse irritada. - O celular está desligado.

O médico me encarou e tocou meu braço.

- Não temos muito mais tempo, ok? - Ele observou o monitor cardíaco do bebê. - Você tem vinte minutos.

Assim que o médico saiu do quarto as quatro mulheres se aproximaram da cama, tentando transmitir algum conforto para mim.

- Em que buraco esse idiota se meteu? - Meus olhos começaram a arder e eu estava lutando contra as lágrimas.

- Não sei dizer, Kika. - Teresa falou enquanto segurava minha mão. - Viemos direto de Petrópolis para o hospital e não falamos com ele desde ontem.

- Ele disse que chegaria à tempo.

- Ele vai chegar, irmã. - Branca acariciou meus cabelos com afeto. - Aquele imbecil é louco por esse bebê.

- Ele não perderia esse momento por nada no mundo. - Joana reforçou.

- Pois eu acho bom ele chegar logo, porque "esse momento" vai acontecer em menos de vinte minutos. - Minha mãe falou, visivelmente preocupada e aborrecida. - Você não vai colocar a vida desse bebê em risco por causa de um capricho, Ana Maria. Se o Alex não chegar, você vai entrar naquela sala e ter o seu bebê.

Nossos olhares fixaram-se um no outro, e por mais que eu quisesse discutir, já estava muito enfraquecida por causa das contrações constantes e cada vez mais agressivas. Apenas deitei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos.

- Vamos esperar pelo Alex. - Sentenciei.

Teresa pegou a mão da minha mãe no momento em que ela abriu a boca para protestar e a tirou do quarto sob pretexto de buscar café. Joana e Branca sentaram-se na poltrona do quarto e ficaram cochichando baixinho, mas permaneceram tomando conta de mim. Pouco tempo depois a irmã do Alex deixou o quarto, dizendo que iria até a recepção para esperar pelo irmão.

Na minha cabeça só conseguia pensar no sumiço do Alex. Ele tinha viajado à trabalho três dias antes, e tinha garantido que voltaria no dia do nascimento pela manhã. Já passava das três da tarde e ele não tinha se comunicado.

- Onde você está? - Sussurrei enquanto as lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto.

Ainda estava de olhos fechados tentando controlar minha respiração quando uma mão masculina envolveu a minha, me fazendo abrir os olhos na mesma hora.

- Alex? - A ansiedade na minha voz era latente.

- Dessa vez você errou. - Era o Jow que tinha um sorriso no rosto, que morreu um pouquinho assim que ouviu o nome do meu melhor amigo. - Ele já está chegando, não se preocupe.

- Me desculpe... - A culpa por ver a decepção que surgiu nos olhos de Jow me atingiu com força. - Estou feliz por te ver.

Jow sorriu, mas não respondeu. Apenas inclinou-se sobre mim e beijou meus lábios suavemente.

- Sei que está preocupada, mas vai ficar tudo bem. - Ele acariciou meus cabelos. - Se ele não chegar, posso entrar contigo se você quiser.

- Obrigada.

Considerar outra pessoa naquela sala de parto comigo, substituindo o Alex, fez com que um peso esmagasse meu peito. Logo uma contração extremamente dolorosa começou e foi necessário chamar a enfermeira, pois o monitor do bebê começou a apitar. O médico entrou correndo no quarto e me examinou com habilidade.

- Tem que ser agora, Ana Maria. - Ele anunciou. - O bebê está em sofrimento. Ele precisa nascer já!

Não era uma pergunta, não dependia mais da minha aprovação. O bebê ia nascer. A equipe médica entrou na sala e logo a cama foi retirada do quarto. Minha mãe e Teresa estavam voltando da cafeteria quando os médicos e enfermeiros atravessaram o corredor me levando para a ala cirúrgica. Branca explicou o que estava acontecendo, e elas voltaram aos seus celulares em busca do Alex.

- Você é o pai? - O médico perguntou para Jow que havia permanecido do meu lado, segurando minha mão.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora