O tempo passa. (6)

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  Breno ficou alguns dias no hospital, tomou vários remédios, foi visitado por uma psicóloga e depois foi para a casa de Samuel que estava vivendo com a irmã, por muitos dias ele mal saia do quarto, não conversava com quase ninguém e apenas encarava o chão.

  Antônia ia todos os dias visitar o filho, dois meses depois de tudo, o médico confirmou que Breno teria que conviver com a aids pelo resto da vida, tomando coquetéis de remédios para se manter vivo, era a pior coisa que estava acontecendo com eles.

  Três meses depois Breno voltou para a escola, mas tudo era muito diferente para ele, pois quando soube da doença que tinha, que ela o deixa mais vulnerável a outras doenças e que poderia ser passada, ficou com medo de passar para as pessoas ao seu redor, Breno não era mais comunicativo, passou a sentar no canto e nem mesmo falava com seu melhor amigo Kaio. Além de ter que ficar indo ao hospital e de tomar remédios para amenizar os efeitos da doença e não correr o risco de ser internado, Breno ia ao psicólogo toda semana, tudo havia mudado em sua vida.

  Quanto a José, ele foi preso, condenado pelo estrupo de várias mulheres em outro estado e pela morte e abuso de crianças que foram encontradas mortas em seu quintal. No presídio os presos se revoltaram com todos os crimes que ele cometeu e assim que ele chegou no local,  foi morto.

  O tempo foi se passando, Breno jamais seria o mesmo de antes, mas apesar disso ele começou a aprender a conviver com o sofrimento e a doença, se distraia nos estudos, manter sua mente ocupada com questões complicadas de várias matérias, o fazia esquecer um pouco das coisas ruins, Samuel dava todo o apoio possível para o filho e tentava fazer todas as suas vontades, Antônia também, mas ela ficou tão triste com o ocorrido que entrou em depressão durante o primeiro ano, obviamente não contou para Breno, ela não queria deixar o menino ainda mais triste.

  A vida se tornou uma prisão para Breno, ele cresceu se afastando de todos, começou a fazer um monte de cursos com o único propósito de estar sempre ocupado, sem tempo para pensar em assuntos pessoais, só conversava com Antônia e Samuel, nem a psicóloga ele queria continuar vendo.

  Quatro anos depois... Breno decidiu entrar para a faculdade de administração e conseguiu uma bolsa integral. As lembranças do passado eram a sombra de Breno, não havia como esquecer tudo, mesmo assim ele decidiu seguir em frente, com uma mínima esperança de chegar lá na frente e talvez encontrar a tal da felicidade, assim, por acaso.

  Durante a faculdade, Breno continuou a se auto excluir, muitos alunos tentavam falar com ele, por causa de sua inteligência, mas como sempre eram praticamente ignorado, passaram a nem tentar falar com o rapaz. Breno tinha medo de se aproximar das pessoas e ter de contar sobre sua doença, de seu terrível passado, para ele era mais fácil rejeitar elas e parecer rude.

  Aos vinte e um anos Breno se formou, Antônia e Samuel ficaram orgulhosos, pensaram até que depois disso o rapaz poderia melhorar e voltar a interagir com outras pessoas, mas justo nessa época Breno os chamou para uma conversa séria, todos se sentaram na mesa da casa de Samuel.

- Podemos saber o motivo de nos ter chamado aqui? -perguntou Antônia que estava cheia de fios de cabelo branco.

- Sim... queria dizer que são ótimos pais, que me ajudaram muito, amo vocês, mas estou indo embora. -eles ficaram surpresos em ouvir Breno dizer isso.

- Como assim filho? para onde? fazer o que?

- Não é muito longe, consegui um emprego em uma região nobre de Santo André, vou começar a viver sozinho lá, sou adulto, sei me cuidar, vai ser bom para mim, já decidi. -Breno parecia firme com suas palavras.

- Ok... a decisão é sua, mas a hora que quiser voltar, ficaremos feliz em o receber. -afirmou Antônia.

- Obrigado.

  Breno não disse, mas só queria poupar seus pais de cuidar dele pelo resto da vida. Poucos dias depois ele foi embora, comprou uma casa pequena, com o terreno grande e começou a trabalhar em uma empresa na área administrativa.

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