Oito horas o despertador toca e eu me levanto para ir ao curso. Tomo café da manhã sozinha na cozinha, depois um banho e saio de casa vou ter que passar no banco para sacar dinheiro, minha mãe deposita uma quantia para que eu viva sem ficar nas costas da minha tia.
Coloco meus fones de ouvido e ando pelo bairro, isso me acalma tanto. Tenho tempo para pensar em tudo o que acontece comigo quando ando. Penso no que senti ontem e decido que não foi nada, eu estava cansada e carente, e de taanto falarem da chegada dele eu acabei criando expectativa. Pronto foi isso. Nada demais!
Depois do banco, vou caminhando até o curso e no caminho passo por uma vitrine grande e observo uma moça linda dançar no canto da sala. NÃO ACREDITO QUE TEM UMA ACADEMIA DE BALLET PERTO DE CASA. Fico tão eufórica que grito comigo mesma, como eu nunca tinha reparado nisso? Como estou com tempo decido entrar e me informar sobre as aulas, falo com a recepcionista que é muito simpática, ela me tira todas as dúvidas e me informa que tem aula para avançados as 15:30 todas as quartas e sextas, decido por fazer essas e me inscrevo para uma aula teste amanhã. Ela me informa também onde posso comprar uma sapatilha porque a minha está na casa de minha mãe. Vou andando até a loja que ela me informou, fica num Shopping próximo ao pré. A loja é pequena e bem aconchegante, escolho uma sapatilha preta e acabo comprando um short saia lindinho também preto com detalhes em verde. Vou pro curso toda feliz e satisfeita com a minha decisão, amo dançar. É a primeira das três coisas que conseguem me acalmar no mundo, seguido pela música e por andar.
Estou tão feliz que acho que as pessoas percebem e sorriem pra mim e isso é uma coisa tão incrível, realmente a felicidade contagia. Chego no curso toda serelepe e adiantada, sento na minha cadeira e espero pela aula começar, tiro meu caderno e lápis mas continuo com os fones, depois de umas cinco músicas eu percebo que escrevi várias frases em uma folha do caderno. Realmente eu viajo e não percebo, as meninas tem total razão tenho que me policiar mais com isso, estou distraída demais ultimamente. Quando uma música acaba eu escuto um barulho na sala e quando olho procurando a origem dou de cara com aqueles benditos olhos azuis me olhando, ai meu senhor eu mereço? Dou um meio sorriso e me viro para olhar a tela do meu celular, ainda faltam uns trinta minutos para a aula começar e não quero ficar aqui sozinha com ele por esse tempo todo. Decido mandar uma mensagem para a Bruna e perguntar aonde ela está, estamos muito distantes essa semana e isso ta começando a me irritar. Tá, eu sei que não é isso que está me irritando, sei que o motivo que não é esse e sim essa encaração toda e num momento de toootal insanidade tiro meus fones e olho para onde ele está sentado, que não é longe o suficiente para o meu gosto.
- Então, eu estava pensando, a gente já se viu antes? - tento não olhar direto nos olhos dele - eu tô com essa sensação que já te conheço..
- Eu creio que não. - diz levantando e vindo em minha direção, ai meu pai o que eu fiz? Sua idiota devia ter ficado quieta. - Mas estou com essa mesma sensação, desde que te vi quase morrendo por chegar atrasada ontem. - tento disfarçar meu espanto e curiosidade, mas tem algo naqueles olhos que não consigo parar de olhar.
- É eu meio que me distrai em uma livraria aqui perto e perdi a hora. - não sei por que estou me explicando para ele, acho que o nervosismo está me fazendo tagarelar. - Esquisito isso né.
- Você acha? - diz rindo
- Você já tinha vindo ao Rio antes de se mudar?
- Não, minha família era muito ocupada com o trabalho e nunca tinha saído do estado de São Paulo, fiz minha primeira viagem pra fora da bolha Paulista a pouco tempo. - diz meio melancólico, fico tentada a perguntar o porque a família não é mais ocupada com o trabalho mas deixo pra lá, ele parece triste com o assunto.
- Entendi, eu nunca fui de viajar, nunca sai do país e o máximo que cheguei a ir foi a Espírito Santo num passeio da escola para o Parque Nacional do Caparaó. - digo tentando melhorar o humor dele.
- Então somos duas minhocas da terra! - diz rindo.
- Minhocas da terra? Da onde você tirou isso?
- Um amigo meu de São Paulo falava que eu era uma minhoca da terra porque nunca saia do buraco que eu morava.
- Pelo visto somos mesmo. Mas por pouco tempo, daqui a pouco você se forma em jornalismo e vai poder viajar o mundo todo escrever matéria e ainda esfregar na cara dele cada viagem. - digo tagarelando novamente.
- Com certeza vou, Julia! - diz rindo mas sem tirar os olhos de mim.
- Viu, sou uma pessoa de ótimos planos. - digo enquanto ele ri feito louco do que eu disse.
- E no que você quer se formar?
- Você promete não rir se eu falar? - digo séria.
- Não vai me dizer que quer ser uma profissional em planos malefícios de vingança? - ele fala com uma cara de preocupado - Ta bom, juro não rir do seu plano de carreira.
- Quero ser fazer publicidade e propaganda na Puc. - digo de cabeça baixa tentando disfarçar minha vermelhidão sem noção.
- Sério isso? - ele diz me fazendo olhar pra ele. E juro que ele parece olhar minha alma
- Sim, isso é sério. Pergunta ao seu tio, ele me ajuda a estudar desde que cheguei aqui. Ele é um ótimo amigo e professor.
- Então se tudo der certo vamos passar 4 anos estudando juntos depois daqui?
- Falando assim parece que você gostou da ideia... - digo realmente curiosa com a reação dele
- Gostar não é exatamente a palavra. - ele levanta e anda em direção a sua cadeira. Fico totalmente sem ação, será que falei algo errado? Antes dele sentar vejo um aluno passando por ele e percebo que a sala está quase cheia e imagino que esse seja o motivo dele ter se afastado. Como não vi toda essa gente entrar? Não dá cinco segundos e Bruna entra falando com o professor e se senta ao meu lado.
- Oi gostosa! Que cara é essa? - diz me analisando da cabeça aos pés.
- Oi Bru, depois a gente fala disso, o professor já vai começar.
Como se soubesse de tudo ela me olha e depois olha diretamente para Pedro, ela o encara por alguns segundos e depois retorna o olhar até mim como se fosse falar algo, mas desiste e olha para o quadro. As vezes acho que essa garota é como a Sibila Trelawney professora de adivinhação de Harry. A aula segue e dessa vez não sinto o olhar de Pedro em mim. Disfarço e olho em sua direção e vejo que ele parece alheio a aula enquanto escreve algo em seu caderno, me perco por um tempo analisando sua figura e como se percebesse ele levanta o olhar e nos encaramos pelo que juro parecer uma eternidade. Sou tirada do meu devaneio pelo sinal de saída. Junto minhas coisas e vou em direção do banheiro, dessa vez não espero nem por Bruna que me grita mas finjo não escutar. Entro no banheiro com um aperto enorme no coração, lavo meu rosto e encontro uma baia vazia sento no vaso sanitário e tranco a portinha a minha frente, preciso saber o que está acontecendo comigo. Escuto Bruna entrar xingando no banheiro e bater exatamente na baia onde estou.
- Pode abrir essa merda e começar a falar tudo dona Julia e não estou brincando. Abre essa merda agora!
- Ei calma tá, só estava muito apertada. Tomei um Frozen e estava me segurando a aula toda. - digo tagarelando para tentar disfarçar minha mentira
- E eu agora sou o Papai Noel? - diz usando seu poder de adivinhação, tenho certeza que ela é uma bruxa!
- Não sei do que você está falando. - digo passando por ela, lavo as mãos e pego minha bolsa e saio do banheiro apressada.
- Julia Albuquerque Ferraz pode parando ai. AGORA! - paro olhando para os lados vendo como juntamos uma plateia ao nosso redor.
- Bruna aqui não tá no caminho te conto tudo, só que agora não. - ela olha para os lados e percebe que tem bastante gente ao nosso redor
- Tudo bem. Mais não mente mais pra mim! - diz saindo e me deixando lá parada sozinha.
Sigo ela com uns poucos metros a distância passamos pelo corredor e vamos em direção ao quiosque encontrar as meninas. Detesto ficar assim com a Bru, mas não sei explicar minhas ações. De repente ela parar estática, sigo seu olhar e vejo o motivo que a fez parar, reconheço os cabelos loiros de Kelly a distância ela está agarrada com um cara e percebo que não é o babyprof, Bruna me olha sorrindo, meio confusa me aproximo dela e passo meu braço pela sua cintura incentivando a andar.
- Meninaaas nem vi vocês chegando, quero que conheçam o Giovane, meu vizinho. - ela diz enquanto passa a mão pelo braço dele num ato que ao meu ver é íntimo demais para "somente vizinhos" .
Olho meio confusa para ela e estendo a mão para cumprimentar o ser estranho a minha frente.
- Olá Giovane, eu sou Julia e essa estátua aqui é a Bruna. - digo dando uma leve e sutil cotovelada em uma Bruna congelada ao meu lado. Ainda não entendi o motivo dela estar assim.
- Oi, prazer. - Aleluia ela falou algo.
- Oi meninas, a Kell fala muito em vocês. - ele diz enquanto brinca com a mão de minha amiga.
- Giovane você me da licença um minutinho que preciso pegar uma coisa com minha amiga aqui, coisas femininas não se preocupe eu já devolvo ela pra você. - digo puxado a Kelly para o banheiro.
- Aii Ju você tá machucando meu braço.
- Que merda é essa Kelly, cadê o babyprof? - digo quando estamos em uma distância significativa para que ninguém nos escute.
- Não sei e nem quero saber. - ela diz alisando os cabelos.
- Como assim não quer saber?
- Eu e ele terminamos ok?
- Quando isso?
- Bem, já faz duas semanas mas eu tinha esperança que fosse só uma briguinha como as outras vezes, por isso não falei nada para vocês. - ela fala num tom triste que corta meu coração.
- E qual foi o motivo da briga dessa vez?
- Ele tá apaixonado por outra.
- Oi?
- É isso mesmo, ele sempre foi apaixonado por outra. Quando começamos a namorar ele jogou limpo comigo e disse que era apaixonado por uma outra pessoa que ele ficava antes, mas que ela não queria nada sério com ele.
- Ai meu Deus! E você sabe quem ela é? - tento não deixar meu espanto transparecer
- Não, mais seja quem for ele é completamente apaixonado por ela. Eu não a culpo, ele sempre foi sincero comigo.
- Nossa Kell, você tá bem?
- Tô, não é que eu não esteja sofrendo, eu estou, mas ele nunca mentiu pra mim e também, eu não tinha sentimentos fortes por ele a ponto de ficar realmente mal. Foi bom enquanto durou, só espero que ele se ajeite logo com essa mulher. Ele é um cara legal.
- É, ele é. - digo me afundando em pensamentos. E agora falo isso pra Bru? Conto a verdade pra Kell? Fico calada e deixo o destino agir? Oh Deus!
- Podemos voltar agora? Eu tenho um gatinho me esperando e acho que a Bruna não é uma boa companhia com aquele mal humor que está hoje. - dou um sorriso meio forçado e a sigo de volta para a mesa.
- Finalmente! Vamos Julia tava esperando você. Temos que ir fazer aquela coisa lá que sua tia pediu né?! - Realmente a Bruna é péssima mentirosa.
- É verdade! - digo olhando para a Kell - minha tia pediu ajuda da gente para arrumar o quartinho de costuras, ela ta ficando sem espaço para as coisas. Boa noite amiga e Giovane foi um prazer.
- Prazer é todo meu meninas.
- Kell dá um beijo na Fernanda por nós. - digo saindo da mesa e caminhando com Bruna até a saída.
Sei que ela está muito confusa, por isso deixo que ela se afunde em seus pensamentos, só ela pode decidir o que está sentindo e quando tiver pronta sei que ela irá falar. Chegamos na rua dela e dou um abraço bem apertado, desejo boa noite e deixo claro que ela pode me ligar a qualquer momento. Continuo meu caminho para casa e fico pensando em tudo o que a Kelly me disse, acho tudo uma loucura. Antes que eu entre na portaria do meu prédio escuto alguém me gritar.
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E agora, destino?
RomanceDestino é o nome que damos para os acontecimentos que não temos controle em nossas vidas. Mas para Julia, destino é um cara que está sentado atrás de uma mesa olhando para o painel de sua vida e fazendo com que ela mude totalmente os seus planos. A...