A TOCA

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ALVO

Já haviam se passado dois dias e na manhã seguinte, véspera de natal, iríamos para a Toca. Myrella não dava notícia desde que saíra do trem e eu estava ficando preocupado. Tiago, como sempre, dizia que era coisa da minha cabeça, mas eu tinha um mal pressentimento estranho. Já era noite e todos na casa haviam ido dormir mais cedo, menos eu, que fiquei olhando para o teto e pensando em tudo. Scorpius chegaria só depois de amanhã, então eu não tinha ninguém- ainda- para conversar como fazíamos em Hogwarts, dividindo os pensamentos de nossas mentes cheias demais. Scorpius era um bom amigo e me entendia. E ele tinha um senso de humor furado como Silena tinha a uns anos atrás.

Pessoas como eu nunca devem guardar pensamentos só para si. Minha mente é muito cheia e funciona rápido demais para eu conseguir processar tudo o que está acontecendo. Lena sempre disse que eu devo ser uma espécie de gênio incompreendido, mas eu nunca acreditei nela. O mais perto que tínhamos de um gênio era a irmã dela, Sally. E, sinceramente, às vezes queríamos matá-la. Não que Sally não fosse legal, ela é. Mas seu jeito certinho, organizado e suas conversas de nerd tiravam a minha paciência e, principalmente, a da irmã dela. Lena e eu somos criaturas desorganizadas de nascença e nem adianta querer mudar isso. Da mesma forma que o contrário se aplica a Sally. A vida é um mar de injustiças.

Rose sempre pareceu ser nerd e comportada, mas só nós sabemos o capeta que minha prima pode se tornar- e queria eu que isso fosse exagero da minha parte. Mas desde que voltamos ela estava meio calada. Na noite anterior ela veio para minha casa jantar e tinha uma expressão estranha no rosto. Era semelhante a do Tiago quando aprontava alguma, mas não a mesma coisa. Era um misto de confusão e curiosidade, acho. Algoque eu nunca vi na minha prima de forma tão aparente. Quando perguntei o motivo, ela apenas balançou a cabeça negativamente e disse que eu estava ficando louco. Louca é ela, droga!

Estava pensando nisso quando alguém abriu a porta do meu quarto e olhei naquela direção. Lilian estava ali, segurando um panda de pelúcia enorme e meio descabelada. Ergui uma sobrancelha e ela fez beicinho.

- Posso dormir aqui? Tive um pesadelo.

- Claro, Lili- Falei e abri espaço para ela ao meu lado.

Lilian fechou a porta e se jogou na cama, abraçando o ursinho contra o peito e olhando para a parede.

- Você está bem, Lili?- Perguntei, franzindo as sobrancelhas.

- Estou. Mas eu tive um sonho estranho- Disse Lílian, se sentando e olhando para mim- Era como se tudo estivesse escuro e não houvesse nada ao meu redor. Então do nada havia um garoto encostado numa parede velha ao meu lado. Ele parecia morto, mas aí eu segurou meu braço de repente e...

- De repente o que?- Perguntei, confuso.

- Disse algo sobre ele não poder ver e que eu podia. Que eu devia descobrir quem era alguém. Então tudo sumiu e eu estava numa sala de aula- Disse Lilian. Ela franzia mais as sobrancelhas a medida que ia falando, como se os detalhes fossem difíceis de serem lembrados- E eu estava na frente da Lena, só que eu não era eu. Eu era outra pessoa. E a Lena estava chorando e chorando e eu não soube o que fazer. Então eu fechei os olhos e acordei no meu quarto.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, assim como Lilian. Ela fitava o vazio com uma expressão angustiada no rosto. Suspirei e balancei a cabeça negativamente enquanto puxava Lilian para um abraço.

- Foi só um pesadelo, Lili. Vamos dormir que amanhã o dia vai ser cheio. E você vai se encontrar com todo mundo amanhã de manhã- Falei, tentando acalmá-la.

       Lilian olhou para mim e assentiu, se deitando nos travesseiros. Deitei ao lado dela e fiquei observando o teto do quarto. Aos poucos sua respiração foi se acalmando e eu saí da cama sorrateiramente, indo até a frente do quarto de Tiago e abrindo a porta. Entrei e o mesmo se encontrava dormindo como um cadáver em sua cama, com um braço sobre os olhos e o outro sobre a barriga, segurando um papel amassado. Peguei o papel de suas mãos e suspirei. Era uma foto que estava eu, ele, Lena e Rose numa das árvores da Toca. Lena estava atrás dele nos galhos, apoiada em suas ombros e eu e Rose ríamos dos dois. Olhei para o meu irmão na cama e revirei os olhos, colocando a foto em seu criado mudo. Cutuquei ele sem paciência e ele resmungou. Empurrei ele e finalmente Tiago abriu um dos olhos.

CORAGEM- A Ordem Dos Escolhidos Vol.1Onde histórias criam vida. Descubra agora