22 - Gravidez e rotina

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- Você não está se cuidando.

A voz grave do Alex me pegou de surpresa enquanto estava distraída correndo à certa velocidade na esteira da academia, e quase me fez perder o ritmo e cair do aparelho. De fato escorreguei depois de tropeçar, mas uma mão forte e firme dele me impediu de rolar esteira abaixo.

- Cuidado! - Ele esbravejou.

- Você... - Falei enquanto recobrava o fôlego e tentava controlar a respiração. - Quase me matou de susto! Tá maluco?

- Não imaginei que você estivesse tão desligada. - Ele se desculpou enquanto me ajudava a ficar de pé decentemente. - O ritmo não estava muito puxado? Não está exagerando?

Me soltei dos braços dele e contornei a esteira para pegar minha garrafa de água do suporte. Bebi um gole generoso e contei até dez mentalmente para não mandá-lo ir para nenhum lugar obscuro dentro de si mesmo. Eu não queria falar com Alex, nem ver aquele rosto lindo, não queria olhar para ele.

- O que você quer aqui? - Perguntei enquanto me sentava no banco que ficava ao lado dos halteres.

- Marquei uma consulta para você no obstetra. - Ele disse com um tom de voz tão calmo que me deixou irritada. - Acho que você não está fazendo o pré-natal como deveria.

- E por que você acha isso? - Levantei-me rapidamente e estava oficialmente brava.

- Porque a secretária do médico ligou para mim depois que você desmarcou a ultrassonografia pela terceira vez consecutiva, Ana. - Não havia um pingo de humor na voz do Alex. Ele não estava para brincadeiras. - E por acaso você não me avisou em nenhuma das vezes que marcou.

Minha raiva murchou na mesma hora. Ele tinha razão. Por causa da minha vida atribulada e pelos dramas pessoais que vinha enfrentando, acabei esquecendo de comparecer às consultas que estavam agendadas. Mantive o olhar fixo no dele por algum tempo, só pra não demonstrar fraqueza, mas quando ele cruzou os braços deixando claro que esperava alguma explicação, não consegui mais sustentar e desviei os olhos para um grupo que fazia crossfit com o Jow na sala ao lado.

- Eu faço parte disso, sabia? - Ele disse dando dois passos na minha direção. - Você não precisa fazer isso sozinha. Eu quero me envolver, quero cuidar de você e do bebê.

Uma risadinha debochada escapou do meu âmago sem que eu pudesse conter. Voltei a encará-lo e não deu pra esconder o ressentimento que eu vinha tentando ignorar desde aquele domingo em que Alex admitiu estar namorando.

- Até quando?

- Até quando o que?

Às vezes meu melhor amigo tinha dificuldade de captar a mensagem no ar, o que me fazia revirar os olhos e explicar pacientemente para ele como as coisas funcionavam.

- Até quando isso não vai interferir no seu dia-a-dia? - Cruzei os braços na frente do peito. - Até quando você acha que vai poder chegar aqui e tomar decisões sem que isso traga algum desconforto para você ou para mim?

- Seja mais clara.

- Logo as cobranças da Clarice irão acontecer, ela vai questionar e reclamar. - Comecei enquanto as possibilidades surgiam na minha mente. - Vai querer saber por que eu não resolvo as coisas sozinha, por que você precisa estar lá, o motivo das nossas ligações e conversas pelo whatsapp. Vai ficar insegura, haverão brigas e eu não quero nada disso.

- Isso não importa agora. - Ele afirmou. - Só o que importa é que tem uma sala onde você vai entrar hoje, em cinquenta e cinco minutos, na verdade, para sentar naquela cama esquisita para um médico engraçadinho passar a mão e um aparelhinho melequento em você.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora