XX - Primeiro domingo: ele marca

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Harry madrugou, e muito; quando a aurora começou a aparecer, já ele havia vencido meia viagem e seu desejo era ir acordar na ilha, uma pessoa que tinha o mau costume de dormir até alto dia; por isso instava com os seus remeiros para que forcejassem; e, enquanto seu barco se deslizava pelas águas, rápido como uma flecha pelos ares, ele o acusava de pesado, de vagoroso; tinha há muito descoberto a ilha de Paquetá e; os objetos foram pouco a pouco se tornando mais e mais distintos; viu a casa, viu o rochedo em que outrora a tamoia deveria ter cantado seus amores e de sobre o qual cantara, há oito dias, Sr. Louis a sua balada; depois distinguiu sobre esse rochedo negro um ponto, um objeto branco, que foi crescendo, sempre crescendo, que enfim lhe pareceu uma figura de menino, que ostentava roupas brancas. Depois ele tinha desviado um pouco os olhos; quando os voltou de novo para o rochedo, a figura branca havia desaparecido como um sonho.

Enfim o batelão abordou na ilha; Harry correu a casa de que tantas saudades sofrera; todos já se tinham levantado; ninguém dormia, Sr. Louis estava vestido de branco.

- Eu lhe agradeço bem, Sr. Harry. – Disse a Sra. D. Ana, depois dos primeiros cumprimentos. – Eu lhe agradeço a sua boa visita; nós temos passado oito dias de nojo, e foi preciso que Niall nos trouxesse a notícia de sua vinda, para reviver nossa antiga alegria; Louis, por exemplo, desde ontem à noite já tem estado sofrivelmente travesso.

- Eu, minha avó, sempre tive fama de desinquieto e prazenteiro; e se ontem me adiantei, foi porque chegou-me um companheiro para traquinar comigo.

- Não o negues, menino; tens estado melancólico e abatido toda esta semana; eram saudades da agradável companhia que tivemos. Que eram saudades conheci eu pelos suspiros que soltavas e também não vai mal nenhum em confessá-lo.

Sr. Louis voltou o rosto. Harry arregalou os olhos e sentiu que a ventura lhe inundava o coração.

- O mesmo por lá nos sucedeu. – Disse Niall tomando a palavra. – Estivemos todos carrancudos e, seja dito em amor da verdade, Harry, mais do que nenhum outro, gostou de nosso trato e nossa companhia; realmente foi ele que o mostrou sofrer maiores saudades.

- É verdade, Sr. Harry? – Perguntou a boa hóspeda.

- Minha senhora, a visita que vim ter o gosto de fazer é a melhor resposta que lhe posso dar.

Sr. Louis tinha os olhos em um livro de música, mas seus ouvidos e sua atenção pendiam dos lábios de Harry; ouvindo as últimas palavras do estudante, ela sorriu brandamente.

- De que estás rindo, Louis? – Perguntou Niall.

- De um engraçado pedacinho da cavatina do Fígaro, no Barbeiro de Sevilla.

Então ele examinou o livro e viu que havia mentido, porque o que tinha diante de seus olhos era uma coleção de modinhas do Laforge.

Duas horas depois serviu-se o almoço. Mas, durante essas duas horas, que se passaram muito depressa, Harry teve de agradecer as obsequiosas atenções da avó de Niall, que dizia ter por ele notável predileção, e também de reparar com esmero e minuciosidade no objeto de seus recentes cultos. Em resultado de suas observações concluiu que Sr. Louis estava bonito como dantes, porém, mais lânguido; que às vezes reparava suas indiscrições e que outras, quando mais parecia ocupar-se com seus alegres trabalhos, olhava-o furto, com uma certa expressão de receio, pejo e ardor, que a embelecia ainda mais.

Durante o almoço a conversação divagou sobre inúmeros objetos; finalmente teve de ir bulir com um pobre lencinho que estava na mão de Sr. Louis, e que, se aí não estivesse, passaria desapercebido.

- Eu julgo que ele está trabalhoso e perfeitamente marcado. – Disse H.

- É ir muito longe. – Respondeu o menino. – Aí o tem, observe-o de mais perto; repare que barafunda vai por aqui.

O moreninho - l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora