Assim que cheguei das compras, a família me esperava ansiosamente reunida na sala de jantar. Meus tios e minhas tias todos arrumados elegantemente, coisa difícil de se ver por ali, todos gostavam de simplicidade. Subi as escadas e quando estava quase no terceiro degrau, minha tia Ana grita ‘’– Clarice se apresse, estamos nos atrasando ! ‘’. Apressei mais ainda os meus passos, entrei no quarto e voei para o chuveiro.
Aproveitei para usar uma das novas roupas que eu tinha comprado, soltei o cabelo que estava preso em um coque, e passei um batom vermelho que tinha ganhado do meu pai nas férias de verão. Fui descendo as escadas devagar, até que todos na sala param e ficam me olhando dos pés a cabeça, um dos meus priminhos me elogiou e disse que eu estava parecida com minha mãe.
É demorou um pouco até que todos parassem de me olhar daquele jeito, elogiaram as roupas, os sapatos, e o batom. Eram tantos elogios um atrás do outro que me deixavam sem graça, e sem saber como reagir.
Entramos no carro, e quem iria dirigir dessa vez seria tia Lucia. Rimos muito com ela dirigindo, ela ainda estava pegando os jeitos de dirigir, mas era impossível de conter os risos.
Chegamos no restaurante, e fomos direto á mesa reservada, era um restaurante fino, muitas pessoas elegantes lá. Passeio os olhos pelo salão do restaurante, e sinto alguém me observar, eu tentava procurar esse olhar que me incomodava, mas era impossível.
Quando finalmente achei, minha tia fez questão de tapar a visão com o cardápio na minha cara. Desisti de vez de procurar quem seria, mas ainda continuava a sensação de estar sendo observada. Então fiz uma lista de quem poderia ser, pensei no menino do shopping, poderia ser amigos dele, mas não conhecia muitas pessoas suficientes para fazer uma lista.
A comida que pedimos chegou a mesa. Todos comendo e conversando, mas as vozes sumiam em minha cabeça, pois os meus pensamentos silenciavam todas as vozes. Estava sentada na ponta da mesa, quando alguém de terno, alto, passa por mim. E na hora uma onda de arrepios passa pelo meu corpo. Eu procuro essa pessoa, mas ela some em meio as mesas do restaurante.
Terminamos o jantar com um brinde. Meu tio decidiu que voltaria dirigindo pois a tia Lucia exagerou na bebida, ele foi buscar o carro no estacionamento, estava tomando conta dos meus priminhos enquanto minhas tias davam uma volta pelo parque de fora do restaurante. Até que escuto uma voz, grossa, familiar que não conseguia reconhecer, falava suavemente meu nome, como se estivesse sussurrando em meu ouvido. Olhei assustada para todos os lados, procurei a tal voz e de onde vinha. Mas não havia mais ninguém naquele local, além de mim e meus primos.
Minha tia grita meu nome, vou correndo com meus primos para entrar no carro, não aguentava mais aquele lugar, era esquisito, e estava começando a me assustar.
Entramos no carro, tentei pensar em algo que parece convincente ao que aconteceu ali, mas o volume do som do carro conseguia ser maior do que meus pensamentos. Deixei pra lá, e decidi deixar a musica mais alta que os problemas como costumo fazer. Mas aquele homem, aqueles olhares que me perseguiam, e aquela voz ainda eram muito suspeitas para mim.