- Bravo! – Exclamou Niall, entrando e despindo o casaco, que pendurou em um cabide velho. – Bravo! ... interessante cena! Mas certo que desonrosa fora para casa de um estudante de medicina e já no sexto ano, a não valer-lhe o ditado antigo: o hábito não faz o monge.
- Temos discurso! ... atenção! ... ordem! – Gritaram a um tempo três vozes.
- Coisa célebre! – Acrescentou Zayn. – Niall sempre se torna orador depois do jantar...
- E dá-lhe para fazer sátiras. – Disse Liam.
- Naturalmente. – Acudiu Zayn, que por dono da casa, maior parcela houvera no cumprimento do recém-chegado. – Naturalmente Bocage, quando estava na bebedeira, desfeiteava os médicos.
- C'est trop fort! (É forte demais!) – Bocejou Harry, espreguiçando-se no sofá em que se encontrava deitado.
- Como quiserem. – Continuou Niall, pondo-se em hábitos menores. – Mas, por minha vida, que a bebedeira de hoje ainda me concede apreciar devidamente aqui o meu amigo Liam, que talvez acaba de chegar de alguma visita diplomática, vestido com esmero e alinho, porém, tendo a cabeça encapuzada com a vermelha e velha carapuça do Zayn; este, ali escondido dentro do seu robe de chambre cor de burro quando foge, e sentado em uma cadeira tão desconjuntada que, para não cair com ela, põe em ação as leis do equilíbrio, que estudou em Pouillet, além, enfim, o meu romântico Harry, em ceroulas, com fraldas à mostra, estirado em um sofá em tão bom uso, que ainda agora mesmo fez com que Zayn se lembrasse de Bocage. Oh! Vossas Senhorias tomam café! ... Ali o senhor descansa a xícara azul em um pires de porcelana... aquele tem uma xícara com belos lavores dourados, mas o pires é cor-de-rosa... aquele outro nem porcelana, nem lavores, nem cor azul ou de rosa, nem xícara... nem pires... aquilo é uma tigela num prato...
- Bebedeira! ... bebedeira!
- Ó moleque! – Prosseguiu Niall, voltando-se para o corredor. – Traze-me café, ainda que seja no recipiente em que o coas; pois creio que a não ser falta de louças, já teu senhor me teria oferecido.
- Bebedeira! ... bebedeira!
- Sim. – Continuou ele. – Eu vejo que vocês...
- Bebedeira! ... bebedeira!
- Não sei de nós quem mostra...
- Bebedeira! ... bebedeira!
Seguiram-se alguns momentos de silêncio; ficaram os quatro estudantes assim a modo de moças quando jogam o siso. Niall não falava, por conhecer o propósito em que estavam os três de não lhe deixar concluir uma só proposição, e estes, porque esperavam vê-lo abrir a boca para gritar-lhe: bebedeira!
Enfim, foi ainda Niall o primeiro que falou, exclamando de repente:
- Paz! Paz!
- Ah! Já? ... – Disse Zayn, que era o mais divertido.
- Niall é como o galego. – Disse um outro. – Perderia tudo para não guardar silêncio uma hora.
- Está bem, o passado, o passado; protesto não falar mais nunca na carapuça, nem nas cadeiras, nem no sofá, nem na louça do Zayn... Estão no caso .. sim...
- Hein? ... olha a bebedeira.
- Basta! Vamos a um negócio mais sério. Onde vocês vão passar o dia de Sant'Ana?
- Por quê? ... temos festa? – Acudiu Zayn.
- Minha avó chama-se Ana.
- Logo! ...
- Estou habilitado para convidá-los a vir passar a véspera e dia de Sant'Ana conosco na ilha de Paquetá
- Eu vou. – Disse prontamente Zayn.
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O moreninho - l.s
RomanceHarry era um jovem namorador e inconstante no amor. Depois passar alguns dias na ilha de Paquetá, seu coração poderá passar a ter apenas um dono. Adaptação do livro: A moreninha de Joaquim Manuel de Macedo.