XVIII - Achou Quem o Tosquiasse

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Escutando aquelas inesperadas palavras que o chamavam para a mesma posição em que ele tinha colocado as quatro moças, Harry voltou-se de repente e viu no fundo da gruta o interessante Moreninho, que enchia o copo de prata.

- Meu senhor! – Balbuciou o estudante, confuso.

Sr. Louis respondeu-lhe primeiro com o seu costumado sorriso, e depois assim:

- Não se dirá que um homem zombou impunemente de quatro senhoras; um outro toma o cuidado de vingá-las. Sr. estudante, eu também sou adepto ao culto desta fada e vou invocá-la em meu auxílio.

O menino travesso bebeu em seguida a estas palavras o seu copo d'água e depois, imitando o estilo de Harry, que se achava junto dele, disse:

- Quereis que vos fale do passado, do presente ou do futuro?

- De todas essas épocas... ao menos para ouvir por mais tempo os vaticínios e palavras de tão amável Sibila.

- Pois então principiemos pelo passado. Oh! Que belas revelações me fez a fada! Sim, eu estou lendo no livro da vossa vida, estou vendo tudo, estou dentro do vosso espírito e de vosso coração!

- Oh! Sim, eu juro que isso é verdade. – Atalhou o estudante.

O menino fingiu não entender a alusão e continuou:

- Senhor, vós amastes muito cedo... creio... sim, foi de idade de treze anos.

Harry recuou um passo; ele prosseguiu:

- Amastes, sim, a um menino de sete anos, com quem brincastes à borda do mar.

- E quem era ele? Como se chamava? – Perguntou Harry com fogo, talvez pensando que Sr. Louis estava, com efeito, adivinhando e podia dizer-lhe o que ele mesmo ignorava.

- Posso eu sabê-lo? – Respondeu o Moreninho. – A fada só me diz o que se passou em vosso coração e vós, por certo, que também não sabeis quem era esse menino e só a conheceis pelo nome de meu esposo.

- Prossiga, meu senhor!

- Poderia eu contar-vos uma longa história de velho moribundo, esmeralda, camafeu, mas basta de vosso esposo; permiti que vos diga que mostrava ser uma criança doidinha, que cedo começava a fazer loucuras.

- Que cruel juízo!

- Oh! Não vos agasteis; eu a respeito também, em atenção a vós, porém, vamos acabar com o vosso passado. Houve um tempo em que quisestes figurar entre os amigos como galanteador de damas e rapazes, e por justo e bem merecido castigo fostes desgraçado: todas eles zombaram de vós!

E o menino interrompeu-se, para rir-se da cara que fazia Harry.

- Ora, por esta não esperava eu. – Disse o estudante.

- A primeira jovem que cortejastes foi uma moreninha de dezesseis anos, que jurou-vos gratidão e ternura, e casou-se oito dias depois com um velho de sessenta anos! Não foi assim?

E o menino, de novo, desatou a rir.

- Meu senhor, de que gosta tanto?

- Ora! É que a fada está-me dizendo que ainda em cima vossos amigos, quando souberam de tal, deram-vos uma roda de tapas na cabeça!

- Então a Sra. D. Ana lhe contou tudo isso?

- Juro-vos, senhor, que minha avó não me fala em semelhantes objetos. Consenti que eu continue. O segundo foi um jovem coradinho, a quem em uma noite ouvistes dizer num baile que éreis um pobre menino com quem ele se divertia nas horas vagas, não foi assim?

O moreninho - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora