Que Comecem Os Jogos!

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Quando ele me entrega o saco de pão de queijo, faço mentalmente uma conta de quanto tempo tenho que enrolar comendo para que não precise falar nada.  Mas acho que não vai funcionar,  ele pega sua parte, abre a embalagem do canudo e começa a comer lentamente. Minha cabeça está tão a mil,  que encaro ele por uns longos cinco minutos, mas ele parece bem concentrado em comer cada pedaço do seu lanche.
- Come antes que esfrie. -  ele me olha - amo pão de queijo, mas frio não rola.

Eita, adiciono mais uma a lista das coisas em comum. Pego meu saquinho e começo a comer um pouco esbaforida. O que será que ele quer comigo?

-Então, acho que eu preciso de você!- me engasgo ao escutar o que ele diz ao mesmo tempo que levanto a cabeça bruscamente.
- Como assim precisa de mim?
- Ei,  fica calma tá,  não é nesse sentido! -  ele ergue as mãos em forma de defesa. - Não estou indo bem com os estudos e preciso de monitoria, andei conversando com meu tio e ele disse que achava melhor eu pedir a sua ajuda já que vamos prestar o mesmo vestibular e praticamente para mesma área.
- Ah, entendo. - fico frustrada e não sei se consigo disfarçar muito bem. -  Acho que pode ser legal. No que você é bom? - depois que as palavras sairam de minha boca que eu penso nos inúmeros sentidos que essa frase tem.
- Posso te garantir que sou bom em muitas coisas dona Julia, mas nenhuma que eu possa te mostrar agora.  -  ele diz com uma cara safada e uma sobrancelha levantada. -  Você ainda não está pronta...
- Não seja tão prepotente, perguntei que matéria você tem mais conhecimento. Já que vamos estudar juntos isso tem que ser uma troca, eu me garanto em História e redação, mas sou péssima em exatas. -  digo o mais formal possível para tentar esconder a vermelhidão em meu rosto.
- Ah seja mais divertida, vai! -  diz me olhando fundo nos olhos.  -  Okay! Posso te ajudar em exatas se você me ajudar em redação, sou péssimo.  Mas como não podemos zerar em nada, vamos ter que estudar muito.
- É a prova está chegando e eu ainda não me sinto preparada.
- Acho que é ansiedade o que está sentindo, por que meu tio me garantiu que não tem ninguém mais bem preparada que você. - ele diz com aquele olhar que parece tentar ler a minha alma. Eu fico sem graça novamente e abaixo a cabeça. - ei,  foi o que o "melhor professor e amigo"  disse. - ele diz me lembrando do que eu havia dito na nossa primeira conversa.
- Ele super estima a minha inteligência. Mas só sou uma boa aluna.
- Tenho certeza que é boa em muito mais. -  ele diz como se falasse consigo mesmo. E eu finjo não ter entendido.
- Desculpa você falou alguma coisa?
- Que você deve ser mesmo boa aluna pro meu tio te elogiar tanto. -  ele diz sem graça tentando disfarçar o que disse e algo em suas palavras faz meu coração acelerar.
-Nem deve ser assim... Você está exagerando.
- De verdade, acredite.  Ele fala muito sobre você,  do quanto Julia é inteligente ou A única a saber a resposta foi a Julia e ela nem gosta da minha matéria,  Julia é muito dedicada, Ela tá determinada a passar.  Ela tem um grande futuro. - diz ele imitando a voz do Alex.
- E isso parece te incomodar muito. - olho para ele com minha melhor cara de dúvida.
- Incomodava antes de eu te conhecer. -  ele me olha e meu coração parece derreter dentro do peito.
- Só trocamos meia dúzia de palavras.  Tenho certeza que não me conhece nem um pouco.
- Isso é verdade,  mas não muda o fato de eu um ótimo observador.  -  ele me lança um olhar me convidando a entrar no seu jogo. E eu me lanço de cabeça.
- E o que o exímio observador sabe sobre mim? -  me arrumo na cadeira e coloco os cotovelos em cima da mesa. Ele para por um momento olha o meu decote, sobe para minha boca e fixa o olhar nos meus olhos. Isso me deixa nervosa e eu mordo os lábios entrando cada vez mais no seu jogo.
- Que você adora pão de queijo, não se separa de suas amigas, veio do interior, quer cursar propaganda na mesma faculdade que eu,  é determinada, inteligente, linda... - ele diz a ultima parte lentamente olhando parte por parte do meu corpo que a mesa deixava visível. -... e por algum motivo, eu a deixo nervosa. -  meu corpo reage instantaneamente ao ouvir o que ele diz, mas não demonstro. Eu vou ganhar esse joguinho Pedro.
- Não seja prepotente, não é você que me deixa nervosa. Tem muitas coisas acontecendo em minha vida de uma vez só. E garanto ao exímio observador que não é nada relacionado a ele.
- Que seja, mas que você se sentiu nervosa com a minha interferência hoje isso você não pode negar.
- Se você soubesse como é difícil ter uma conversa séria com a Kelly me daria razão.
- E essa conversa era sobre mim? - dou uma risada tentando disfarçar a surpresa por ele ter adivinhado.
- Ai Pedro, posso não ter o mesmo conhecimento em observação de pessoas como você, mas seu ego chega a me cutucar aqui do outro lado da mesa. -  ponto pra mim!
- Perto de você eu fico assim. - diz me encarando e eu entro no seu joguinho de quem pisca primeiro. 
Retorno a realidade com o toque do meu celular, mas sinto o olhar de Pedro ainda me encarando.  Quando olho na tela vejo o nome do Maurício estampado junto com uma foto nossa, atendo meio sem vontade. Meio não, sem total vontade, mas tenho que resolver isso.
" Fala"
"Eita amor, isso é jeito de atender seu futuro marido?"
" Olha Maurício, não estou podendo falar agora, te ligo mais tarde. "
" Como sempre ocupada, isso vai lá curtir a vida e continua me deixando aqui sozinho, to tendo varias aulas com as suas amiguinhas daqu..."
Desligo a ligação na cara dele, não preciso ficar escutando essas coisas dele. Quando olho para Pedro, ele esta com o celular na mão tentando disfarçar que ele também escutou o que Maurício disse.
Me levanto e digo que vou no banheiro, ele concente.  Vou andando em direção ao banheiro, pensando no porque meu namorado está me tratando assim, porque ele quer que eu fique presa naquela cidade pequena e sem nenhum futuro? Por que ele quer que eu desista dos meus sonhos?
Quando estou virando para entrar no corredor escondido onde fica o banheiro, sinto uma mão agarrar o meu braço e me puxar e eu acabo batendo com um corpo. Levo um susto e grito.
- MAIS QUE MERDA!

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