Conjunto de nada

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Minha vida parece não querer me ver dormir...
Enquanto eu olho pela madrugada, todas as oportunidades que não me foram oferecidas, que foram perdidas, e todos os meus sonhos e desejos impossíveis, a sensação que tenho é de me diluir em uma mar salgado.
Sensação e desejo. As vezes a única solução parece ser nascer de novo e viver uma nova vida. As vezes eu imagino isso. Eu ando na rua e finjo ser uma outra pessoa, eu mudo a minha aparência, eu imagino que estou indo em direção a casa mais bonita. Eu imagino ser feliz...
Meus olhos não pesam. Eles não estão cansado, ao contrário ativos e arregalados e sem nenhuma regalia insistem em permanecer acordados.
Ah... como me sinto débil! Como me entreguei a escrever aqui, sabendo que não surtiria efeito?
Se eu pudesse desaparecer, se eu pudesse viver a vida de outra pessoa. Se eu pudesse ter sido outra pessoa. Eu queria ser, eu sonhei em ser, agora... já não sonho mais. Parece que o meu tempo de plantio esgotou, basta-me colher esses frutos que deram. Colher e come-los. Ando me entregando, ando por aí entregando-me ao desanimo. Rastejando...
Sinto-me completamente fraca e inútil. Por anos eu sonhei que essa dor chegaria ao fim "ano que vem vai ser diferente", "um dia serei feliz"... Mas tudo que tenho é essa "eu" de agora, deitada na cama com os olhos imersos em lágrimas. E o meu prazer a anos tem sido senti-las escorrendo lentamente pelo meu rosto. Após isso me sinto aliviada. Porém, elas sabem disso e parecem querer se esconder.
Sinto-me traída, eu quero, acreditem ou não, ficar sozinha. Quando estou em meio as pessoas sinto-me como se estivesse em uma selva. E envergonho de dizer,  mas eu sinto de pena de mim mesma... Sinto pena de mim, pois reconheço tudo o que sou. Me envergonho desse tanto de nada que constitui o meu ser. Margaritta, é quem? Margaritta é nada. Ela passa despercebida, ela não fala nada de interessante. Margaritta deve ficar em silêncio!
Estou perecendo. Parece que isso nunca terá um fim, ao passar dos anos esse vazio só aumenta. Eu devia fazer alguma coisa referente a isso, mas eu não sei o que. Muita coisa se deteriorou, meu mundo está remendado, ele desabou várias vezes, e eu como a mal caprichosa que sou, o colei de qualquer jeito e fui dormir. Agora ele, o meu mundo, a minha arte, fica exposta na praça. As pessoas passam e o observam de cara estranha, sempre meneando a cabeça como sinal de reprovação, sempre comentando, e falando, e falando...
E eu estou deitada, de cara triste e emburrada, em frente a minha arte.

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