46 - Tomara que dê tempo de voltar atrás

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Acordei na manhã seguinte com as risadinhas baixas do Alex. Estava um pouco confusa por causa do sono agitado da noite anterior, abri os olhos vagarosamente, piscando bastante até conseguir me acostumar com a claridade. Quando virei de lado dei de cara com o Matheus esparramado na minha cama. O susto que levei foi tão grande, que fiquei alerta no mesmo instante. Em segundos o sono que me abraçava desapareceu.

- Ele está bem. - A voz de Alex soou rouca.

Só então percebi que meu melhor amigo estava ajoelhado na cama, quase perto da beirada e que tinha praticamente uma barricada de travesseiros ao lado do nosso bebê, para evitar que ele rolasse e caísse no chão.

Sentei-me na cama e ajeitei os cabelos, prendendo-os num coque alto.

- Está tudo bem? - Alex quis saber.

- Sim, está. - Evitei encará-lo e voltei minha atenção para o Matheus, que brincava tranquilamente com um mordedor de plástico. - Bom dia amor da mamãe.

Levei o nariz até a barriguinha do Matheus e me senti reconfortada quando as mãozinhas dele envolveram minha cabeça. Depois de alguns instantes percebi que Alex havia se aproximado de nós.

- Ele é incrível, não é? - Meu melhor amigo falava enquanto seus olhos estavam fixos no bebê. - Está crescendo muito rápido, e é muito forte também.

- Somos pais babões. - Concluí.

- Temos o filho mais perfeito de todos. - Alex se gabou. - Podemos ser babões.

Sorri para ele e voltei a encarar nosso bebê em silêncio.

- Você pode continuar o que estava fazendo? - Perguntei enquanto abandonava a cama com sutileza. - Tomar conta dele enquanto vou ao banheiro.

Ele assentiu com a cabeça e pegou Matheus no colo, falando baixinho com ele.

Assim que voltei do banheiro, já composta e com a higiene matinal feita, peguei o bebê dos braços do Alex e ofereci o seio que o menino rapidamente aceitou.

- Pensei em fazermos algo juntos hoje. - Alex sugeriu. - Um programa familiar, nós três.

- Pensou em alguma coisa específica?

- Na verdade sim. - Os olhos de Alex brilharam em expectativa. - Quero levá-los na Quinta da Boa Vista.

- Um passeio ao ar livre?

- É! - Ele estava empolgado.

- Claro que vamos!

Ele ficou radiante e começou a planejar nosso passeio. O ideal era aproveitarmos o dia no parque. Alex sugeriu que levássemos lanchinhos saudáveis e esticássemos uma toalha no gramado onde poderíamos relaxar e passar algum tempo juntos. Concordei com ele e assim que Matheus terminou de mamar, o coloquei em seu berço e fui preparar as coisas junto com Alex.

- Começou sem mim? - Perguntei quando o vi na cozinha envolvido com ingredientes para sanduíches.

- Só pra ganharmos tempo. - Ele respondeu e voltou a cortar um tomate em rodelas.

- Vou olhar nos armários para ver se acho alguma coisa boa.

- Você está muito quieta... - Ele parou o que estava fazendo.

- Não dormi direito, só isso.

Minha vontade era de jogar tudo que Clarice me disse ao telefone na cara dele, mas decidi que não daria aquele gostinho a ela tão cedo. Tinha que aprender a controlar meus impulsos se quisesse ter uma vida saudável. Precisava de menos tempestades no meu dia-a-dia. Sabia que a conversa com Alex viria em um momento oportuno, então decidi aproveitar o dia e tentar ter um pouquinho de paz por enquanto.

- Mesmo? - Ele tomou minhas mãos e segurou entre as dele. - Sei que te peguei de surpresa ontem, mas estava sendo honesto.

- Tudo bem.

- Tudo? - Ele ficou surpreso com minha resposta clara e sucinta.

- Sim. - Fiquei na ponta dos pés e juntei nossos lábios suavemente em um beijo, mas Alex não deixaria nada passar batido.

Senti as mãos grandes de Alex pousarem na base na minha coluna e deslizarem pelo meu quadril, e logo fui puxada para mais perto do corpo dele enquanto ele afastava meus lábios com a ponta da língua, aprofundando nosso beijo. Em poucos instantes me vi enroscada nele, sendo colocada sobre o balcão da cozinha e envolvendo seu pescoço com meus braços.

- Quem diria que seria tão bom. - Alex sussurrou. - Ter todas as coisas importantes juntas em um lugar, ou melhor, em uma pessoa.

- Somos dois então. - Admiti.

- Você não me acha um idiota então? - Ele sorriu com a própria pergunta.

- Você sabe ser muito idiota às vezes. - Falei com sinceridade. - Mas isso não anula o resto.

Ele me beijou mais uma vez e fiz questão de lembrá-lo que havia um plano para aquele dia. Plano este que envolveria parque, comida, grama, nós e o nosso filho. Se continuássemos ali, ninguém iria a lugar algum.

- Vamos nos apressar. - Ele decidiu.

O dia estava magnífico. Sol razoável, poucas nuvens, tempo equilibrado. Estacionamos o carro e começamos a procurar em meio ao gramado uma deixa para que trouxéssemos o carro para mais perto. A Quinta da Boa Vista era incrivelmente espaçosa, pessoas fotografavam bebês, casais e todo tipo de motivo por entre as alamedas arborizadas, os grandes gramados, e muito, muito verde.

A toalha foi estendida e consegui dobrar o carrinho de bebé para que ficasse numa altura mais baixa, inclinado como uma caminha para evitar de colocar o bebê na grama. O local em que estávamos tinha uma enorme projeção de sombra proveniente de uma árvore antiga e muito grande.

Usei bloqueador solar no Matheus de fator absurdamente alto. Meu bebê não seria privado de nada nessa vida por medo de certas doenças. Ele seria uma criança normal, que brincou, caiu, levantou e aprendeu com as experiências.

Alex voltou contente por ter conseguido uma vaga próxima, e sentou-se ao meu lado na toalha.

- Não achei que toda essa confusão me faria feliz no final das contas. - Ele disse. - Como você se sente?

- Preocupada e com medo. - Confessei.

- Não precisa se sentir assim. Você sempre terá a minha atenção, meu apoio e carinho. - Ele pegou minha mão. - Estou do seu lado, Ana. Estamos juntos de verdade.

O bebê do meu melhor amigo (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora