VI- Harry com seus amores

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Poucos momentos depois da cena antecedente, a sala de jantar ficou entregue unicamente ao insaciável Keblerc, que entendeu, não sabemos se mal ou bem, que era muito mais proveitoso ficar fazendo honras a meia dúzia de garrafas de belo vinho do que acompanhar as moças, que se foram deslizar pelo jardim. Outro tanto não fizeram os rapazes, que de perto as acompanharam, assim como pais, maridos e irmãos, todos animados e cheios de prazer e harmonia, dispostos a acabar o dia e entrar pela noite com gosto.

Mas dissemos que não sabíamos se Keblerc havia feito bem ou mal em não imitar os outros. Sem dúvida já fomos condenados por homem de mau gosto, cumpre-nos dar algumas razões. Entendemos, cá para nós, que por diversos caminhos vão, tanto o alemão como os rapazes, a um mesmo fim.

Em resultado, esgotadas as garrafas e terminado o passeio, haverá bebedeira, não só na sala do jantar, mas também no jardim; a diferença é que uma será embriaguez de vinho e a outra de amor. Esta última costuma sempre ser mais perigosa. Pela nossa parte confessamos que não há cachaça que embebeda mais depressa do que uma que se bebe nos olhos travessos de certas pessoas.

Passeava-se. Cada cavalheiro dava o braço a uma senhora, e, divagando-se assim pelo jardim, o dicionário das flores era lembrado a todo o momento. Menina havia que, apenas algum lhe dizia, apontando para a flor:

- Acácia!

- Sonhei com você! – Respondia logo.

- Amor-perfeito!

- Existo para ti só! – Tornava imediatamente.

E o mesmo fazia a respeito de todas as flores que lhe mostravam. Era uma doutora de magistrado e capelo em todas as ciências amatórias; e esta menina era, nem mais nem menos, aquela lânguida e sonsinha D. Gigi. Fiai-vos nas sonsas!

Dois moços, porém, andavam, como se costuma dizer, solteiros; cem vezes dele se aproximava o sujeito, Harry, mas o belo menino, quando mais perto o via, saltava, corria, voava como um beija-flor, como uma abelha ou, melhor, como um doidinho. Eram eles Louis e Harry.

Harry passeava só, contra a vontade; Louis, por assim o querer.

Harry viu de repente todos os braços engajados. Duas senhoras, a quem se dirigiu, fingiram não ouvi-lo, ou se desculparam. O inconstante não lhes fazia conta, ou, antes, queriam, tornando-se difíceis, vê-lo cortejá-las; porque, desde o programa de Harry, cada uma delas entendeu lá consigo que seria grande glória para qualquer, o prender com inquebráveis cadeias aquele capoeira do amor, e que o melhor meio de o conseguir era fingir desprezá-lo e mostrar não fazer conta com ele. Exatamente intentavam batê-lo por meio dessa tática poderosa, com que quase sempre se triunfa da mulher, isto é, pouco a pouco.

Louis, pelo contrário, havia rejeitado dez braços. Queria passear só. Um braço era uma prisão e o engraçado Moreninho gosta, sobretudo, da liberdade. Ele quer correr, saltar e entender com os outros; agora adiante de todos, e daqui a pouco ser o último no passeio: vivo, com seus olhos sempre brilhantes, ágil, com seu pezinho sempre pronto para a carreira; inocente para não se envergonhar de suas travessuras e criado com mimo demais para prestar atenção aos conselhos de seu irmão, ele está em toda a parte, vê, observa tudo e de tudo tira partido para rir-se: em contínua hostilidade com todas aquelas que passeavam com moços, de cada vista d'olhos, de cada suspiro, de cada palavra, de cada ação que percebia tirava motivo para seus epigramas; e, inimigo invencível, porque não tinha travo por onde fosse atacado, era por isso temido e acariciado. Deixemo-lo, pois, correr e saltar, aparecer e desaparecer ao mesmo tempo; nem à nossa pena é dado o poder acompanhá-lo, que ele é tão rápido como o pensamento.

Finalmente, o pobre Harry encontrou uma senhora que teve piedade dele. Estão afastados do resto da companhia; conversa. Vamos ouvi-los:

- Com efeito – Disse a Sra. D. Ana – Devo confessar que me espantei ouvindo-o sustentar com tão vivo fogo a inconstância no amor.

- Mas, minha senhora, não sei por que se quer espantar! É uma opinião.

- Um erro, senhor! Ou, melhor ainda, um sistema perigoso e capaz de produzir grandes males.

- Eis o que também me espanta!

- Não senhor, nada há aqui que exagerado seja; rogo-lhe que por um instante pense comigo: se o seu sistema é bom, deve ser seguido por todos; e se assim acontecesse, onde iríamos assentar o sossego das famílias, a paz dos esposos, se lhes faltava a sua base - a constância?

Harry guardou silêncio e ela continuou:

- Eu devo crer que o Sr. Harry pensa de maneira absolutamente diversa daquela pela qual se explicou; consinta que lhe diga: no seu pretendido sistema, o que há é muita velhacaria; finge não se curvar por muito tempo diante de beleza alguma, para plantar no amor-próprio das moças o desejo de triunfar de sua inconstância.

- Não, minha senhora, o único partido que eu procuro e tenho conseguido tirar é o sossego que há algum tempo gozo.

- Como?

- É uma história muito longa, mas que eu resumirei em poucas palavras. Com efeito, não sou tal qual me pintei durante o jantar. Não tenho a louca mania de amar um belo ideal, como pretendi fazer crer; porém, o certo é que eu sou e quero ser inconstante com todos e conservar-me firme no amor de um só.

- Então o senhor já ama?

- Julgo que sim.

- A uma moça?

- Um rapaz.

- Sem dúvida a de ser belo!

- Creio que deve ser.

- Pois o senhor não sabe?

- Juro que não.

- O seu semblante?

- Não me lembro dele.

- Mora na Corte?

- Ignoro-o.

- Vê-o muitas vezes?

- Nunca.

- Como se chama?

- Desejo muito sabê-lo.

- Que mistério!

- Eu devo mostrar-me grato à bondade com que tenho sido tratado, satisfazendo a curiosidade que vejo muito avivada no seu rosto; e pois, a senhora vai ouvir o que ainda não ouviu nenhum dos meus amigos, o que eu não lhes diria, porque eles provavelmente rir-se-iam de mim. Se deseja saber o mais interessante episódio da minha vida, entremos nesta gruta, onde praticaremos livres de testemunhas e mais em liberdade.

Eles entraram.

Era uma gruta pouco espaçosa e cavada na base de um rochedo que dominava o mar. Entrava-se por uma abertura alta e larga, como qualquer porta ordinária. Ao lado direito havia um banco de relva, em que poderiam sentar-se a gosto três pessoas; no fundo via-se uma pequena bacia de pedra, onde caía, gota a gota, límpida e fresca água que do alto do rochedo se destilava; preso por uma corrente à bacia de pedra estava um copo de prata, para servir a quem quisesse provar da boa água do rochedo.

Foi este lugar escolhido por Harry para fazer suas revelações à digna hóspeda. O estudante, depois de certificar-se de que toda a companhia estava longe, veio sentar-se junto da Sra. D. Ana, no banco de relva, e começou a história dos seus amores.

Notas:

Olá pessoinhas.

Eu queria muito pedir que vocês rezassem pelas famílias dos jogadores, jornalistas, dirigentes, pilotos e comissários que faleceram no trágico acidente de ontem. Infelizmente eles se foram de uma forma tão triste...

E pegando o gancho desse acidente, eu queria pedir que vocês também tirassem alguns minutos do seu dia para mandarem energias positivas para os países que estão em guerra, para as pessoas que vivem com medo do que pode acontecer no próximo minuto.

Agora falando de coisa boa, LIAM PAYNE VAI SER PAAAAAAIIIII!!!!!!!! Eu to tão feliz por ele, sério, ele deve estar tão animado e feliz. E eu quero pedir que vocês respeitem a Cheryl, a gente pode até não shippar, mas devemos ter respeito.

É isso gente, beijinhos e um mega abraço.

P.S.: O cap ficou pequeninho, então talvez eu volte essa semana de novo.

Jê.

O moreninho - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora