XXIII - A Esmeralda e o Camafeu

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Senhor Louis passou uma noite cheia de pena e de cuidados, porém já menos ciumento e despeitado; a boa avó livrou-o desses tormentos; na hora do chá, fazendo com habilidade e destreza cair a conversação sobre o estudante amado, disse:

- Aquele interessante moço, Louis, parece pagar-nos bem a amizade que lhe temos, não entendes assim?

- Minha avó... eu não sei.

- Dize sempre, pensarás acaso de maneira diversa?

O menino hesitou um instante, e depois respondeu:

- Se ele pagasse bem, teria vindo domingo.

- Eis uma injustiça, Louis. Desde sábado à noite que Harry está na cama, prostrado por uma enfermidade cruel.

- Doente?! – Exclamou o lindo Moreninho, extremamente comovida. – Doente? Em perigo?

- Graças a Deus, há dois dias ficou livre dele; hoje já pôde chegar à janela, assim me mandou dizer Niall.

- Oh! Pobre moço! Se não fosse isso teria vindo ver-nos!

E, pois, todos os antigos sentimentos de ciúme e temor da inconstância do amante se trocaram por ansiosas inquietações a respeito de sua moléstia.

No dia seguinte, ao amanhecer, o amoroso menino despertou e, buscando o toucador, há uma semana esquecido, fez um topete em seus cabelos, vestiu o estimado terninho branco e correu para o rochedo.

- Eu me alinhei. – Pensava ele. – Porque, enfim... hoje é domingo e talvez... Como ontem já pôde chegar à janela, talvez consiga com algum esforço vir ver-me.

E quando o sol começou a refletir seus raios sobre o liso espelho do mar, ele principiou também a cantar sua balada:

"Eu tenho quinze anos,

E sou moreno e lindo"

Mas, como por encanto, no instante mesmo em que ele dizia no seu canto:

"Lá vem seu barco

Cortando leve os mares"

Um lindo barco apareceu ao longe, voando com asa intumescida para a ilha.

Com força e comoção desusadas bateu o coração a Sr. Louis, que calou-se para só empregar no batel que vinha atentas vistas, cheias de amor e de esperança. Ah! Era o batel suspirado.

Quando o ligeiro barquinho se aproximou suficientemente, o belo Moreninho distinguiu dentro dele Harry, sentado junto de um respeitável ancião, a quem não pôde conhecer; então, ele vendo que chegavam à praia, fingiu não tê-los sentido e continuou sua balada:

"Enfim, abica à praia

Enfim, salta apressado..."

Harry, com efeito, saltava nesse momento fora do barco, e depois deu a mão a seu pai, para ajudá-lo a desembarcar; e Sr. Louis, que ainda não mostrava dar fé deles, prosseguiu seu canto, até que, quando dizia:

"Quando há de ele correr

Somente pra me ver..."

Sentiu que Harry corria para ele.

Prazer imenso inundava a alma do menino, para que possa ser descrito; como todos preveem, a balada foi nessa estrofe interrompida e Sr. Louis, aceitando o braço do estudante, desceu do rochedo e foi cumprimentar o pai dele.

O moreninho - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora